tag:blogger.com,1999:blog-67162015959082111812024-03-13T18:42:02.613-03:00Sofá da ÁlexBlog pessoal sobre religiosidade e espiritualidade helênicas, voltado para quem se identifica com a religião politeísta grega antiga e procura praticá-la adaptada à realidade atual. Inclui vivências e experiências com os deuses da Antiga Grécia e outras deidades afins, suas conexões práticas e filosóficas. Abarca também a psicologia como autoconhecimento. Alexandrahttp://www.blogger.com/profile/11007700081991461118noreply@blogger.comBlogger174125tag:blogger.com,1999:blog-6716201595908211181.post-22402912340064321412020-05-09T14:40:00.000-03:002020-05-09T14:40:22.269-03:00Site novo<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://www.helenos.com.br/" target="_blank"><img alt="www.helenos.com.br" border="0" data-original-height="282" data-original-width="230" src="https://1.bp.blogspot.com/-J2GCyes_JxY/XrbqovdWzEI/AAAAAAAADaI/rLqEEhuY92ggOhKXQ3j5KR_2ag-ucCoTgCLcBGAsYHQ/s1600/bannerv.jpg" /></a></div>
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<i><span style="background-color: white; color: #222222; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-small;">
</span><span style="background-color: white; color: #222222; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-small;"><div style="text-align: right;">
"Será que você vai saber<br />
O quanto penso em você<br />
Com o meu coração?<br />
Quem está agora ao teu lado?</div>
</span><span style="background-color: white; color: #222222; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-small;"><div style="text-align: right;">
Quem para sempre está?</div>
</span><span style="background-color: white; color: #222222; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-small;"><div style="text-align: right;">
Quem para sempre estará?”</div>
</span><span style="background-color: white; color: #222222; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-small;"><div style="text-align: right;">
(Legião Urbana)</div>
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Ontem assisti à palestra de uma psicóloga sobre o tema do suicídio. Ela trouxe dados do tipo: de cada 17 pessoas que pensam em se matar, 5 traçam um plano de como vão fazer isso, 3 realmente tentam e 1 consegue. Então as estatística são sempre maiores nessas proporções. E as principais coisas que levam a esses pensamentos são 4 Ds: depressão, desespero, desesperança e desamparo. </div>
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Pra mim a desesperança vem atrelada à incerteza, a não saber o que vai acontecer, no que alguém está pensando em fazer, que decisão radical poderá tomar. Isso vai me trazendo o desespero e a depressão, e sentir desamparo é quase que inevitável quando a incerteza vem exatamente da única pessoa com quem você costuma contar. </div>
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Nessas horas a gente tem que <b>se apegar à energia de Perséfone para não sucumbir ao Hades</b>. Ela pode te fazer processar as coisas, enquanto que chegar nele não tem saída. O torpor do narciso que Perséfone colhia e sua ligação com as coisas ocultas podem te ajudar a conhecer outras formas de consciência, ainda que despertas e racionais. Precisamos <b>intelectualizar para não patologizar</b> o que sentimos. </div>
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Muitas vezes somos nós mesmos que amplificamos o problema, outras vezes é o outro que o torna um maremoto. Mas não é morrendo nem matando que vai fazer ficar tudo bem. Esse racionalizar me ajuda às vezes. Das coisas que penso: E se os suicidas forem pra um lugar pior depois da morte? E, se depois de vencer isso, fosse me acontecer algo muito bom? E se matar o fulano me trouxer "carma ruim"? E se o espírito dele ficar me vigiando e me atrapalhando? Enquanto houver essas 'desculpas', ainda será sinal de que eu só desejo acabar com o sofrimento e não com a vida. <br />
<br />
Voltando à deusa, foi Perséfone quem ajudou <b>Orfeu</b>. E acho curioso que, toda vez que penso no tema da morte, me lembro que ainda não decorei os versos órficos que precisamos dizer a ela quando atravessamos pro outro lado. Por mais que eu tente, na hora decoro e depois me esqueço. Acho que isso é meu inconsciente se recusando a me deixar desistir de tentar ficar.</div>
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A gente não pode esperar que as pessoas sejam perfeitas, nem pode achar que somos melhores que elas também. Não dá para ficar comparando sofrimento. Cada um carrega a pedra que é capaz de suportar. O que precisamos é não deixar que vire uma pedra de <b>Sísifo</b> que nunca evolui nem transcende. </div>
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Eu ainda não sei qual será a conclusão do meu sofrimento atual. Não sei que pena terei que cumprir. Nem questiono se será justa. Mas <b>escrever</b> sobre a dor me ajuda a aguentar mais um pouquinho até saber o desfecho dela. Isso me lembra que eu gostava de dois livros da Marguerite Duras ("O Amante"e "A Dor"). Acho que para ela também funcionava lidar com isso escrevendo. </div>
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Outra coisa que me ajuda é <b>música</b>. (Olha aí Orfeu de novo.) Acho que isso é algo que ajuda muita gente. Alguns colocam música alegre para espantar a tristeza, outros colocam música depressiva para expurgar de vez tudo o que se está sentindo, talvez até para ter essa sensação de que não é o único, que não está sozinho na dor.<br />
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Um dos possíveis significados do nome de Perséfone é "a que destrói a luz", por isso que é nela que penso quando estou nesses lugares <b>sombrios</b> da minha mente e coração. Ela ajuda a atravessar entre os mundos. E quando essa dor é por causa de algo do passado, talvez a gente precise se lembrar da <b>Medusa</b>, a que petrifica, aquelas coisas que fomos cristalizando e que não conseguimos destruir. Talvez um <b>espelho</b> te ajude, como ajudou Perseu. Olhe como você cresceu e tudo o que já venceu e como pode realizar mais feitos heróicos ainda... </div>
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<a href="https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/c/c2/Kratzenstein_orpheus.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="454" data-original-width="387" height="200" src="https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/c/c2/Kratzenstein_orpheus.jpg" width="170" /></a></div>
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Mas, se você ver alguém triste, o que não funciona é dizer "fica bem". Esse 'conselho' não ajuda, porque ninguém escolhe estar triste. A gente pode escolher permanecer remoendo, mas não é com frases motivacionais que se sai do ciclo. Na palestra foi falado que a sociedade ainda não sabe lidar com a tristeza dos outros. </div>
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Então ou a gente procura <b>ajuda profissional</b> ou usa dos artifícios que conhece que nos fazem sentir melhor. Se for muita coisa para superar, não tenha vergonha de pedir essa ajuda. Eu ainda vou esperar o meu desfecho antes de saber a quem recorrer - <b>seja deus ou mortal</b>. Mas se você também está às voltas com esse tipo de energia, não se cale, conversar ou escrever serão sempre <b>catarses</b> válidas para lidar com o que polui o nosso templo (físico, mental e espiritual).<br />
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Desejo <b>sorte</b> e <b>paz</b> para a gente. E que o <b>amor</b> prevaleça sobre o erro. </div>
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Alexandrahttp://www.blogger.com/profile/11007700081991461118noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6716201595908211181.post-34910390248454990012019-06-10T14:42:00.002-03:002019-06-11T21:56:15.110-03:00"A Feitiçaria na Atenas Clássica" <div style="text-align: justify;">
Há alguns meses terminei a leitura do livro "A Feitiçaria na Atenas Clássica" da Profª Drª Maria Regina Candido. Não posso me estender muito nos comentários para não revelar tudo do livro, mas tentarei fazer uma resenha e especialmente demonstrar como essa leitura só me confirmou ainda mais <b>como é acertado que o reconstrucionismo não enverede por essa área da magia (ou do feitiço)</b>. </div>
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O livro foca nos <i>katádesmoi</i>, as tábuas de imprecação. Para começar, o fato de o uso dessas tabuletas aparecer na virada do século V para o IV AEC contextua muita coisa. Nesse período pós guerra do Peloponeso e de participação pelo voto, temos uma <b>transição dos interesses públicos (<i>to koinon</i>) para os privados (<i>to idion</i>)</b> e isso gerou um recuo da <i>sophrosyne</i> (o autocontrole, a justa medida). A sociedade que era de logos, tradição, coesão cívica, ritos ancestrais, começou a ceder espaço para práticas individuais, para relações com a morte e para o uso de maldições para "fazer mal ao inimigo". A magia, que era desviante, retorna como parte do cotidiano. Isso por que os atenienses ora seguros se deparam com situações imprevisíveis, inusitadas, incertezas e novidades que a comunidade da pólis não consegue responder. A crise das cidades atingiu as áreas econômicas, sociais, políticas, religiosas, intelectuais e artísticas, fazendo desse um período bem específico da história. </div>
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As lâminas de chumbo estudadas no livro são de <b>três tipos: as imprecações contra atividades de comerciantes, as testemunhas no tribunais, e os rivais de relações amorosas</b>. O significado do termo <i>katadesmoi </i>remete aos sentidos de <b>amarrar, prender, imobilizar </b>alguém embaixo da terra, ou <b>afundar, enterrar, ocultar </b>alguém no submundo. Já o termo latino, <i>defíxios</i>, seria sinônimo de um tablete que pretende "<b>fazer mal ao inimigo</b>". </div>
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Os nomes nas lâminas apontam para grupos sociais provenientes desde a Liga de Delos até o pós-guerra do Peloponeso, o que leva a autora a acreditar que os indivíduos que faziam uso dos <i>katadesmoi </i><b>pertenciam a segmentos sociais de prestígio político e/ou exerciam atividades econômicas consideráveis</b>. Eles se sentiriam ameaçados (na sua riqueza, prestígio e honra), com o risco de perder seus recursos para concorrentes ou no tribunal, ou de serem difamados e terem sua atividade prejudicada. O prejuízo poderia ser moral, pecuniário ou mesmo de levar à morte. Por temer essas coisas, se recorria à magia para a <b>imposição da vontade do usuário</b>. </div>
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Por mais que os princípios tradicionais permitissem "ajudar os amigos e prejudicar os inimigos" e legitimar a auto-defesa e a indenização, <b>essa indignação do cidadão que se sentia lesado em seus direitos deveria ser levada para o contexto público do tribunal, enquanto que no contexto das lâminas havia uma violência privada, uma vingança de interesse individual</b>, insubordinada às leis. Nem todos tinham o poder da oratória para vencer nos tribunais, então procurava-se outros meios. Nas tábuas estudadas, o solicitante objetivava tanto paralisar a ação do inimigo quanto exigir a destruição total do adversário, levando-o à morte, às vezes junto com a família e pessoas próximas. Platão cita em Fédon que o mal-olhado (<i>baskanía</i>) podia interromper a fala de um orador no momento decisivo da argumentação. O usuário das tábuas acreditava na eficácia de enviar essas maldições, e lemos em algumas tábuas ele solicitando que se paralisasse a voz, as mãos, os pés e a mente do adversário.</div>
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O problema se tornava ético quando a motivação do solicitante era a sua própria incapacidade pessoal, ou seja, por <b>inveja (<i>fthónos</i>) e rancor acumulado </b>diante do adversário bem-sucedido. Aristóteles, na Retórica, fala que a inveja tem por princípio a rivalidade de alguém que aspira as mesmas coisas que dão sucesso a outra, isto é, alguém possuir algo que prospera e o que invejoso não consegue alcançar por ser pessoalmente incapaz. Um político famoso por ser um invejoso especialista em calúnias era Aristogeiton. Ele buscava fatos que podiam ser transformados em recebimento de dividendos, e andava sempre acompanhado por testemunhas ímpias e más.</div>
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O valor do comércio parece ter sido alimentado no período de Pisístratos, que incentivou as atividades comerciais na área urbana. Também houve a mudança da rota comercial no Mediterrâneo beneficiando Atenas por conta do porto de Pireu, que foi melhorado no tempo de Temístocles e no governo de Péricles. Após o conflito com os persas, Atenas tornou-se uma potência mercantil devido a sua posição hegemônica no mar Egeu. As pessoas migraram do campo para a cidade para trabalhar como artesãos e comerciantes, enriquecendo alguns setores da economia. Mas essa riqueza recente oriunda do comércio era considerada de má qualidade, os emergentes não seriam qualificados a participar da administração da pólis. Acreditava-se que a riqueza proveniente da agricultura era a mais adequada para a formação do cidadão-camponês-soldado. Xenofontes diz que através do cultivo da terra adquire-se status, prestígio e virtudes. </div>
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<b>A riqueza fomentava a <i>hýbris, </i>e a pobreza despertava a inveja.</b> Ambas levavam os indivíduos a cometerem injustiças, transgressões e crimes. Uma das razões da magia dos <i>katadesmoi </i>estaria, então, na concorrência. <b>Solicitava-se às potências sobrenaturais a ruína das atividades e a eliminação física do oponente, assim como a desarticulação da sua família</b>, o que, fatalmente, prejudicaria a sua oficina. As dificuldades econômicas do momento redirecionam também as atividades femininas, levando as mulheres a deixarem a reclusão para atuar na garantia da sobrevivência da família. Também se inseriram no comércio os metecos (estrangeiros), aumentando a concorrência. A profissão de <i>kapelikós </i>(comércio de varejo) podia ser exercida por homens, mulheres e escravos. </div>
