setembro 28, 2010

É nós no friso!

A organização grega Thyrsos lançou a primeira edição de sua revista IDEON ANTRON, com 60 páginas, e nela vocês encontram uma entrevista de 5 páginas comigo, representando o RHB.

Pode-se ler em grego no site da revista clicando AQUI (páginas 8 a 12).
A entrevista original em inglês pode ser lida clicando AQUI.
E a tradução em português a partir do inglês está disponível clicando AQUI.

Espero que gostem!

setembro 19, 2010

Coisas que me dão raiva (parte 3)

(parte 1) e (parte 2)
Inspirado em (ou suscitado por): Depois da Dança - Aquilo que se pode ofertar

Para 'variar', a terceira coisa que me dá raiva é também relacionado a estupidezes de pessoas que com certeza Platão colocaria no grupo ou dos ignorantes ou dos opiniáticos. Mais provável que neste último, já que eles não admitem desconhecer as coisas e sim dão suas sentenças em cima delas, baseados apenas em seus conceitos, preconceitos e achismos.

Alguns desses seres criticam quem compra comida pronta para ritual, porque - segundo eles - você não fez um sacrifício, e os deuses 'passariam longe' do seu rito. Eu não sei se essas pessoas ganham dinheiro sem sacrifício ou acham que cozinhar é uma droga, porque o meu é suado e pra mim culinária é um prazer.

Eu costumo usar as coisas que os deuses me apontam (além de saber quais aromas, plantas, símbolos, cores etc agradam a cada um deles). Imagina se você sugere discretamente ao seu amigo uma coisa pronta que você acha linda, dando a dica de ele comprar para você, aí ele vai e faz uma imitação ele mesmo. Não é a mesma coisa, você queria a que viu e não a que ele fez só porque ele teve o "sacrifício" de fazer sozinho. E nem vou passar longe do presente que ele me compra se ele batalhou pela grana que pagou pelo produto.

Esta semana eu comprei uma tigela com banho de prata, com alças tipo ânfora, com figuras que pareciam sereias de navio (com asas) abaixo das alças, lindíssima. Ela apareceu por acaso quando fui comprar verniz numa loja de construção. Isso pra mim é como os deuses me dando uma dica de como retribuir as milhares de coisas que Eles fazem por mim, e eu fico feliz de poder ser grata de alguma forma, com algo que Eles gostem e colocam na minha frente. Nessas horas eu não ligo se foi caro ou se o preço compensou o tamanho. Acho ridículo medir esse tipo de coisa quando é para os deuses que merecem o melhor que eu posso dar.

E não estou me contradizendo ao falar que usamos coisas simples e compradas, se essas coisas compradas forem mais elaboradas. Os deuses sabem o que podemos dar e o que eles querem receber. O aparato apareceu pronto na minha frente, não foi um amigo falando "encontrei alguém que faz réplica de metal pra gente" ou "encontrei um manual de fundição e uma forja para alugar". Eles sabiam que eu podia pagar por aquilo (que nem foi tão caro assim), e ao mesmo tempo eu poderia escolher não comprar, já que estava acompanhada (o que às vezes parece um teste de disposição/serviço), e cada vez menos eu deixo passar oportunidades ou fico com vergonha de alguma coisa. Aliás, faz muito tempo que não deixo passar, e já venho falando muito mais da minha crença com pessoas aleatórias do que antes.

Não sou dos que acham que os deuses só aceitam oferta em taça de cristal lapidado, mas também acho que deve-se ter respeito pelo relacionamento que vocês (indivíduo e deidade) têm. Isso significa seguir o que Eles estão te mostrando (incluso coisas para comprar) e respeitar quando Eles mostram algo para outra pessoa (não querer ficar imitando). Isso inclui não ficar perguntando pro seu amigo quanto custou e qual tamanho tinha o que ele conseguiu (como se medindo se vale a pena você comprar também quando a coisa não veio para você, sem contar quando é ele que vai ter que fazer tal serviço por você que não mora na mesma cidade).

Estava conversando com uma amiga sobre eu me irritar mais quando falam das pessoas que eu gosto do que de mim, então o post da Sarah e alguns comentários posteriores mexeram comigo a este ponto de vir falar aqui.

O que soa mais absurdo nisso tudo é pensar que esses sujeitos se acham uma espécie de "patrulha divina" e fica vendo foto dos ritos alheios para avaliar quem oferta o quê. Acredito que está na hora de eles olharem o seu, em vez de ficar 'curiando' os outros.

Essa postura de achar que um deus passa direto por uma oferta sem dar bola pro seu rito é ter uma visão muito servil (talvez resquício cristão) de deus, como se caso você não fizer direitinho você vai ter que se confessar e rezar tantas preces em penitência porque comprou a comida em vez de fazê-la. Nessas horas os deuses dessas pessoas não parecem os mesmos dos meus, porque os meus são pais, protetores, dedicados, orgulhosos donos dos 'bichinhos de estimação' que somos, que acham bonitinho quando você vai buscar o jornal e os chinelos deles, e não uma pessoa/deidade folgada sentada num trono observando e concedendo favores a alguém que fica ostentando (olha a hubris!) sua parafernália ritual em cristais dourados e dotes culinários excepcionalmente elaborados.


