março 16, 2019

Recomeçando

Este ano observei algumas coisas com relação à abordagem que cada um dá aos deuses. Percebi quatro movimentos diferentes de quatro pessoas. Um não acredita que os deuses nos dão tudo o que pedimos, outro acredita que não importa o que ele resolva porque no final sai do jeito que os deuses queriam, outra acredita que toma bordoada quando erra, e outra acredita que os deuses sempre nos dão o que pedimos quando temos um bom relacionamento com eles. Da minha parte, percebi que essa resposta positiva se dava mais com posturas do que com ritos. Recentemente fiz um rito a Hermes (todo certinho, com sinais indicando sobre as ofertas, e até no dia e horário mais propícios) esperando um resultado o qual não tive de pronto, mas depois adotei atitudes que me levaram à resposta favorável que eu queria. Levar a energia da deidade para a vida foi mais eficaz do que uma comunicação ritual momentânea. Então talvez aquela primeira pessoa que citei não recebe o que pede porque falta levar pro cotidiano aquele sentimento e atitude próprias de alguém com uma boa conexão com o sagrado. E os outros três casos não se anulam entre si. 

Outra coisa com relação a essa questão de o que pedimos e o que recebemos também foi assunto de uma conversa atual. Muitas vezes o que precisamos para conseguir realizar as coisas necessárias ao nosso crescimento e evolução são provenientes de energias as quais costumamos temer. Hades, Ares, Poseidon, são exemplos de deuses que as pessoas têm medo, mas que realizam grandes coisas em nossas vidas se nos sintonizarmos e equalizarmos com eles. Grandes mudanças assustam, mas não se trata de deixar ser levada pelo maremoto, mas de aprender a surfar ondas gigantes. Às vezes precisamos violar uma embalagem para conseguir trazer pra fora o que tem dentro dela e o qual estamos há muito tempo querendo. Já citei em outro texto sobre como Ares te tira do sofá, e seguidamente falei como Poseidon sacudiu minhas estruturas, sem contar como Perséfone vira rainha após ser levada por Hades. Não são forças das quais sentir medo, mas ao mesmo tempo precisamos estar maduros para lidar com elas sem sermos levados na correnteza. Aproveitar essa zona do medo como uma ponte entre a zona de conforto e a zona de aprendizagem, no caminho para a zona de superação/realização. 

E, voltando ao ponto sobre o "fazer correto" para não "levar bordoada", me lembrei de uma dúvida que tiraram comigo este mês. Quiseram saber se poderiam relacionar o porquinho-da-índia a Apolo, já que ele é um roedor e os ratos são dEle. É preciso tomar certo cuidado com essas associações. Os ratos são ligados a Apolo por serem pragas e não por serem roedores (e fofinho) como o porquinho-da-índia. Além disso, se pesquisarmos as civilizações onde esse animal existia nos cultos (já que na Grécia antiga não encontramos registros), veremos que entre os incas o porquinho-da-índia era ofertado à deusa da terra e ao deus da montanha, o que, por um certo sincretismo mais intuitivo do que direto, poderíamos ligar a Deméter e Dioniso

Há outra questão sobre esse "conseguir o que pede" que também observei nessas últimas semanas. Uma pessoa pediu aos deuses algo que ela achava o melhor para a outra, mas não era o que a outra realmente queria para si. E, claro, acabou não dando certo. Apenas quando a primeira reconheceu que estava sendo influenciada por seus próprios sentimentos é que ela, eticamente, pediu a uma terceira que fizesse o rito pela segunda pessoa, por aquilo que esta realmente queria, e aí sim começou a dar certo. 

Esses movimentos todos de depoimentos e perguntas e de gente voltando a me procurar me fez sentir um retorno importante depois daquele tempo tentando estabilizar meus próprios movimentos. Consegui inclusive ler um livro que vou trazer a síntese aqui em uma próxima postagem. Sinto que as coisas vão aos poucos se assentando, e as marolas estão voltando a encontrar a praia, mesmo nesta cidade de instabilidades climáticas e garoinhas refrescantes. 

Voltei a ter sonhos dos quais percebia depois a sincronicidade deles com o relato de outros helenos. Estou tentando me reconstruir junto com o reconstrucionismo. Estou buscando novamente me tornar quem eu sou, como ensinava Píndaro. 

E espero que esse novo espiral de percepções e conexões me leve a escrever mais por aqui. 


[ PS.: O blog está com um layout diferentinho, arrumei para ficar mais clean e mais prático. ]