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As tábuas eram executadas de maneira oculta e dissimulada, uma ação desviante à religião oficial da pólis, e eram específicas do espaço urbano. Algumas inclusive eram escritas invertidas, de trás para a frente, e com palavras incompreensíveis e indecodificáveis. Além disso, o solicitante contava com o sigilo, pois seu nome nunca constava na lâmina. A ágora era o espaço da palavra falada, dos debates, mas a palavra escrita pertencia aos templos e santuários, por isso também sua relação com a magia, pois a escrita dava sacralidade ao acordo, como uma forma de garantir que este seria cumprido. Além disso, as imprecações eram gravadas em materiais como chumbo e bronze - duráveis e indestrutíveis (o chumbo, por ser cinza e frio, também lembrava a morte). Elas eram depositadas nas poças, nos leitos de rio, nas sepulturas do cemitério e nas fendas dos santuários e templos de deuses ctônicos. Os verbos eram na primeira pessoa: eu enterro/afundo/amarro. E há cinco termos constantemente citados: 'enterro' 'sua casa' 'sua vida' 'corpo' 'ofício'. </div>
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O mago que grafava nas lâminas para o solicitante deveria ser alguém capaz de grafar e imprecar da forma precisa e de acreditar na eficácia das lâminas. <b>Esses '<i>magoi</i>' faziam a '<i>goetía</i>', a magia negativa de fazer mal ao inimigo, e divulgavam serem capazes de persuadir os deuses a serem seus servidores.</b> Esses especialistas costumavam ser homens à margem da sociedade que surgiram no final do século V AEC entre os atenienses, desprezados por uns e procurados secretamente por outros. Sua clientela eram de insatisfeitos, amargurados e inconformados, e esses usuários preferiam manipular as almas que ainda não haviam chegado ao Hades.</div>
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Nos séculos IV e III, houve um acentuado esforço na realização de desejos e satisfação individual, e é quando vemos os <i>katadesmoi </i>amorosos, um pouco diferentes dos <i>katadesmoi </i>contra ofícios e os contra os processos. Nos amorosos, se citava no máximo duas ou três pessoas, e às vezes não se pretendia fazer mal ao adversário e sim ao ser amado. <b>Quando não se conseguia despertar a sua adoração ou fidelidade, se recorria à sua destruição.</b> O amor ou paixão não-correspondidos levava a vítima a agir como se estivesse acometida por uma doença. Nas obras de Eurípides, Fedra parece ser alguém vítima de uma imprecação (há três dias sem comer por conta de uma dor da paixão), assim como Medeia (que "jaz sem alimento, corpo dado às dores, debulhado em lágrimas"). Já no relato de Teócrito, Samanta não se conformou com o abandono e reagiu usando a magia ("assim como este ramo de louro arde em brasa, que arda também o corpo de Delfos", "se ele me desprezar, baterá na porta do Hades levado pelas Moiras e pela potência do meu veneno" e "quem se deitar com ele, homem ou mulher, será esquecido completamente, como Teseu esqueceu Ariadne"). Nos textos, Medeia e Samanta dão a entender que a mais grave atitude diante de uma vítima de desprezo e fracasso era o riso (<i>ghélos</i>), e somente a vingança da morte poderia reverter essa situação e trazer-lhes a vitória. </div>
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Em resumo, os <i>katadesmoi </i>têm sua elaboração relacionada a um <b>contexto de crise, de incerteza, e da supremacia do interesse individual ao interesse coletivo</b>. A autora diz que: "A crença na eficácia da magia se deve ao contexto de crise na organização da políade que deixou de atender as necessidades dos seus cidadãos. Estes não deixaram de reagir e buscaram nas práticas mágicas as respostas, os auxílios e as alternativas visando remover obstáculos e solucionar as disputas".</div>
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Vale ressaltar que não havia culpa nem tempo para o arrependimento, pois desfazer uma imprecação era muito difícil. </div>
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<a href="https://imgmanagercb-a.akamaihd.net/a-feiticaria-na-atenas-classica-maria-regina-candido-8586568449/livros_200x200-PU6ec8da4c_1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="200" data-original-width="200" src="https://imgmanagercb-a.akamaihd.net/a-feiticaria-na-atenas-classica-maria-regina-candido-8586568449/livros_200x200-PU6ec8da4c_1.jpg" /></a></div>
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Essa discussão me lembrou uma postagem do site do Patheos, "<a href="https://www.patheos.com/blogs/teaaddictedwitch/2019/05/hekate-soteira/?fbclid=IwAR2_5YFGwQm6LiMCGm3EoXaRAmmdMEaDkBsGhmbbDCU7o3seZAcjaEDjNlk" target="_blank">Bruxaria é política</a>". Traduzo aqui resumidamente o que a autora (Scarlet Magdalene) diz: </div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
Hécate é uma deusa dos marginalizados e <b>a bruxaria é uma ferramenta dos desprovidos de direitos</b>. Hécate é um exemplo popular de um tópico e deidade que é terrivelmente mal-interpretada, mal-representada e normalmente ignorada por causa de sua popularidade ser vista como um incômodo e não como uma característica. Não só por ela ser uma deusa da bruxaria, mas por ser uma deusa de muitas funções e muitos epítetos. “Soteira” (Σώτειρα) significa “salvadora”, um de seus epítetos. Seu <i>deipnon </i>(ceia), durante a lua nova, não era apenas uma forma de lhe fazer ofertas, mas também de prover comida para os desabrigados e famintos. Ajudar os necessitados era uma forma de oferta a ela, por mais que alguns torçam o nariz. Sendo uma deusa de fronteiras e lugares limítrofes, faz sentido ela ser associada com os marginalizados, com a periferia. Aristófanes cita "Pergunte a Hécate se é melhor ser rico ou faminto; ela lhe dirá que os ricos lhe enviam uma refeição todo mês e que os pobres a fazem desaparecer antes mesmo de ser servida". Ela também era <b>solicitada em questões de justiça e decisões em assuntos domésticos</b>: "Um dia os atenienses acessariam a justiça em seus próprios lares, cada cidadão teria um pequeno tribunal construído em sua varanda, similar aos altares a Hécate (<i>Hekataion</i>) e haveria tal coisa diante de cada porta" (Aristófanes, 'As Vespas'). A deusa também tinha um culto onde se acreditava que os doentes mentais eram curados. Ela também é patrona de mulheres feiticeiras como Circe e Medeia. Recorria-se a Ela tanto para fazer quanto para se proteger de bruxaria. Hécate é descrita no <i>Oxford Classical Dictionary </i>como "mais em casa e arredores do que no centro do politeísmo grego. Intrinsecamente ambivalente e polimorfa, ela ultrapassa as fronteiras convencionais". Nos arredores é que estão os pobres, os doentes mentais, as mulheres, e outros que não eram admitidos na política. </blockquote>
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Como vemos do livro, os comerciantes mercantis também se encaixavam nesses "emergentes excluídos" que não eram virtuosos por não terem adquirido sua riqueza da agricultura. A procura pelas tábuas de imprecação emergiu de uma <b>situação histórica/política de transição</b>. E é nessa situação de incerteza e crise que se buscam os meios 'alternativos' e 'sobrenaturais' de se conseguir alcançar seus objetivos pessoais em detrimento do interesse comum.</div>
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Portanto, esse tipo de magia era mal-visto, pois sabemos que desejar - por interesse pessoal - que um adversário e sua família sejam paralisados ou mortos nunca se encaixará nos princípios de uma religião cívica de <b>amizade </b>(<i>philía</i>) <b>e autocontrole</b> (<i>sophrosine</i>). </div>
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Alexandrahttp://www.blogger.com/profile/11007700081991461118noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6716201595908211181.post-8485853752122291562019-03-16T16:42:00.001-03:002019-03-16T16:42:09.070-03:00Recomeçando<div style="text-align: justify;">
Este ano observei algumas coisas com relação à abordagem que cada um dá aos deuses. Percebi quatro movimentos diferentes de quatro pessoas. Um não acredita que os deuses nos dão tudo o que pedimos, outro acredita que não importa o que ele resolva porque no final sai do jeito que os deuses queriam, outra acredita que toma bordoada quando erra, e outra acredita que os deuses sempre nos dão o que pedimos quando temos um bom relacionamento com eles. Da minha parte, percebi que essa resposta positiva se dava <b>mais com posturas do que com ritos</b>. Recentemente fiz um rito a <b>Hermes</b> (todo certinho, com sinais indicando sobre as ofertas, e até no dia e horário mais propícios) esperando um resultado o qual não tive de pronto, mas depois adotei atitudes que me levaram à resposta favorável que eu queria. Levar a energia da deidade para a vida foi mais eficaz do que uma comunicação ritual momentânea. Então talvez aquela primeira pessoa que citei não recebe o que pede porque falta levar pro cotidiano aquele sentimento e atitude próprias de alguém com uma boa conexão com o sagrado. E os outros três casos não se anulam entre si. </div>
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Outra coisa com relação a essa questão de o que pedimos e o que recebemos também foi assunto de uma conversa atual. Muitas vezes o que precisamos para conseguir realizar as coisas necessárias ao nosso crescimento e evolução são provenientes de energias as quais costumamos temer. <b>Hades, Ares, Poseidon</b>, são exemplos de deuses que as pessoas têm medo, mas que realizam grandes coisas em nossas vidas se nos sintonizarmos e equalizarmos com eles. Grandes mudanças assustam, mas não se trata de deixar ser levada pelo maremoto, mas de aprender a surfar ondas gigantes. Às vezes precisamos violar uma embalagem para conseguir trazer pra fora o que tem dentro dela e o qual estamos há muito tempo querendo. Já citei em <a href="http://www.helenos.com.br/Home/artigos/a-forca-de-ares" target="_blank">outro texto</a> sobre como Ares te tira do sofá, e seguidamente falei como Poseidon sacudiu minhas estruturas, sem contar como <b>Perséfone</b> vira rainha após ser levada por Hades. Não são forças das quais sentir medo, mas ao mesmo tempo precisamos estar maduros para lidar com elas sem sermos levados na correnteza. Aproveitar essa zona do medo como uma ponte entre a <a href="https://scontent-atl3-1.cdninstagram.com/vp/9977b8c49c46f0637435922452bd68e4/5D16965A/t51.2885-15/e35/51392205_363648304223227_4719763162794711086_n.jpg?_nc_ht=scontent-atl3-1.cdninstagram.com" target="_blank">zona de conforto e a zona de aprendizagem, no caminho para a zona de superação</a>/realização. </div>
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E, voltando ao ponto sobre o "fazer correto" para não "levar bordoada", me lembrei de uma dúvida que tiraram comigo este mês. Quiseram saber se poderiam relacionar o porquinho-da-índia a <b>Apolo</b>, já que ele é um roedor e os ratos são dEle. É preciso tomar certo cuidado com essas associações. Os ratos são ligados a Apolo por serem pragas e não por serem roedores (e fofinho) como o porquinho-da-índia. Além disso, se pesquisarmos as civilizações onde esse animal existia nos cultos (já que na Grécia antiga não encontramos registros), veremos que entre os incas o porquinho-da-índia era ofertado à deusa da terra e ao deus da montanha, o que, por um certo sincretismo mais intuitivo do que direto, poderíamos ligar a <b>Deméter </b>e<b> Dioniso</b>. </div>
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Há outra questão sobre esse "conseguir o que pede" que também observei nessas últimas semanas. Uma pessoa pediu aos deuses algo que ela achava o melhor para a outra, mas não era o que a outra realmente queria para si. E, claro, acabou não dando certo. Apenas quando a primeira reconheceu que estava sendo influenciada por seus próprios sentimentos é que ela, eticamente, pediu a uma terceira que fizesse o rito pela segunda pessoa, por aquilo que esta realmente queria, e aí sim começou a dar certo. </div>
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Esses movimentos todos de <b>depoimentos e perguntas</b> e de gente voltando a me procurar me fez sentir um retorno importante depois daquele tempo tentando estabilizar meus próprios movimentos. Consegui inclusive ler um livro que vou trazer a síntese aqui em uma próxima postagem. Sinto que as coisas vão aos poucos se assentando, e as marolas estão voltando a encontrar a praia, mesmo nesta cidade de instabilidades climáticas e garoinhas refrescantes. </div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Voltei a ter <b>sonhos </b>dos quais percebia depois a sincronicidade deles com o relato de outros helenos. Estou tentando me <b>reconstruir </b>junto com o reconstrucionismo. Estou buscando novamente <b>me tornar quem eu sou</b>, como ensinava Píndaro. </div>
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<br /></div>
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E espero que esse novo <b>espiral </b>de percepções e conexões me leve a escrever mais por aqui. </div>
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<a href="https://3.bp.blogspot.com/-t-Nd7eYHMlM/XI1Q0IXzOUI/AAAAAAAADTo/SKZI90QPd1A47WJbH9VH_x74CoFYtoOoQCLcBGAs/s1600/fibonacci_spiral.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="391" data-original-width="620" height="201" src="https://3.bp.blogspot.com/-t-Nd7eYHMlM/XI1Q0IXzOUI/AAAAAAAADTo/SKZI90QPd1A47WJbH9VH_x74CoFYtoOoQCLcBGAs/s320/fibonacci_spiral.png" width="320" /></a></div>
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[ PS.: O blog está com um <i>layout </i>diferentinho, arrumei para ficar mais <i>clean </i>e mais prático. ]</div>
Alexandrahttp://www.blogger.com/profile/11007700081991461118noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6716201595908211181.post-11104921250425969762018-09-02T18:53:00.001-03:002018-09-03T16:54:10.874-03:00Notícias do mundo de lá<div style="text-align: justify;">
Escrevo esta postagem primeiramente para explicar minha ausência. Sei que já estive mais assídua no blog, mas - como todos sabemos - o tempo não é algo linear e em algum momento voltamos à Ítaca. A ilusão temporal de Cronos nem sempre acompanha nosso Kairós pessoal. E, como revelei estar envolta por Poseidon, ele pode nos fazer navegar por anos até aprendermos que "mar calmo nunca fez bom marinheiro". </div>
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Mas, enquanto eu dava atenção à vida prática, os deuses não deixaram de me acompanhar. Hécate - "a que trabalha de longe" e Hermes - "unir, juntar" (etimologias possíveis de seus nomes) foram duas figuras fundamentais nas maiores mudanças que aconteceram na minha vida nestes últimos 12 meses. </div>
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Preces e ritos de minha parte, sinais e graças da parte deles. Pedidos atendidos, independente de eu estar pedindo o mais propício ou não. Cadelas negras se aproximando, músicas tocando na rua com letras proféticas, ciganas me abordando com previsões certeiras, sincronicidades em ritos em conjunto (à distância) com uma amiga fiel. Foram várias as manifestações de proximidade, de aviso, de compartilhamento dEles. Eu poderia ter anotado tudo para listar aqui, as percepções e perscrutações que me encantaram. Mas primeiro que não consegui acompanhar tanta coisa para registrar, segundo que poderia ser mal interpretada. </div>