Piedade: amar a Ele (e não admirar a si mesmo).

Para os gregos (e tantas outras tradições), o certo é o métron, a justa medida, nada em excesso, a correção. Nisso constitui a virtude. O resto é vício. Então, nada de passar direto pelos sinais e fazer as coisas de qualquer jeito, mas também nada de achar que só vai "funcionar" se você fizer o que toma mais tempo e custa mais grana.

Com o tempo, você vai achando seu modo de saber onde é o ponto de equilíbrio da balança. Mas, para isso, como tudo na vida, a grande questão (e a grande resposta) é treinar. Só fazendo é que aprendemos a fazer, e isso requer prática constante, e não uma prática que fique esperando um dia que você tenha dinheiro e tempo para fazer. Lembrando os escoteiros, é preciso ficar "sempre alerta" e fazer uma 'boa ação' todos os dias...

setembro 12, 2010

Estado, política, eleições, cidadania, educação...

Como estamos em ano de eleição, resolvi comentar um pouco da reflexão que costumo fazer sobre a questão do Estado que Platão explicita em A República.

Sócrates dizia que formar um Estado não significava alcançar a felicidade de alguns, mas de todos, um cidade/unidade, e isso tem a ver com Princípios. Por isso, a Educação exerceria um papel fundamental, formando cidadãos íntegros, virtuosos, que respeitassem as leis, as regras, as normas, as tradições, os mais velhos etc. Um Estado perfeito deveria ter prudência, valor, temperança e justiça. E aí é preciso esclarecer o que cada um desses quatro princípios significa, já que precisamos definir as coisas antes de falar delas.

Prudência seria a sabedoria de acertar em suas deliberações, o que torna essa virtude essencial aos guardiões da cidade. Valor é a coragem e preservação de critérios sobre a natureza, uma virtude esperada nos guerreiros. Temperança é a harmonia, o equilíbrio, a ordem, o domínio das melhores partes sobre as inferiores (isso inclui dominar as paixões), virtude necessária à cidade inteira. Justiça é dar a cada um de acordo com sua natureza e merecimento, cada um fazer o que lhe compete por natureza e atos, ocupar-se do que é próprio, disciplinar-se, governar-se, ser amigo (e senhor) de si mesmo, harmonizar nous/psique/soma e sentir-se parte de uma unidade. A Justiça é uma virtude que todos e cada um deveriam seguir. Injustiça seria inverter os papéis, como esperar que um sapateiro vá para a guerra ou que um indivíduo irracional se transforme em líder.

Por essas coisas que imagino que hoje não temos um Estado. Para começar, os deputados não pensam no benefício de todos, cada um defende um segmento da sociedade o qual vota nele (professores, policiais, GLBT, evangélicos etc). Além disso, não temos uma educação de formação humana, e sim uma educação de formação intelectual/instrucional, na qual você só adquire conhecimento para passar em provas e entrar no mercado de trabalho; você não sai da escola uma pessoa melhor - boa, justa, equilibrada, virtuosa e tal. E o governo não demonstra ser justo, prudente, valoroso e com temperança.

Na Grécia Antiga (não em todas as pólis, mas na maioria delas), você precisava demonstrar por alguns anos o seu valor para poder receber o título de 'cidadão' (que pertence à 'cidade'), o que incluía o direito a votar. O que temos hoje é que qualquer pessoa que tire documento (certidão de nascimento) já passa a automaticamente a ser considerado cidadão, por mais vil que ela seja. E o voto, em vez de um direito concedido aos mais bem preparados, passou a ser obrigatório (um dever - nem sempre consciente) para todos.

Então eu sempre me entristeço ao ver o estado (sem Estado) em que nos encontramos. Para você ter uma ideia, os filhos dos guardiões do ideal platônico seriam considerados filhos de todos os guardiões, e criados por todos eles, assim evitar-se-ia o apego individualista; bem o contrário do tanto de nepotismo que temos hoje na política. Sócrates inclusive menciona que os ofícios não eram herdados, os filhos de guardiões sem aptidão eram deslocados a outros cargos e os filhos de outras classes poderiam se tornar guardiões. Muitas sociedades antigas tinham essa compreensão, de que cargo era questão de valor e não de parentesco.

Por isso também me irrito quando as pessoas pensam que o tempo melhora as coisas, que a modernidade é sinônimo de progresso. Nós melhoramos em tecnologia e talvez em tolerância, mas decaímos muito em humanidade e alma. Ainda assim, eu prefiro não acreditar no tal "bons tempos que não voltam mais" e imaginar que tudo é cíclico e um dia voltaremos a evoluir no que mais importa. Afinal, se o sonho do imperador Juliano não for só uma lenda, faltam apenas alguns séculos para a águia de Roma retornar do oriente e restituir-nos a cultura antiga do mediterrâneo...