março 01, 2009

Confie no seu nariz! hehehe

Há um tempo atrás, quando administrava um fórum do seriado Heroes, ouvi falar de um livro de ficção sobre crianças com habilidades extraordinárias. O livro recebeu vários prêmios (compensando toda a polêmica do outro livro do autor, Versos Satânicos). Pois bem, eu nunca terminei de ler, mas com essa moda de Índia eu resolvi pegar o livro para dar uma olhada, porque lembrei do que ele falava sobre como um nariz grande seria tipo uma dádiva para os indianos. Através do nariz, poderíamos perceber as coisas do mundo externo que combinam ou não com o nosso mundo interno. Lembram de quando falei sobre ter olfato apurado? E terá isso alguma relação com a representação que fazem das bruxas com narigão? Rsrsrs! Mas então... Eis alguns trechos do texto, com grifos meus:
"Eu gostaria de deixar aqui registrada minha gratidão a esse formidável órgão (...). O nariz dele - só comparável à tromba do deus Ganesha, o de cabeça de elefante - anunciava de modo incontroverso seu direito a ser um patriarca. Foi Tai quem também lhe ensinou isso. Quando o jovem Aadam mal passara da puberdade, o arruinado barqueiro disse: "Esse é um nariz para dar início a uma família, principezinho. Não haverá engano quanto ao fundador da linhagem. Os imperadores mogóis teriam dado a mão direita por um nariz assim. Dentro dele dinastias estão à espera (...)".

Em Aadam Aziz, o nariz assumia um aspecto patriarcal. Em minha mãe, parecia nobre e um tantinho sofredor. Em minha tia Esmeralda, esnobe; em minha tia Alia, intelectual; em meu tio Hanif, era o órgão de um gênio frustrado; (...) em mim, entretanto... em mim, passou a ser outra coisa. Mas não devo revelar de uma vez todos os meus segredos. (...)

Tai deu um tapinha na narina esquerda de Aadam: - Sabe o que é isto, nakku? É o lugar onde o mundo de fora se encontra com o mundo que existe dentro da gente. Se eles não combinam, você sente aqui. Aí você, envergonhado, esfrega o nariz para fazer a coceira desaparecer. Um nariz como esse, seu idiotinha, é um grande dom. Ouça o que lhe digo: confie nele. Quando ele lhe der um aviso, preste atenção, ou você estará liquidado. Siga seu nariz e você há de ir longe. (...)

Certa vez conheci um oficial... no exército daquele Iskandar, o Grande. Não importa o nome dele. Ele tinha um pepino igual a esse seu, pendurado entre os olhos. Quando o Exército acampou perto de Gandhara, ele se apaixonou por uma sirigaita do lugar. Imediatamente, o nariz dele começou a coçar como doido. Ele coçava, mas não adiantava nada. Ele inalou os vapores de uma infusão de folhas de eucalipto. Nada, nada, baba! A coceira o deixava louco. Mas o bestalhão bateu pé e, quando o exército voltou para casa, lá ficou com a sua bruxinha. Ele se transformou... em quê?... numa coisa estúpida, nem isso nem aquilo, uma pessoa perdida no meio-termo, com uma mulher enjoada e uma coceira no nariz, até que por fim enfiou a espada na barriga. O que você acha disso?"

(Salman Rushdie, 'Os Filhos da Meia-Noite')

2 comentários:

  1. Ainda beeeeeeeeem que não tenho narigão, mas sou bruxa, e sou por demais olfativa kkkkkkkkkkkk...

    Mto bom o texto.

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  2. Engraçado esse negócio do nariz, eu até acho que meu nariz é bonitinho, mas não muito pequenininho como gostaria. Fiquei pensando no problema da coceira, sou alérgica e moro em São Paulo, então não sei se consigo ficar por muito tempo sem coçar o nariz. rsrs O que fazer nesses casos? Faca? Barriga? huahua

    Beijos

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