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<br /></div>
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O fato é que sempre imaginei que só sairia da casa da minha família de origem se fosse raptada como Perséfone. E, apesar de o movimento ter sido meu - de me candidatar a uma vaga em outra cidade e passar por entrevistas e vir na frente - a mudança só aconteceu porque eu já estava sendo de certa forma arrebatada da vida que eu tinha antes. Até minha família mudou de endereço depois de mim, embora tenham permanecido lá e eu tenha vindo para cá.</div>
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<br /></div>
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Estou no sul há mais de 10 meses. A única região do país onde faltava eu morar. Meu su(l)bmundo de Hades. Às vezes, como Perséfone, também sinto que comi inadvertidamente a romã e não posso mais me desprender daqui. Mas ainda não virei rainha. Ainda me sinto passando pelo campo de asfódelos, onde a mente fica confusa, embora eu não esteja indiferente. Mas aos poucos espero atravessar o palácio a caminho dos Elísios. </div>
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<br /></div>
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Ainda preciso aprender a conviver com quem me arrebatou. Ainda é difícil. Alguns conhecimentos são pesados de se ter. Algumas iniciações são penosas até você se acostumar. Mas outras são tão intensas de glória que mal cabem em você. Em um palácio, há tanto altas torres quanto baixos calabouços. Em um palácio, há tanto esconderijos quanto janelas. Só se entra nele atravessando uma ponte sobre um fosso. Não dá para ser uma travessia tranquila. E não é qualquer membro da nobreza que pode entrar. </div>
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<br /></div>
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No meu último aniversário, tive uma festa surpresa com um bolo sobre o qual colocaram a estátua de Tyche, a Fortuna. Talvez a fortuna não tenha a ver com dinheiro (pois esse me anda faltando), mas tenha a ver com as conquistas que fazemos (e isso parece estar acontecendo). Já fui uma pessoa bem mais otimista, guerreira e proativa, algo se perdeu pelo caminho que me tirou o ânimo (ou a Anima/Animus). Mas não posso negar que no caminho dos deuses tenho sido atendida no que peço. Só espero estar sabendo pedir o certo. </div>
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<br /></div>
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Enquanto isso, vou fazendo a travessia com as armas que restaram depois do espólio da mudança (doei muita coisa, visto o prazo de um mês que tive para vir e o tamanho do apartamento que não caberia tudo o que eu gostaria). Perdi meu labrys para uma inimiga, mas ganhei muitas outras coisas também.</div>
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<br /></div>
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Hoje tenho meu cantinho, minha parceira, minha cachorrinha, um trabalho que me agrada, a cidade que sempre quis, um grupo de estudos de mitologia composto por psicólogas, e várias coisas que escolhi. Quando vencer alguns Cérberos que ainda mordem meu calcanhar (e estou em terapia para conseguir isso), vou poder voltar aqui e mostrar mais uma vez para vocês que os deuses nunca nos abandonam, mesmo na desesperança de um caminho pelo hades - tão necessário para se aprender a reinar. </div>
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<br /></div>
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Se um Poseidon externo sacudiu minhas torres no seu terremoto, talvez agora seja minha Atena interna de quem eu preciso para me salvar. Provavelmente minha saída não foi só semelhante à de Perséfone, mas também se pareça à Odisseia de um heroi que se lança no mar revolto até alcançar a vitória. Mesmo que dure anos como a de Odisseu, o importante é já ter iniciado a viagem e partido. Se só os herois alcançam a glória (kleos), espero estar na rota certa da minha. </div>
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<br /></div>
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<a href="https://3.bp.blogspot.com/-jbOrO7MB8O4/W4xbR2tmc9I/AAAAAAAADQU/C3pADOc3v-kvaBYYPGH7GOTHDC0hUN3mgCLcBGAs/s1600/barco.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="432" data-original-width="444" height="310" src="https://3.bp.blogspot.com/-jbOrO7MB8O4/W4xbR2tmc9I/AAAAAAAADQU/C3pADOc3v-kvaBYYPGH7GOTHDC0hUN3mgCLcBGAs/s320/barco.png" width="320" /></a></div>
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<br /></div>
Alexandrahttp://www.blogger.com/profile/11007700081991461118noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6716201595908211181.post-16753849037613316802017-10-12T14:06:00.000-03:002019-02-27T20:21:02.686-03:00Pontes e pontífices <div style="color: #454545; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<div style="text-align: justify;">
<div style="font-stretch: normal; line-height: normal; text-align: start;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">Tudo bem sermos uma religião filosófica de mentes pensantes e espíritos livres, mas isso não significa que não precisamos de estrutura. Estrutura traz estabilidade e organização, o que é melhor que ter um caos. </span></div>
</div>
<div style="font-stretch: normal; line-height: normal; min-height: 20.3px; text-align: start;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
</div>
<div style="font-stretch: normal; line-height: normal; text-align: start;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">A ideia de ser livre não precisa nos fazer rejeitar qualquer tipo de autoridade, pois até mesmo pessoas unidas com um propósito é algo parecido com uma instituição. Uma comunidade é uma conexão, construída com paciência, planejamento e estrutura. Você não perde sua autonomia pessoal se procurar orientação de um grupo ou de uma pessoa mais experiente. Afinal, os outros só podem fazer isso: orientar; mas a decisão sobre o que fazer é só sua. </span></div>
</div>
<div style="font-stretch: normal; line-height: normal; min-height: 20.3px; text-align: start;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
</div>
<div style="font-stretch: normal; line-height: normal; text-align: start;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">Tem gente que acha bonito e rebelde afirmar que só os deuses podem lhe dizer o que fazer. Mas a questão é se essa pessoa tem o filtro certo para saber qual mensagem vem dos deuses e qual não vem. E a outra questão é: se você pretende ajudar os outros, precisa saber/aprender a ser ajudado e a deixar seu ego de lado. </span></div>
</div>
<div style="font-stretch: normal; line-height: normal; min-height: 20.3px; text-align: start;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
</div>
<div style="font-stretch: normal; line-height: normal; text-align: start;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">Para conseguir isso, precisamos reconhecer quando é melhor envolver outra pessoa. Estar todos no comando ao mesmo tempo ou não estar ninguém no comando normalmente não funciona. Podemos ter nossa individualidade e ao mesmo tempo servirmos os outros, sermos livres e ao mesmo tempo reconhecermos que outra pessoa tem melhor capacidade de nos ajudar a decidir. </span></div>
</div>
<div style="font-stretch: normal; line-height: normal; min-height: 20.3px; text-align: start;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
</div>
<div style="font-stretch: normal; line-height: normal; text-align: start;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">Nesses casos, a autoridade dos outros não está sobre a gente e sim sobre o objetivo que todos estamos querendo alcançar juntos. Sem isso em mente, não vamos conseguir realizar muita coisa. </span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://manhacomdeus.files.wordpress.com/2017/08/chave-2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: inherit;"><img border="0" data-original-height="627" data-original-width="721" height="278" src="https://manhacomdeus.files.wordpress.com/2017/08/chave-2.jpg" width="320" /></span></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
</div>
<div style="font-stretch: normal; line-height: normal; text-align: start;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">Xenócrates dizia que o Universo é composto de 3 partes: Sol com as estrelas, Terra com suas águas, e Lua com seus ares. A do Sol e estrelas seria o lugar onde os deuses habitam, a da Terra e suas águas seria o lugar onde os homens habitam, e a da Lua e ares lunares seria onde os daimones habitam, e estes são similares tanto aos deuses quanto aos homens em sua natureza. Sem os daimones, não haveria comunicação dos deuses com os humanos, assim como sem a lua o universo se desuniria. </span></div>
</div>
<div style="font-stretch: normal; line-height: normal; min-height: 20.3px; text-align: start;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
</div>
<div style="font-stretch: normal; line-height: normal; text-align: start;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">Ou seja, o terceiro elemento intermediário é necessário para essa comunicação. Zeus tinha Hermes como seu mensageiro, Hera tinha Íris. Perséfone é escoltada por Hécate ao sair e entrar do Hades. Hécate, aliás, é vista como tríplice exatamente por ser a deusa que intermedia dois outros elementos (reinos, mundos, seres etc). A fronteira é um terceiro elemento que une os outros dois e que possibilita - como uma membrana seletiva - que esses dois se comuniquem de forma efetiva. </span></div>
</div>
<div style="font-stretch: normal; line-height: normal; min-height: 20.3px; text-align: start;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
</div>
<div style="font-stretch: normal; line-height: normal; text-align: start;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">Também por isso Hécate esteja associada com a Lua. Dois séculos antes, quem era associada à Lua era Ártemis. E Selene era a lua em si. A Lua era uma estrela terrena ou uma terra estrelar, sendo assim um domínio de Hécate - que é tanto celeste quanto ctônica. </span></div>
</div>
<div style="font-stretch: normal; line-height: normal; min-height: 20.3px; text-align: start;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
</div>
<div style="font-stretch: normal; line-height: normal; text-align: start;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">Hécate é também a senhora e rainha dos daimones. Os daimones são espíritos imortais mas não divinos, que cuidam dos humanos. Eles tomam conta dos oráculos, comparecem aos ritos místicos, salvam os homens na guerra ou no mar, punem os transgressores, entre outras coisas. </span></div>
</div>
<div style="font-stretch: normal; line-height: normal; min-height: 20.3px; text-align: start;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
</div>
<div style="font-stretch: normal; line-height: normal; text-align: start;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">Mediadores são importantes. Recusar a ação deles para “não ter intermediários” não é rebeldia ou autonomia, é infantilidade e teimosia, sem falar em falta de humildade. Isso pode atrasar seu desenvolvimento em vez de demonstrar liberdade. </span></div>
</div>
<div style="font-stretch: normal; line-height: normal; min-height: 20.3px; text-align: start;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
</div>
<div style="font-stretch: normal; line-height: normal; text-align: start;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">Então vamos aceitar que somos limitados e aproveitar a disposição de quem pode nos ajudar a alcançar os objetivos que todos temos em comum. Não é vergonha nenhuma isso, e nem dependência ou insegurança, mas sim confiança, consideração e maturidade. </span></div>
</div>
<div style="font-stretch: normal; line-height: normal; min-height: 20.3px; text-align: start;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
</div>
<div style="font-stretch: normal; line-height: normal; text-align: start;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">Isso demonstra que você reconhece e é grato pelo trabalho do outro, seja ele um orientador, um deus ou um daimone. </span></div>
</div>
<div style="font-stretch: normal; line-height: normal; min-height: 20.3px; text-align: start;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
</div>
<div style="font-stretch: normal; line-height: normal; text-align: start;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">Mas é bom lembrar que um dos nossos maiores princípios éticos é o equilíbrio (<i>métron</i>, a justa medida). Logo, também não podemos deixar as decisões nas mãos do outro, precisamos ser responsáveis. O outro só pode nos orientar, mas é a gente que resolve o que fazer e assume a responsabilidade sobre o que decidiu. </span></div>
</div>
<div style="font-stretch: normal; line-height: normal; min-height: 20.3px; text-align: start;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
</div>
<div style="font-stretch: normal; line-height: normal; text-align: start;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">Com os deuses, por exemplo, eles fazem o que a gente pede/decide, e a gente que lide com as consequências. Já dizia Pablo Neruda: “Você é livre para fazer suas escolhas, mas será sempre refém das suas consequências.”</span></div>
</div>
<div style="font-stretch: normal; line-height: normal; min-height: 20.3px; text-align: start;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
</div>
<div style="font-stretch: normal; line-height: normal; text-align: start;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">Portanto, o melhor é ter alguém que nos ajude a pensar antes de escolher. E aceitar isso não desconfigura sermos de uma religião de liberdade, autonomia e inteligência. Não confie apenas no seu próprio julgamento, ele também pode falhar às vezes. </span></div>
</div>
<div style="color: black; font-family: -webkit-standard;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div style="font-family: ".sf ui text"; font-stretch: normal; line-height: normal; min-height: 20.3px;">
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</div>
Alexandrahttp://www.blogger.com/profile/11007700081991461118noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6716201595908211181.post-68994774175124899222017-07-16T11:09:00.000-03:002017-07-16T11:09:15.766-03:00"Torna-te quem tu és." (Píndaro)<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://4.bp.blogspot.com/-IyU4B7GtmWs/WWtue6J0oDI/AAAAAAAADMI/0qOfoTs9tVEt_8ZpVc4e-_2usyjUX3GJwCLcBGAs/s1600/IMG_2433.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="334" data-original-width="599" height="178" src="https://4.bp.blogspot.com/-IyU4B7GtmWs/WWtue6J0oDI/AAAAAAAADMI/0qOfoTs9tVEt_8ZpVc4e-_2usyjUX3GJwCLcBGAs/s320/IMG_2433.JPG" width="320" /></a></div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
As teorias psicológicas geralmente carregam uma visão bem traumática dos primeiros anos de vida, tornando nossas lembranças e a narrativa da nossa história pessoal algo infiltrado por essa ideia, que nos faz pensar na infância como uma época de calamidades desnecessárias e causadas pelos outros, as quais teriam moldado nossa personalidade de forma errada. Mas nossas vidas são mais prejudicadas por essas ideias do que pelos traumas em si. Nossas vidas são determinadas não tanto por como foi nossa infância, mas por <b>como aprendemos a imaginá-la</b>. Olhamos para a vida como uma narrativa cronológica e sem um roteiro, transitando entre ressentimentos sobre o passado e ansiedades quanto ao futuro. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Para sairmos dessa identidade de produto social determinado por eventos aleatórios e reações estranhas, precisamos buscar não o sentido da vida em geral, mas uma<b> razão pessoal</b> para estarmos aqui. <b>A beleza, o mistério, a mitologia</b> por trás da nossa vida em particular. As teorias que misturam genética e meio-ambiente, inato e aprendido, hereditário e social, se esquecem de falar sobre o que é aquela coisa específica que faz você ser você, que vai além de ser apenas um resultado entre essas duas forças. Quanto mais dissermos que somos produto dos nossos cromossomos aliado ao que nossos pais nos fizeram numa época que já passou há muito tempo, mais nossas biografias vão ser todas parecidas com a história de uma vítima e bastante acidental. Mesmo que depois você vire o outro lado da moeda da vítima, que é a do heroi que sobreviveu, venceu e "se fez sozinho".</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O cronológico não importa tanto. Não importa qual pincelada o pintor deu primeiro, o que você vê já é a arte pronta. Você é uma imagem completa, no agora. Como disse Picasso, "eu não me desenvolvo, eu sou". Essa sua essência pode ser ignorada o quanto você quiser, mas um dia vai sair e te tomar. Às vezes sua essência não aparece quando criança, porque você não está pronto. Por exemplo, pode ser que você vá ser um escritor, mas que nunca sentiu urgência em escrever quando novo, porque antes de criar você precisava aprender, olhar, ler, sentir, cheirar, viver, para não escrever besteira. Mas podemos ter percepções disso desde a infância sim, então seria bom tentar lembrar mais dessas percepções do que dos eventos traumáticos dessa época. São <b>dicas, intuições, sopros, impulsos, estranhezas, urgências</b>, que perturbam a vida natural e que estranhamente rotulamos de sintomas. Mas, para brincar com a linguagem, esse "sim, toma" é um presente pra você. Há uma razão para essas coisas te escolherem. E o início da palavra sintoma vem do grego "sym" (combinação, conjunto). Não estamos sozinhos. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A psicologia é sim uma ciência, mas seu nome começa com "psyche", "alma" em grego, então ela porta muito do que seria identificado como espiritual ou religioso. Dizer que "o coração tem razões", que "há algo de inconsciente nas nossas intenções", que "nada acontece por acaso" etc, tudo isso é convencional e aceitável. E quando pensamos que estamos aqui por um motivo que não nos deixa morrer quando caímos da escada ou quando nos enchemos de vírus e bactérias? Podemos chamar isso de instinto, de autopreservação, de sexto sentido, de consciência subliminar, de energia universal ou de anjo da guarda - todas essas coisas são invisíveis e as sentimos presentes. Mas a sociedade prefere que você compre a história do sobrevivente que se fez sozinho do que a história de que você é amado por uma providência que guia você e de que você está aqui por ser necessário no mundo. E não estou falando necessariamente de deus/es externo/s. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
No mundo atual <b>parece que estamos mais distraídos do que motivados</b>. Procuramos coisas para fazer para evitar pensar, e não coisas para nos inspirar a criar. Porque dá trabalho descobrir sua missão e cumprir as exigências que vem com ela. Estamos cada vez mais fugindo de ser responsáveis, por isso também a teoria de culpar a infância é bem cômoda. Ora, se a cada 7 anos todas as nossas células do corpo se renovam, por que eu vou deixar que me definam pelo que me aconteceu na infância? O que eu passei pode explicar muito do meu comportamento hoje, mas não mudou quem eu sou ou o que eu acredito que vim fazer no mundo. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Em vez de sermos apenas "estudos de caso", deveríamos ler a história de cada um além do eixo biológico-social, talvez algo mais parecido com o filosófico ou antropológico, mas sem o etnocentrismo típico. Podíamos realizar nossa análise menos em estatísticas e diagnósticos e mais em imaginação e mito-poesia. Assim veríamos as perturbações na infância menos como problemas de desenvolvimento e mais como emblemas que revelam muito do chamado individual, da descoberta da importância que tem aquela vida em particular. O maior pecado da psicologia é ignorar a beleza, a apreciação estética de cada história de vida. Cada mudança de situação na vida tem um sentido e uma interpretação, mas também tem uma beleza. Falar apenas em estruturas cognitivas e afins não tem graça. E <b>ver a beleza em algo nos faz amá-lo</b>. Ficar apenas procurando "problemas" torna a todos ansiosos - terapeutas, pais, crianças, pesquisadores. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A descoberta do nosso chamado é algo que <b>ao mesmo tempo ancora lentamente e voa bem rápido</b>. É como uma árvore que tanto cresce para cima quanto se enraíza mais fundo. Quanto mais nos afastamos dele, mais nos despersonalizamos e menos vivemos. Viramos estatística dentro de um grupo. Sei que é melhor ser sobrevivente do que ser vítima, mas melhor que sobreviver é viver plenamente. Além de me identificar com milhares de pessoas que passaram pelas mesmas coisas que eu, também posso <b>encontrar o que me torna única</b>. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Essa busca pela diferenciação é o que talvez nos faz mudar coisas visíveis e aparentes, como fazer uma tatuagem, adotar um novo estilo de se vestir etc. São coisas externas que expressam a necessidade de algo interior que nos defina. Quem sou eu especificamente? Algo que vai muito além da minha genética e acontecimentos do passado e vivência social. Achar esse algo é que são elas. De qualquer forma, na sua procura pelo autoconhecimento (que é o mote tanto da terapia quanto do helenismo), é melhor ir por esse caminho atemporal do que percorrer mil vezes aquela narrativa cronológica sem roteiro, que pode trazer muitos avanços mas que raramente nos deixa satisfeitos. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Como ensinava Píndaro, primeiro precisamos <b>descobrir quem somos</b>, para depois <b>agirmos de acordo</b> com o que descobrimos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Independente do nome que você lhe dá (gênio, daimon, anjo da guarda, ochema, fortuna, sorte, jinn, ka, ba, animal de poder, eu-superior, self, chi, ruah, pneuma etc), já pensou um pouco sobre qual o seu chamado?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Alexandrahttp://www.blogger.com/profile/11007700081991461118noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-6716201595908211181.post-18720009655750937132017-04-17T17:58:00.000-03:002019-02-27T20:22:48.923-03:00Ortopraxia e Pagus/Polis<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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<span style="text-align: justify;">Um ponto que volta e meia andamos lendo nas redes sociais é a questão do "livro sagrado". Não, o helenismo não tem um livro sagrado como a bíblia cristã ou os vedas hindus ou o alcorão islâmico ou o torá judaico. A literatura de Homero e Hesíodo, a história de Heródoto e Tucídides, a filosofia de Sócrates e Platão, o teatro de Eurípides e Sófocles etc, tudo isso é literatura, história, filosofia e teatro, não é </span><b style="text-align: justify;">doutrina</b><span style="text-align: justify;"> religiosa. Nem mesmo os mitos são essencialmente literais. Esses livros dos gregos apenas dão uma ideia de como os antigos envolviam os deuses em suas vidas, e não era uma coisa tal como uma religião separada. Como dizia Tales de Mileto, "o mundo está cheio de deuses", não fazia sentido limitá-los a uma espécie de manual. Eles faziam parte de todas as parcelas e momentos da vida.</span><br />
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Um texto com um código moral seria como uma <b>"razão correta" (ortodoxia)</b> a se seguir, e os helenos estão mais interessados na <b>"prática correta" (ortopraxia)</b>. Não adianta conhecer um reto pensar sem um reto agir, ou - como diriam os cristãos - uma "fé sem obras". Quando Aristóteles orienta sobre a virtude ser um meio termo entre dois vícios, nós sabemos ilustrar o que ele está falando, nós conseguimos pensar em exemplos, é algo bem prático. A virtude da coragem está entre o vício do medo e o vício da temeridade/inconsequência. Não se pode nem se paralisar e nem se jogar sem pensar nas coisas. Ele também salienta que a busca pela <b>"excelência na virtude" (areté)</b> é adquirida com a prática. E esse seria o nosso objetivo, sermos o mais virtuosos possíveis.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Então, quando alguém comenta que não tem feito festivais, rituais, libações etc, como se não estivesse estabelecendo contato com o sagrado, essa pessoa precisa pensar que o mais importante são as ofertas <b>atitudinais</b>. Preservar a natureza em honra a Ártemis, fazer um curso em honra a Atena, praticar música dedicando-a a Apolo, chamar por Hermes no trânsito ou por Asclépio na doença, entre outras coisas, também são forma de exercer sua conexão.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Aprendemos com Salústio que os deuses não precisam de nada, que "O divino em si mesmo não possui necessidades e a adoração é feita para o nosso próprio benefício. A providência dos deuses chega a todo lugar e precisa apenas de alguma congruência para a sua recepção. Toda a congruência é alcançada através de representação e similitude [...]. De todas essas coisas os deuses não ganham nada; o que um deus poderia ganhar? É nós que ganhamos alguma comunhão com eles. Acerca de sacrifícios e outras adorações, porque beneficiamos o homem com elas, e não os deuses." ('Sobre os deuses e o cosmo', trechos 27 e 28) Ou seja, as ofertas comuns e as ofertas votivas - como as estátuas - são para nos lembrar e nos fazer sentir conectados com o sagrado, não são uma necessidade de conquistar um divino que se afete com coisas humanas. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Assim, quando alguém igualmente diz que precisa estar na <b>natureza</b> para se sentir conectado às deidades, que não acredita em um <b>politeísmo urbano</b>, essa é uma questão bem mais pessoal de 'o que é que te ressoa mais ao coração' do que uma questão doutrinária do helenismo como religião da <i>pólis</i> que se "oponha" ao paganismo do <i>pagus</i>. E, como vimos no início, doutrinas e ideologias não cabem muito no nosso caso em que não somos orientados por textos sagrados. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ótimo se você encontrou na natureza uma forma de se sentir mais elevado espiritualmente, mas nada é regra. Há muita idiossincrasia numa prática, o que nos unifica é mais o objetivo, a busca da excelência e de sermos <b>pessoas melhores</b>. E o caminho para isso é parte pelo <b>autoconhecimento</b> ("conhece-te a ti mesmo e conhecerás o universo e os deuses") e parte pelo <b>equilíbrio</b> da justa medida, o métron (do "nada em excesso"). Nada impede de você se sentir <b>neopagão </b>ou<b> 'neopolita'</b>, o que vale é chegarmos ao mesmo lugar através daquilo que nos faz sentir melhor, do que nos deixa bem e com a sensação de dever cumprido. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Há espaço para tudo e a natureza também não está aquém da intervenção humana. A cidade também a inclui e está inclusa nela. Vamos tentar apenas ser <b>melhores humanos</b> onde quer que nos inserimos. </div>
Alexandrahttp://www.blogger.com/profile/11007700081991461118noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-6716201595908211181.post-79173860599752600212016-12-18T22:04:00.000-03:002016-12-18T22:15:55.973-03:00Balanço de fim de ano <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://xtechfiles-us.s3.amazonaws.com/uploads/images/thumbnails/5e60c8c274a7bca5732e87c39074f56d.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://xtechfiles-us.s3.amazonaws.com/uploads/images/thumbnails/5e60c8c274a7bca5732e87c39074f56d.jpg" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Na minha vida pessoal, realizei algumas coisas este ano: namoro, carro, celular, ajudar meus pais, perder alguns medos. Mas, de um modo geral, 2016 foi um ano difícil em muitos aspectos: no mundo cultural perdemos grandes artistas, na política passamos por golpes e vimos resultados bizarros de eleições e tivemos perdas de direitos, no mundo metafísico vi muita gente sendo chacoalhado em suas crenças. Entre outras coisas que não vem ao caso escrever. E, voltando ao lado pessoal, estou meio indefinida com relação a trabalho… e meu peixe morreu. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Quando você está de luto - seja pelo seu artista ou pelo seu país ou por uma ilusão ou sonho que perdeu - fica difícil estabelecer uma rotina religiosa de gratidão. Fica difícil focar no mundo invisível quando sua dor é real e o estresse te ocupa os dias. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Então a gente cai naquela armadilha de fazer pouco quando mais deveria estar se apegando ao sagrado para se manter com esperanças. E se desanima. Você se sente abandonado, e Eles teriam o direito de se sentirem impacientes com você. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Por um lado fico me perguntando se não deveríamos focar nas coisas boas e parar de reclamar, por outro fico percebendo que quem é otimista demais acaba não se mobilizando a mudar o que está errado. Com relação à política, vejo muita fala e pouca ação, muita gente se acomodando, achando ruim mas com medo de fazer algo que se prejudique ou que o tire do conforto da rotina garantida. Já com relação a crenças e relacionamentos, vejo muita reclamação de desejos não satisfeitos e pouca gratidão pela “sorte” (presente, dádiva) que temos de ter alguém - seja olhando por nós seja nos querendo. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A verdade é que nossa memória é muito seletiva e atraída ao que nos convém. Muitas vezes este ano recebi graças dos deuses quando nem estava pedindo (estava só agradecendo o favor anterior), mas quando algo não acontece como a gente quer… aí já começamos a dizer que estamos com as crenças abaladas. Não está certo. E fim de ano é tempo de rever suas atitudes. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Se você é de algum modo formador de opinião, se tem muitos seguidores, seria um desperdício não aproveitar essa força para mobilizar e inspirar atitudes de mudança. Acredito que a palavra para o próximo ano é <b>coragem</b>. Temos vivido muito anestesiados e acomodados e com medo de reagir, ficamos só assistindo os nossos direitos serem tomados e os outros nos imporem como devemos nos comportar e pensar e viver. Confiamos demais no “jeitinho brasileiro” que vai driblando as dificuldades como pode em vez de corrermos atrás de uma vida plena de verdade. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Eu mesma estou considerando sair da minha zona de conforto de um emprego com ótimos benefícios e ir atrás de algo que faça mais diferença no mundo. Eu dizia que o que me incomodava era as pessoas perguntando por que alguém com a formação que tenho estaria num lugar tão burocrático e limitado, sendo que eu me sentia feliz ali, mas na verdade o que me incomoda talvez seja meu próprio comodismo e medo. Comodismo do apego aos benefícios materiais. E medo de não dar conta de algo maior, medo de não ser capaz de ser excelente em uma área com responsabilidades mais grandiosas. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E, se eu convivesse com alguém com essas características, provavelmente ficaria impaciente algum dia. Não quero que os deuses me vejam assim. Quero voltar a ser alguém que os deixe orgulhosos. Quero vencer novas batalhas internas e conseguir atuar essas vitórias no mundo externo. Por isso espero que a palavra para 2017 seja <b>coragem</b>. Para romper barreiras, para se permitir tentar fazer dar certo, para agir de verdade e reagir diferente. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Dizem que 2017 terá a regência de Saturno e Vênus. Na Kronia falamos de nos libertar das nossas amarras, na Aphrodisia celebramos Pandemos, que une a população em um único corpo social e político com a noção de comunidade, de “morar juntos” (synoikismos). Nós todos habitamos o mesmo espaço e precisamos fazer dele um lugar melhor para vivermos. Já está na hora. Senão o Tempo (Cronos) acabará por nos engolir. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />Alexandrahttp://www.blogger.com/profile/11007700081991461118noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6716201595908211181.post-79642904325590627042016-11-20T14:01:00.002-03:002016-11-20T14:01:41.601-03:00Tirania, Trump, Temer, Textinho... <div style="text-align: justify;">
Vamos olhar o presente com a mente de uma época que nos ensinou a pensar? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://3.bp.blogspot.com/-JHh6UrQmfaw/WDHVmAbRN9I/AAAAAAAADGU/u4jCyMc-vqYZPIof8mf_DCqZCfhrm076ACLcB/s1600/2016_greek_calendar__shop_preview.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" src="https://3.bp.blogspot.com/-JHh6UrQmfaw/WDHVmAbRN9I/AAAAAAAADGU/u4jCyMc-vqYZPIof8mf_DCqZCfhrm076ACLcB/s1600/2016_greek_calendar__shop_preview.png" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Na antiguidade, <b>a tirania referia-se a governantes que adquiriam o poder através de meios ilegítimos</b>, normalmente com o apoio da pobreza rural, embora nem sempre o tirano fosse um bandidão. Por exemplo, <b>Heródoto </b>descreveu como Pisístrato tomou o poder em Atenas no século VI AEC - simulando uma tentativa de assassinato e convencendo as pessoas de que precisava de guarda-costas, mas relata que o mesmo administrou o Estado de forma constitucional e organizou os assuntos públicos com propriedade e bem. Pisístrato era um tirano que não era ruim. Então "tirano" sem sempre foi um insulto. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ainda assim, <b>Platão </b>criticou a tirania, dizendo ser uma forma maligna de governo. Não pela forma em que os tiranos tomavam o poder, mas por causa da alma distorcida dos mesmos. Eles não amavam a sabedoria e a justiça, e sim a aprovação do público e o prazer físico. E, como esse tipo de gratificação é efêmera, os tiranos nunca estavam satisfeitos, procurando cada vez mais prazer até decair à loucura. Hoje costuma-se pensar nas formas de governo como estruturas institucionais, mas - para Platão - a tirania era uma condição psicológica. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Sócrates </b>argumenta que <b>a alma tirânica tende a surgir nas democracias</b>. Essas almas são especialmente comuns entre os filhos dos homens proeminentes que não desfrutam de tanto prestígio quanto acham que merecem. Os tiranos adquirem o poder quando conquistam a aliança dos pobres, geralmente se voltando contra sua própria classe elitizada no processo. Os paralelos com o ano de 2016 são bem evidentes. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Apesar de criticar os tiranos como os homens mais infelizes da terra e a tirania como a pior forma de governo, Platão parece ter se perguntado se um governo tirânico poderia ser utilizado para bons propósitos. <b>Plutarco </b>conta que Platão aceitou um convite da cidade siciliana de Siracusa para educar o tirano Dionísio, mas a experiência deu errado: Dionísio expulsou Platão de Siracusa e deu um jeito de vendê-lo como escravo em vez de devolvê-lo a Atenas.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Outros filósofos gregos imaginaram se os tiranos poderiam ser bons governantes apesar dos riscos. <b>Xenofonte</b>, por exemplo, escreveu um diálogo entre o sábio poeta Simonides e o tirano Hiero. Quando Hiero reclama de ser infeliz e solitário, Simonides argumenta de que ele poderia ganhar a estima que ele anseia praticando justiça e governando para o bem comum, assim tanto os desejos do tirano quanto as necessidades da comunidade seriam satisfeitos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Aristóteles </b>também ofereceu sugestões para a reforma da tirania. Para ele, o tirano deveria se apresentar aos seus súditos não como um tirano e sim como um criado e rei. Se ele não governasse como um tirano, seu poder duraria mais. Aristóteles percebeu que argumentos morais não convenceriam um tirano, por isso apelou para o excessivo desejo de ser estimado que o tirano tem. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
As reflexões gregas sobre tirania emergem quando se fala de uma liderança decisiva em períodos de crise, como se um pouco de tirania às vezes fosse necessária para salvar a democracia. Mas isso só revive o antigo dilema: poderá um governo desses ser o meio para atingir os finais certos ou ele - que já nasce de uma maneira corrupta - corromperá todos que participam dele?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Apesar de reconhecer o lado apelativo da tirania, os gregos nos lembram que os governantes com almas distorcidas são perigosos. Mesmo que eles anseiem pelo apoio das pessoas, os tiranos se preocupam apenas consigo mesmos. Na sétima carta que Platão escreve depois de voltar de Siracusa, ele argumenta que, com relação ao Estado, esteja ele sob um único governante ou mais de um, quando um governo é conduzido metodicamente e da maneira correta, ele pede conselho sobre qualquer detalhe na política, e é função de um homem sábio aconselhar tais pessoas. Mas, ainda segundo Platão, <b>homens sábios e bons cidadãos deveriam se recusar a colaborar com governantes que desprezam a lei e a justiça</b>. </div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
De algo que já começa de forma ilegítima e anti-democrática não se pode esperar muita coisa boa. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Alexandrahttp://www.blogger.com/profile/11007700081991461118noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-6716201595908211181.post-42334176021388495932016-11-13T17:25:00.000-03:002019-02-27T20:21:41.335-03:00o lado astral do natal<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 107%;">Desde 10.000 AEC existem pinturas e registros
arqueológicos que refletem o respeito e a adoração pelo sol. Também se
observavam as estrelas para saber coisas como eclipses e fases da lua. Uma das
figuras mais antigas da história humana é a roda zodiacal. Ela reflete o
trajeto do sol pelo ano, 12 meses, 4 estações etc. As civilizações
personificavam o sol e as estrelas com figuras humanas ou animais e elementos
da natureza significativos naquela época do ano. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 107%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 107%;">Há vários mitos, desde 3.000 AEC, – no Egito,
Frígia, Pérsia, Grécia, Índia etc – sobre um filho de deus nascido de uma
virgem, anunciado por uma estrela ao leste, adorado por reis, com feitos
miraculosos, que passou pela morte e ressurreição ao terceiro dia, com títulos
como ‘a verdade’, ‘a luz do mundo’, ‘filho ungido de deus’, ‘bom pastor’, ‘o
cordeiro’, ‘o alfa e omega’, e até com dia de adoração no domingo (em inglês
“Sunday”, dia do sol). Muitas deidades e heróis do mundo todo preenchiam
características semelhantes. Mas por que esses atributos?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 107%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 107%;">É astrológico. A estrela mais brilhante no céu na
noite de 24 de dezembro é Sírius, que nesse dia se alinha a leste com as três
estrelas mais brilhantes do cinturão de Órion – os três reis. Elas apontam para
o local de nascimento do sol a 25 de dezembro, ‘seguindo’ a estrela do leste
(Sírius). <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 107%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 107%;">A constelação de Virgem é conhecida como “a casa do
pão”, sua representação é uma mulher segurando um galho de trigo. Virgem é o
signo entre agosto e setembro, tempo da colheita. O nome original da cidade de
Belém,“bethlehem”, signfica “casa do pão”. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 107%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 107%;">A 22 de dezembro ocorre o solstício de inverno no
hemisfério norte, os dias ficam mais curtos, o sol parece menor, há a perda da
colheita, a escuridão, tudo que se associa à morte, no caso a morte do sol.
Nesse dia, o sol pára de se mover para o sul (para onde se movia por seis
meses), fica ali por três dias (22, 23, 24), e nessa pausa ele reside nas
redondezas da constelação do Cruzeiro do Sul (uma cruz). No dia 25, ele se move
um grau para o norte, prenunciando dias melhores, mais calor, e a
primavera. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 107%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="line-height: 107%;">O sol morreu no cruzeiro/cruz, ficou inerte/morto
por três dias e se reergueu/ressuscitou. </span>No entanto, a ressurreição só é celebrada na Páscoa
(na primavera), que é quando o sol oficialmente domina as trevas e a vida
renasce.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 107%;">Quanto aos 12 discípulos, seriam as doze
constelações ou casas astrológicas com as quais o sol viaja. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 107%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 107%;">Na cruz do desenho do zodíaco, o sol fica ao
centro, por isso, nas primeiras representações de Jesus, ele tinha atrás da
cabeça uma roda com a cruz. Ele é “a luz do mundo” que “afasta as trevas”, que
“renasce”, que pode “ser visto através das nuvens” (todas menções bíblicas). A
própria coroa de espinhos pode representar os raios do sol. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 107%;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://doctorsito.files.wordpress.com/2009/04/cruz-zodiaco2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: inherit;"><img border="0" height="142" src="https://doctorsito.files.wordpress.com/2009/04/cruz-zodiaco2.jpg" width="400" /></span></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<i><span style="font-family: inherit;">(do documentário Zeitgeist)</span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 107%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">Nas escrituras, há inúmeras referências a “eras” ou
“idades”. Precisamos aqui entender a precessão dos equinócios. Os egípcios e
outras culturas anteriores reconheceram que, a cada 2.150 anos, o nascer do sol
na primavera ocorria num signo diferente do zodíaco, por causa da lenta
oscilação angular da Terra. As constelações aí vão para trás (precessão). As
antigas civilizações chamavam esses 2.150 anos de “era”. De 4300 AEC a 2150 AEC
era a era de touro, de 2150 AEC a 1 EC a era de áries, de 1 a 2150 a era de
peixes e a partir de 2150 seria a era de aquário. Moisés quando desceu do monte
ficou aborrecido por ver o povo cultuando um touro. Moisés representa a era de
áries, por isso até hoje os judeus sopram o chifre do carneiro.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 107%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 107%;">Em outras culturas, Mitra mata o touro, Teseu vence
o minotauro, por exemplo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 107%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 107%;">Jesus seria o portador da era de peixes. A
constelação é representada por dois peixes. Jesus alimenta as pessoas com pães
e 2 peixes. Na Galiléia, conhece 2 pescadores que o seguem. O símbolo do
cristianismo é um peixe. E se assumiu que o seu nascimento tenha sido no ano 1
dessa era, mesmo que alguns estudiosos digam que ele nasceu alguns anos antes. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 107%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 107%;">Em Lucas 22,10, Jesus fala sobre um ‘homem
carregando um cântaro de água’ e diz para os discípulos o seguirem até a ‘casa’
onde ele entrar. Esse é o símbolo de aquário, a próxima casa astrológica.
Quando em Mateus 28,20 Jesus diz que estará com eles até o fim do “mundo”, essa
palavra foi mal traduzida, pois ele teria usado “aeon” (“era”). Ele está até o
fim da era. A era de peixes. Não é um “fim do mundo”. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 107%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 107%;">Para não me estender em outros temas que não o
natal/nascimento, termino o texto aqui, mas deixo a questão de se buscar a
referência astrológica ou astronômica por trás das coisas em comum nos mitos
das mais diversas culturas.<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
Alexandrahttp://www.blogger.com/profile/11007700081991461118noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-6716201595908211181.post-37976636235195875022016-05-15T01:53:00.000-03:002017-02-28T15:40:34.108-03:00Mais do mar<div style="text-align: center;">
<i>"Quando mergulhei no azul do mar,</i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>Sabia que era amor e vinha pra ficar."</i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>(Flávio Venturini / Ronaldo Bastos)</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
No feriadão do final de março, viajamos de barco para uma cidade próxima. Antes de essa viagem acontecer, o clima tenso entre a gente quase a cancelou, mas eu tinha certeza que seria uma viagem definidora. E me parece que foi mesmo. </div>
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Saímos ao alvorecer, a lua ainda aparecia ao céu da manhã sobre o iate. Ida tranquila, ela dormindo ao meu ombro. Pousada linda, vista e comida ótimas. Lá, pegamos um barquinho para uma ilha aparentemente deserta, onde conhecemos uma senhorinha que mora ali e que tem dois celulares, página no facebook e tudo, rs, "sou conhecida internacionalmente". Voltamos no barquinho do velhinho marinheiro que já não tinha todos os dentes. Em outro momento, pegamos outro barco pequeno para ir ver a revoada dos guarás, que são pássaros cor-de-rosa. Vimos outros pássaros também, que me fizeram pensar em Afrodite. E vimos golfinhos, que me lembram Apolo e Dioniso. Dessa vez era um lugar longe, umas três horas de barco, e choveu, e ele encalhou, mas conseguimos sair e voltamos na chuva à noite, sob relâmpagos ao longe no horizonte - o que me recordava Zeus e Hera. Abraçada com ela à minha frente no barco, eu ia cantando canções de mar, especialmente a que diz "tenho os olhos no cruzeiro e as sereias como guia, e Netuno me protege noite e dia; e nem piratas nem borracas nem dragões vão me impedir de ser feliz..." (Kleiton e Kledir). Foi um dos momentos mais mágicos. Mas não parou aí. Quando retornamos para nossa cidade, pegamos um catamarã e, enquanto quase todos os passageiros iam embaixo na cabine, nós subimos para perto da vela e ali atravessamos, novamente sob chuva. </div>
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Depois dessa viagem, a baixa maré poseidônica que ela vinha tendo parou, se tornou outra pessoa, relaxada, de bom humor. Em alto mar, ela se refez. E eu confirmei mais uma vez que os deuses olham por essa relação. Por mim. </div>
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Hoje, quando olhei pra lua, crescente e brilhante à minha frente enquanto dirigia de volta para casa após uma boa noite com ela, me senti inspirada a escrever aqui. E depois a lua entrou numa nuvem escura, mas seu brilho realçava lindamente os contornos da nuvem, e a lua estava acompanhada por uma estrela mais ao alto a seu lado, provavelmente Vênus. </div>
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Possivelmente eu escreveria mais detalhes se tivesse escrito antes, mais perto de quando aconteceu, mas no final de abril comecei a entender por que ainda não tinha sentido essa vontade. Eu poderia contar outras sincronicidades interessantes, mas são mais pessoais. </div>
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Dia desses sonhei que estava com ela e sentia algo no meu bolso, puxava para fora e era um colar de contas de preces com um cisne no meio, ao que no sonho eu entendo como sendo de Afrodite, e não sabia quem tinha colocado aquilo ali. No dia que sonhei isso, fui recitar hinos e cantar na beira do mar, e uma das fotos que tirei da minha sombra na espuma ficou super afrodítico "da espuma do mar". Quando voltei para a calçada, estavam dois pombos um em cima do outro, perto do meu carro. Isso me fez lembrar que ontem ela perguntou onde estavam "os passarinhos" (pombinhos de cerâmica) que ela mexeu, ainda estavam onde ela deixou (no altar a Zeus e Hera). E outro dia sonhei com Dioniso, eu o interpretava e dançava. Comecei a notar coisas dele que se incluíram nos nossos dias também. Enfim, meus sonhos com os deuses vêm voltando a ser mais frequentes.</div>
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O que eu retiro de reflexão dessas coisas que são aparentemente mundanas no nosso cotidiano é que elas também refletem a ação dEles. Como diz a música, "tudo o que move é sagrado", "sim, todo amor é sagrado e o fruto do trabalho é mais que sagrado". Há que se perceber os sinais e encontrar as sincronicidades, aprendendo a prescrutar as coisas pelas quais devemos agradecer, em tudo. Até no que parece banal ou subjetivo. </div>
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Só sei que as marés, apesar de continuarem subindo e descendo, estão mais tranquilas. Ou então fui eu que ganhei habilidades com a prática, porque, como dizem, "mar calmo não faz bom marinheiro". Fico contente de estar sabendo conduzir minha nave por águas tão bonitas...</div>
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<a href="https://1.bp.blogspot.com/-7dgm-oCxIzo/Vzf-_8-6UTI/AAAAAAAADD4/6KgZH0hQqyAJ2-O7Hz3RFjmtbDuio73oQCLcB/s1600/marcalmonaofazbommarinheiro.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://1.bp.blogspot.com/-7dgm-oCxIzo/Vzf-_8-6UTI/AAAAAAAADD4/6KgZH0hQqyAJ2-O7Hz3RFjmtbDuio73oQCLcB/s320/marcalmonaofazbommarinheiro.jpg" width="320" /></a></div>
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Alexandrahttp://www.blogger.com/profile/11007700081991461118noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-6716201595908211181.post-25307232885276867582016-03-06T11:27:00.003-03:002019-02-27T20:27:46.720-03:00Marés Poseidônicas nos meus dias<span style="text-align: justify;">Em novembro de 2013, escrevi o único post sobre Poseidon deste blog (veja <a href="http://sofalex.blogspot.com.br/2013/11/nos-litorais-desse-oceano-atlantico.html" target="_blank">clicando aqui</a>). Uma postagem que não se concluía devidamente, pois eu não tinha as respostas dos motivos para senti-lo tão presente na época. Ao menos não teleologicamente (ou seja, o "para quê" eu estava sendo abordada por Ele). Dois anos depois, novembro de 2015, conheci alguém. Logo estávamos saindo, e passamos o fim de semana do ano novo juntas, quando, a 3 de janeiro, começamos a namorar. Afrodite teve muita participação nisso, fazia ritos a ela para me auxiliar, ainda mais por que o começo foi conturbado. A pessoa que os deuses me enviaram cheguei a pensar que teria algo de Zeus nela, leonina, cheia de si, líder no trabalho... </span><br />
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Então, um belo dia, eu sonhei com Poseidon. Uma estátua dele em tamanho humano, no meu quarto, se mexia e eu sabia que só eu conseguia ver minhas estátuas se mexendo. Ele sorria para mim com um olhar doce, e eu colocava a mão na sua coxa, e desejava ele. Eu pensava como era bom ver esse lado leve e simpático dele, não só o de sacudidor de terras e maremotos que tudo derruba. Acordei sem entender o sonho, mas contei para um amiga e ela prontamente: será que "ela" não é de Poseidon? Eu em nenhum momento tinha pensado nisso, mas acabou fazendo todo o sentido. O lado amoroso do sonho era para mostrar que se tratava do meu relacionamento, pois o olhar e o sorriso dele eram como os dela. E aí as peças foram se encaixando. Não era Zeus - que inclusive se confunde muito com Poseidon. </div>
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Vou falar primeiro dos aspectos físicos: os hinos homérico e órfico sobre Poseidon o descrevem como de belos cabelos escuros (ela os tem), a primeira vez que nos beijamos foi depois de ficarmos diante do mar, ela acha lindo cavalos (já cavalgou kms), ela tem um pingente de prata que dei para ela no formato de um peixe (como ela queria), ela usa um desodorante de 'minerais do mar', ela adora camisas listradas de azul e branco (tipo marinheiro), um dia eu botei um pendrive no carro com várias bandas quando estávamos namorando e ela voltou várias vezes na mesma música "Oceans" do coldplay, quando assistimos Horas Decisivas no cinema - um filme no mar - ela apertava minha mão nas horas de maior tensão (tipo quando as ondas cobriam o barco), entre outros exemplos que talvez eu não me lembre no momento. </div>
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Agora vem o que mais pesa: os aspectos psicológicos. Primeiro: Poseidon, como a carta da Torre no tarô, vem para sacudir as estruturas, derrubar as fachadas, fazer a gente se reconstruir. Eu vinha de um longo tempo de luto, sem sair tanto de casa, agora saio quase todo dia. Segundo: os terremotos e tensões poseidônicas, que vêm em ciclos, são constantes nela e no nosso relacionamento, o que eu chamo de "as marés poseidônicas". Uma hora ela está me assustando, na outra está me conquistando. Sabe aquela frase da Marilyn Monroe "se você não consegue lidar com o meu pior, você não merece o meu melhor"? Pois é, todas as tensões que ela me causa quando joga água em cima de mim são compensadas pela beleza do oceano e pelas brisas marinhas que impulsionam meu barco na calmaria. Ouço dela tanto coisas muito duras quanto coisas muito lindas. O "uau, ela disse isso?" caberia para os dois extremos se eu lhes contar. E as coisas duras, de certa forma, fazem a gente crescer. </div>
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<i><span style="font-size: x-small;"> </span></i><i><span style="font-size: x-small;">[ Como citei no post linkado acima, "A Posídon é atribuído o domínio do medo, das coisas imprevisíveis, por isso ele costuma causar temor. Seu tridente é descrito como tão terrível quanto o raio de Zeus; podendo distribuir benesses ou castigos, podendo agitar ou acalmar as águas. Ele dissolve provocando borrascas e tormentas, mas também pode acalmar a fúria do mar e fazer brotar nascentes." ]</span></i></div>
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O mar é variável, então está muito ligado a mudanças. Uma das mudanças que tenho experimentado é no meu visual. Cortei o cabelo, repaginei meu guarda-roupa... aumentei minha auto-estima, diminuí minha insegurança. No post anterior, citei que a psicologia arquetípica falando do mar menciona que 'Poseidon é senhor desse mundo. Aqueles que têm a sorte de receberem permissão para adentrá-lo, deveriam ser gratos e oferecer o devido respeito. Quando Poseidon está agindo, nós vivemos as emoções muito intensamente, e isso nos dá bastante coisa com a qual trabalharmos por uma transformação real. Entender essas coisas, vai lentamente elevar sua auto-estima e sua auto-aceitação.' É bem isso o que vem acontecendo.</div>
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<i><span style="font-size: x-small;">[imagine um casal Zeus - Poseidon, rs]</span></i><span style="text-align: justify;"> </span></div>
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Os amigos dela não entendem, mas eles só conhecem o lado poderoso e imponente do mar (e da leonina), eu conheço o lado que mostra a sorte que tenho de estar nesse reino de benesses e nascentes transformadoras. A minha calmaria, paciência e determinação taurinas ajudam muito a enfrentar os tsunamis, e a paixão antiga que gerações da minha família têm pelo mar deve ajudar também. </div>
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<br /></div>
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Outra coisa curiosa é que faz tempo que não tenho sonhado mais com o mar cobrindo o lugar onde eu estava, e esses sonhos eram sempre uma constante. Talvez isso também confirme que eles anunciavam este ciclo que agora veio. Só me resta agradecer e honrar a oportunidade. Espero que ela não passe rápido como uma onda, e sim que ancore e se estabeleça como um tesouro submarino. </div>
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Alexandrahttp://www.blogger.com/profile/11007700081991461118noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-6716201595908211181.post-34365734591833109962015-12-24T18:32:00.001-03:002015-12-24T18:32:57.237-03:00Dioniso nestas datas<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-SYw8QtV31ME/VWi69BgGxCI/AAAAAAAACjY/psc7oBA7EMo/s1600/clip_image005.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="122" src="http://4.bp.blogspot.com/-SYw8QtV31ME/VWi69BgGxCI/AAAAAAAACjY/psc7oBA7EMo/s1600/clip_image005.jpg" width="320" /></a></div>
<blockquote class="tr_bq" style="font-family: sans-serif; font-size: 13.696px;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.696px;">Há alguma evidência de que o nascimento de Dioniso fosse celebrado antigamente por volta do solstício (próximo a 25/12)? Vamos ver? </span></div>
</blockquote>
<blockquote class="tr_bq" style="font-family: sans-serif; font-size: 13.696px;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.696px;">No Panárion (Gr. Πανάριον), um tratado sobre heresias cristãs, escrito por Epifânio (Epiphanius; Gr. Ἐπιφάνιος) [315-403 EC aprox.], bispo de Salamís (Gr. Σαλαμίς), há uma passagem curiosa com relação ao 6 de janeiro, sendo esta data a festa cristã da Epifania (Gr. Ἐπιφάνεια, na antiguidade Teofania: Θεοφάνεια). Epifânio afirma que o nascimento de Jesus de Nazaré aconteceu nesse dia (mais tarde, a palavra Epifania passou a se referir ao Dia de Reis, mas aparentemente nessa época ela se referia à Natividade). Epifânio continua dizendo que, nesse mesmo dia, os pagãos estavam celebrando grandes festivais em várias localidades, e que na Alexandria havia uma festividade no templo de "Kóri" (Core ou Kore; Gr. Κόρη) ao alvorecer, celebrando o nascimento de "Aióhn" (Aion ou Aeon; Gr. Αἰών) por Kore. Aion é um Deus que é identificado com várias deidades, uma delas sendo Dioniso (Guthrie, W.K.C. A History of Greek Philosophy: The Earlier Presocratics and the Pythagoreans. Cambridge University Press, p. 478), assim como Osiris (Σοῦδα), que é normalmente identificado pelos gregos antigos como Dioniso. Epifânio continua dando exemplos, que em Pǽtra (Petra; Gr. Πέτρα), no mesmo dia, eles celebravam o nascimento do "filho do legislador de tudo" com uma virgem. Isso tudo pode ser encontrado no Panárion 51.22.3-11.</span> </div>
</blockquote>
<blockquote class="tr_bq" style="font-family: sans-serif; font-size: 13.696px;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.696px;">Macrobius escreve no Saturnália (I.18.9-10) do século IV EC, equiparando Dioniso com o sol: "...algumas imagens do pai Liber estão representadas na forma de um garoto, outras de um jovem homem, às vezes também barbado, ou mesmo mais idoso... Mas as diferentes idades são para serem entendidas com referência ao sol. O sol é muito pequeno no solstício de inverno, como a imagem que os egípcios trazem de seu altar numa data fixa, com a aparência de uma criança pequena" (Macrobius Saturnalia Books 1-2, trans. Robert A. Kaster, 2011, LCL 510, Harvard Univ. Press [Cambridge MA and London England], pp. 249-251).</span> </div>
</blockquote>
<blockquote class="tr_bq" style="font-family: sans-serif; font-size: 13.696px;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.696px;">O solstício é no dia 21, mas nos tempos antigos o minguante era para ocorrer vários dias depois, tipo no dia 25. E por que temos o 6 de janeiro dado por Epifânio? Podemos resolver isso como segue: "Com relação às datas, Norden demonstrou que a mudança de 6 de janeiro para 25 de dezembro pode ser explicada como resultado da reforma introduzida pelo calendário mais acurado de Juliano, usando o cálculo egípcio antigo que determinou 6 de janeiro como a data do solstício de inverno” (Greek Myths and Christian Mystery by Hugo Rahner, 1971, Biblio and Tannen [New York], p. 141).</span> </div>
</blockquote>
<blockquote class="tr_bq" style="font-family: sans-serif; font-size: 13.696px;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.696px;">Aion é uma deidade identificada com Dioniso nos ensinamentos do Orfismo. Essa identificação é corroborada nesta citação das notas de um livro de Vittorio D. Macchioro: "Aion era filho de Kronos (Euripides: Heraclidai, 898), ou seja, idêntico a Protogonus de acordo com a teogonia de Hellanikos (Kern, p. 130, 54; p. 158, 85); mas Protogonus, Dioniso e Phanes eram idênticos (Aristocriton Manichæus: θεοσοφία 116, 15, Buresch; = Kern, 61). Erichepaius era idêntico a Dioniso (Hesychius: Ἠριξεπαῖος; Proclus: In Platonis Timœum, II, 102 D, E; = Kern, 170); Phanes com Erichepaius (Hinos Órficos, VI, 9). Protogonus era um dos nomes de Phanes (Damascius: Quœstiones de primis principiis, III; = Kern, 64) e de Erichepaios (Proclus: no Timeu de Platão, 29A; = Kern, 167); Phanes era Aion (Proclus: no Timeu de Platão, E; = Kern, 107). Uma inscrição de uma estátua de Aion em Eleusis (Dittenberger: Sylloge Inscriptionum, 3ª ed., 1125) confirma uma afirmação sobre a identidade de Phanes (Dioniso) e Aion. Aion era filho de Kore, ou seja, a mãe de Dioniso (Epiphonius: Panarion, 51, 22, 8-10). Epiphonius confunde a Deusa Kore com a Virgem, devido ao significado da palavra grega ϰόρη (de ORPHEUS TO PAUL: A History of Orphism by Vittorio D. Macchioro, 1930, Henry Holt and Co. [New York], pp. 251-252, nota 22.) </span> </div>
</blockquote>
<blockquote class="tr_bq" style="font-family: sans-serif; font-size: 13.696px;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.696px;">Podemos seguir a sugestão moderna do festival dos Doze Dias Dionisíacos, começando dia 25 até o dia 5, e chamá-lo de Vakkhoyǽnna (Bacchogenna), genna significando nascimento + Baccho (Baco, Dioniso). Na antiguidade, existiam vários festivais nessa época. Esta é a estação brumal (inverno) e, por alguma razão, parece que essa época pertence a Dioniso, indo até a Anthesteria (festival das flores). Não tenho certeza por quê, mas talvez tivesse algo a ver com ele assumindo o trono em Delfos, o centro do mundo, no inverno. </span></div>
</blockquote>
<div style="font-family: sans-serif; font-size: 13.696px; text-align: justify;">
(texto de Kallímakhos, tradução de Alexandra) </div>
<div style="font-family: sans-serif; font-size: 13.696px; text-align: justify;">
<br /></div>
Alexandrahttp://www.blogger.com/profile/11007700081991461118noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6716201595908211181.post-30885702894681847382015-09-13T10:31:00.001-03:002015-09-13T10:35:08.819-03:00Ofensa e Purificação<div style="text-align: justify;">
No último mês, dois rapazes coincidentemente vieram me perguntar sobre estatuetas quebradas acidentalmente, as quais haviam tentado consertar, mas temiam estar cometendo alguma ofensa ou miasma mantendo-as assim no altar. Analisando ambos os casos, vimos que não havia problema. Então acredito que a dúvida pode ser compartilhada aqui, acrescida de outros exemplos sobre essa questão do que é ou não ofensa. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Claro que há situações em que existe sim uma ofensa, como a de Hipólito a Afrodite ao desprezá-la, a de Niobe a Leto ao se achar melhor do que ela, entre outras. E claro que, antes de rituais e ofertas, deve-se pelo menos lavar as mãos, se possível tomar banho e vestir roupas limpas: </div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
"Nunca verta uma libação do cintilante vinho a Zeus depois da aurora com mãos não-lavadas, nem a outros dos deuses imortais; senão eles não só não ouvirão suas preces como também as cuspirão de volta." <i>(Hesíodo, 'Os Trabalhos e os Dias', verso 724ss)</i><br />
“...além disso, eu tenho pavor de com mãos não-lavadas verter libação do ardente vinho a Zeus; nem deve um homem sábio fazer preces ao filho de Cronos, senhor das nuvens escuras, todo sujo/coberto de sangue e imundície." <i>(Homero, 'Ilíada', VI, 265ss)</i><br />
"Ela então se banhou, e colocou vestes limpas no corpo, e subiu para a câmara superior com suas criadas, e - colocando grãos de cevada em um cesto - fez preces a Atena." <i>(Homero, 'Odisseia', IV, 749ss)</i></blockquote>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://www.organicsurvivalistsite.com/wp-content/uploads/2011/03/Water-Purification.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://www.organicsurvivalistsite.com/wp-content/uploads/2011/03/Water-Purification.jpg" /></a></div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Em primeiro lugar, tenham em mente que os grandes miasmas são do tipo morte, sexo, vícios, crimes, <i>hybris</i>, calamidades, pragas, epidemias, injustiças, impiedade etc. São coisas que perturbam a lei natural e mudam a ordem da vida, como o contato com agentes estranhos, com nascimento, com morte, com crime, com lugares violados, ou com o resultado de ações que desagradaram aos deuses. Em segundo lugar, lembrem que miasmas podem ser purificados pela catarse. O próprio lavar as mãos e tornar a água lustral é um exemplo. Você pode se purificar com água, purificar o ambiente com incenso, expulsar agentes de miasma com aspersão e palavras, purificar a alma com música e dança, e fazer rituais específicos de purificação nos festivais (Diasia, Thargelia etc). </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ou seja, <b>não há motivo para deixar o medo da ofensa lhe paralisar</b>. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Quando li os dois casos da estatueta, considerei o ato não-intencional ser sinal de que a deidade estava lhes defendendo de alguma coisa ruim, mas se a rachadura foi pequena ou pôde ser consertada, isso demonstrou o cuidado do devoto, e não havia por que jogá-la fora ou tirá-la do altar. Impiedade é não ser pio, não ser devoto, e em ambos os casos eles foram pios ao se preocuparem com o caso, não houve miasma de impiedade ou ofensa. Uma estatueta pôde ser consertada, outra ficou com o que chamei de "cicatriz de batalha", mas nada que desabone a presença dessas ofertas votivas no altar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
De qualquer forma, <b>na dúvida se algo gerou ou não miasma, faça uma catarse/purificação</b>. Mas não fique impedido ou desanimado de fazer as coisas por temer retaliações. Cada caso pode ser diferente do outro, mas nenhum é irreversível. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Esta semana eu utilizei meu pirógrafo para fazer uma gravura que não era dos deuses. Eu não me lembrava se tinha ou não consagrado o pirógrafo para trabalhos devocionais, mas mesmo assim o usei. Antes de terminar, ele esquentou tanto que derreteu o botão e quebrou. Levei minha bordoada (inclusive financeira), pois tive que encomendar outro. Mas é isso, aprendi e assim seguimos em frente. Se não erramos, não aprendemos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Em suma, não deixe de lavar as mãos antes de fazer ofertas ou ritos, purifique-se após o contato com coisas geradoras de miasma (mesmo que em dúvida se são ou não), observe as consequências das coisas para aprender com elas e, no mais, não fique paralisado pelo medo de ofender. </b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Há males que vêm para o bem, como algo que quebra para afastar coisas piores, ou como precisar comprar uma máquina de pirografia melhorzinha e novinha, rs. Mantenha-se centrado e busque o equilíbrio, o resto se ajeita. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Alexandrahttp://www.blogger.com/profile/11007700081991461118noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6716201595908211181.post-19116860536497267192015-07-24T21:05:00.000-03:002019-02-27T20:26:50.678-03:00Kronos <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://www.wpclipart.com/religion_mythology/Greek/Greek_4/Cronus.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://www.wpclipart.com/religion_mythology/Greek/Greek_4/Cronus.png" width="242" /></a></div>
<span style="background-color: white; color: #222222; line-height: 19px;"><br /></span>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 19px;"><span style="background-color: #cfe2f3; font-family: inherit;">Na Era de Ouro regida por Cronos e Réia, não havia trabalho laborioso nem opressão, e as pessoas eram imortais. Antes da ordem trazida por Zeus o mundo era caótico. O festival da Krónia, por exemplo, celebra a igualdade e a liberdade irrestrita. Mas Cronos foi atado a Hélio por grilhões de aço. Assim, Cronos representa tanto a longevidade (da idade do Ouro) quanto o sofrimento (do tempo que ceifa). </span></span></div>
<span style="background-color: #cfe2f3;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit; line-height: 19px;"></span></span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: #cfe2f3; font-family: inherit; line-height: 19px;">A longevidade é parceira do sofrimento. Tudo o que vive, enquanto vive, pode sofrer. Choramos ao nascer, sentimos dor ao envelhecer, ficamos doentes e morremos. Tudo o que se experimenta entre o nascimento e a morte faz parte do tempo, e Cronos sabe o tempo certo de cada coisa. Quando ele ceifa algo, ele pega essa colheita e distribui, seja na mesma vida ou na próxima. Essa distribuição faz parte da igualdade que experimentamos na Krónia, onde escravo e senhor celebram juntos. </span></div>
<span style="background-color: #cfe2f3; font-family: inherit; line-height: 19px;">
</span>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: #cfe2f3; font-family: inherit;"><br style="line-height: 19px;" /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: #cfe2f3; font-family: inherit; line-height: 19px;">Cronos ensina o desapego e a resignação. Só nos libertamos do sofrimento quanto passamos pelo próprio sofrimento e aprendemos com ele. Só ficamos vacinados contra um vírus quando injetam um projeto de vírus antes na gente. No combate direto é que ficamos imunes. Esse desapego não é só das coisas materiais externas, mas também do nosso próprio corpo. Sofremos para nos desapegar, para percebemos que tudo no mundo é efêmero, e nos libertarmos. Cronos nos ensina a saber renunciar e a morrer para o mundo, só assim nos aproximamos de como se vivia na Idade do Ouro e se tem a longevidade do espírito, da alma, da mente, da consciência, enquanto o físico muda e perece.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: #cfe2f3; font-family: inherit;"><br style="line-height: 19px;" /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: #cfe2f3; font-family: inherit; line-height: 19px;">Por isso que na Krónia costumamos pedir que Ele nos mostre uma forma de liberdade (seja financeira, de relacionamento, ou em que outra área for) e que nos ajude a sair das adversidades. Não é por carregar a foice que podemos comparar Cronos com a figura da Morte de uma forma negativa, e tomá-lo como alguém a ser temido, com quem não deveríamos mexer. Mesmo os Titãs têm suas funções necessárias à manutenção dos planos dos Destinos e à realização do daimon de cada ser humano. </span></div>
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<span style="background-color: #cfe2f3; font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: #cfe2f3; font-family: inherit; line-height: 19px;">Então<span style="font-family: "sans serif" , "verdana" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, <span style="font-family: "sans serif" , "verdana" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">um<span style="font-family: "sans serif" , "verdana" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> bom festival da Krónia a todos!</span></span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 19px;"><span style="background-color: #cfe2f3; font-family: inherit;"> </span> </span>
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Alexandrahttp://www.blogger.com/profile/11007700081991461118noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6716201595908211181.post-44847603275927301412015-06-28T20:33:00.001-03:002015-09-13T10:30:16.576-03:00Patronato parte 4<i>Do texto "Patron Gods & Polytheism" de Ian Corrigan, com tradução resumida e adaptada minha:</i>
<br />
<blockquote>
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<blockquote class="tr_bq">
Na minha opinião (Ian), a ideia de que os praticantes individuais tem dos deuses 'patronos' entra no neopaganismo através de duas ou três direções. Primeiro, do costume cristão ortodoxo de recebermos um santo padroeiro no batismo. Isso não parece ter raízes pagãs, mas está arraigado na imaginação ocidental. Segundo, das práticas de patronagem das Religiões Tradicionais Africanas no novo mundo. Costumes como a cerimônia vodu haitiana do "lave tet" e o "coroamento" da santeria (semelhante ao candomblé) apresenta ao cultuador como sendo naturalmente e intrinsicamente alinhado com um dos Poderes daquele sistema. O iniciado determina, através de adivinhação e ritual, quem é o 'Deus de Cabeça' e ritualmente reconhece esse relacionamento. O espírito (ou orixá) então se torna seu 'deus' pessoal de trabalho do iniciado, embora ele ou ela possa interagir com muitos outros espíritos.<br />
<br />
Um dos problemas ao traduzir estudos sobre as religiões antigas para trabalhar no culto moderno é determinar quais dos inumeráveis Seres Sagrados devem receber nossa atenção. Nos aproximamos de um panteão étnico, fazemos nossas leituras, e começamos a fazer ofertas. Os antigos devem ter tido esse problema também, e podemos perguntar como eles resolviam isso. O foco em deidades específicas parece ter vindo de várias direções – talvez especialmente de família e casta, de profissão e de localização. Todos esses podem nos dar algum guia para nossas escolhas modernas, embora estejamos em desvantagem pela cultura que nos cerca não ser politeísta. Não iremos herdar os deuses da família, nem ter deidades locais cujos festivais sejam norma da comunidade. Mas ainda podemos tirar alguma referência da nossa carreira e escolhas artísticas na vida, e é isso o que muitos fazem hoje em dia.<br />
<br />
Quando eu (Ian) comecei, eu me fixei na ideia do patronato, da pessoa escolhendo ou sendo escolhida por uma deidade específica que se tornaria a deidade do seu altar, da sua casa, do seu trabalho... Experimentei métodos drudas com roteiros e materiais me guiando, mas em alguns anos os problemas com aqueles modelos se tornou óbvio. Primeiro que o método era avançado demais para novos alunos, que desconheciam sobre meditação e rituais. Segundo que alguns praticantes se apegavam ao modelo e estancavam naquilo, tendo o tipo de resultados que podemos imaginar: se tornavam reais devotos de uma deidade em particular, como uma espécie de henoteísmo, com pouca vontade de cultuar os outros deuses além do patrono - e isso era inconsistente com o que conheço de politeísmo.<br />
<br />
Isso é típico de espiritualidades auto-orientadas. A maior diferença entre nós e os sistemas das Religiões Tradicionais Africanas é a maneria pela qual os patronos são escolhidos. Nesses sistemas, isso é feito por uma autoridade externa – pela adivinhação de um sacerdote. A decisão é amarrar o iniciado independente de como ele ou ela "se sente" com o resultado. Eu entendo que mudanças e correções não passam despercebidas, mas em geral o fato é que esse patronato é imputado, não escolhido.<br />
<br />
Não conheço nenhum sistema neopagão que esteja pronto para administrar tal coisa. Os sistemas divinatórios druídicos geram apenas indicações de vários deuses e espíritos como orientação de curso. Não tem um sistema fixo assim no ocultismo ocidental ou mesmo no paganismo. E mais, não há nenhuma linhagem ou fonte de autoridade aceita que poderia tornar as pessoas dispostas a aceitar a decisão de uma outra.<br />
<br />
Depois de talvez meia dúzia de anos trabalhando com o modelo original, os druidas da ADF formalmente mudaram a natureza do requerimento. Em vez de prescrever a patronagem, começamos falando sobre o desenvolvimento do culto no lar. Assim focamos nas práticas primeiro, e a exigência de ter um patrono conhecido foi retirada. Essa história da ADF reflete o desenvolvimento da ideia do patronato na comunidade pagã em gearl. Ainda há um verdadeiro movimento de devoção henoteísta, mas essa exclusividade de cultuar só os patronos não reflete a prática da maioria dos politeístas tradicionais.<br />
<br />
É necessário um equilíbrio entre intimidade e utilitarismo. Nós desenvolvemos alianças e amizades entre os espíritos através de um longo e focado trabalho. Nosso 'culto doméstico' é uma impressão única da nossa história e expressão espirituais. Muitas pessoas mantêm um relacionamento central com bem poucos deuses por muitos anos. Porém, para novos estudantes, há frequentemente um período de transição, e um sentimento de ser 'passado' de um deus pro outro.<br />
<br />
Nenhum método formal de assegurar a patronagem se tornou aceito por todos no politeísmo moderno, e nenhum método adivinhatório ou autoridade sacerdotal apareceu também. Ainda assim, o assunto da patronagem continua a nos permear. Muitos novatos perguntam "como descubro meu patrono?" e alguns graus de confusão ainda existem. Claro que muitos chegam de sistemas religiosos que já possuem suas regras e aí se deparam com a noção de que estão livres para fazer como quiserem. A partir desse momento, podemos apenas dar algumas dicas, tais como:<br />
<br />
• Seu caminho é só seu, mas o progresso é mais fácil em caminhos sinalizados. Escolha um sistema e trabalhe nele por pelo menos um ano, de preferência três. Ele vai se adaptar com o tempo, mas comece com um esboço.<br />
<br />
• Escolha uma ou duas culturas antigas nas quais focar sua leitura e experiências. Comece, talvez, com as descrições dos deuses nos mitos, mas esforce-se para ler sobre os modos antigos de vida, ouvir a música daquela cultura etc.<br />
<br />
• Monte um altar e comece a cultuar. Os espíritos não costumam falar com você ao menos que você fale com eles antes. Há muitos lugares para encontrar instruções em como começar. Se você está em dúvida de para quem fazer ofertas, há vários modelos de ofertas gerais a um panteão.
• Abra seu coração. Trabalhe em habilidades meditativas e deixe as ideias das suas leituras e trabalho-ritual permearem isso. Nem todo mundo se volta para um deus específico tão rápido. Coloque muitos deuses daquela cultura no seu altar, os que você quiser, e trabalhe com eles enquanto estuda.<br />
<br />
• Se você se ver com uma inclinação óbvia para um deus ou espírito, vá em frente. Resista à exclusividade, mas permita uma ênfase, e observe seu coração e os indícios/sinais. Use adivinhação também.<br />
<br />
• Não resista à mudança, mas não confunda um interesse momentâneo com um chamado. Uma vez que você estabelece trabalhar com um aliado, mantenha isso mesmo se começar algo novo, tudo de acordo com o seu entendimento, claro.<br />
<br />
• Depois de um ano ou três desse tipo de trabalho, é provável que você tenha um senso de quais deuses estão no centro da sua constelação pessoal de culto. Depois de mais uns nove anos, as coisas podem ser ou não diferentes. Não se preocupe, nosso trabalho muda de forma como a margem de um rio. Você já viu uma, né?<br />
<br />
Uma coisa que me agrada é que muitas religiões neopagãs estão experimentando várias abordagens e mudando e respondendo aos resultados desses experimentos. Que continuemos assim! Ergam seus altares!</blockquote>
</div>
</blockquote>
( <a href="http://www.patheos.com/blogs/intothemound/2015/06/patron-gods-polytheism.html">http://www.patheos.com/blogs/intothemound/2015/06/patron-gods-polytheism.html</a> )
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://www.talesbeyondbelief.com/images/gods-33.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://www.talesbeyondbelief.com/images/gods-33.jpg" height="131" width="400" /></a></div>
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A minha intenção ao trazer esse texto do site do Patheos é - além de reforçar a questão do politeísmo <i>x</i> henoteísmo (ou duoteísmo) - também porque há pessoas que estão indo buscar respostas sobre o patronato em sistemas africanos que sincretizam com o helenismo, e isso não é bom, porque são dois sistemas sendo misturados. Fora que "oráculos" afros podem errar seu "orixá" - já escutei histórias assim, e no helenismo o patrono se descobre, não se impõe, quem te conhece melhor é você ("conhece-te a ti mesmo"). Como o autor fala no primeiro item dos marcadores, "escolha um sistema e trabalhe nele". Decida se você vai ir pelo reconstrucionismo ou por outra abordagem. Misturar só pode complicar as coisas, ainda mais para quem está no começo. </div>
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O ideal é centrar no culto doméstimo, na prática por alguns anos, depois você vê se foi criado ou não um relacionamento de patronato, o qual nem sequer é obrigatório. As pessoas que chegam no politeísmo sem um 'background' de ter "santo padroeiro" ou "orixá de cabeça", elas não costumam sentir falta de ter patronos, e isso de certa forma é bom. </div>
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<br /></div>
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Apesar de termos feito quatro postagens sobre o patronato, no fundo o fizemos justamente para retirarmos essa preocupação com a patronagem, para mudarmos nosso foco para algo mais politeísta mesmo. Se não existe uma resposta fixa sobre patronato no nosso sistema, deve ser justamente porque ela não seja tão fundamental. Não é para buscar em outro lugar, e sim para ficarmos mais abertos a um número maior de deuses. Como o autor diz, "essa exclusividade de cultuar só os patronos não reflete a prática da maioria dos politeístas tradicionais". Então espero não precisarmos ter mais ansiedades com relação a essa questão... (mas, se você ainda tiver, pode nos chamar pra conversar).</div>
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Alexandrahttp://www.blogger.com/profile/11007700081991461118noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-6716201595908211181.post-13952171317451406682015-06-27T16:20:00.000-03:002015-06-27T19:14:13.718-03:00Pelo amor e pelo afeto<div style="text-align: justify;">
Falando como alguém que tem estado próxima a Atena e Ártemis, e em concordância com muitos mestres espirituais de várias culturas - que dizem que a prática d<b>o sexo alimentaria o nosso apego aos prazeres materiais </b>e que precisamos canalizar nossa energia sexual para algo mais sublime -, venho aqui defender <b>o</b> <b>afeto</b>. Qualquer prática sexual (homo ou hetero) <i>poderia</i> complicar a vida espiritual sim, mas não podemos dizer o mesmo sobre o amor. A homoafetividade <b>não atrapalha em nada a vida espiritual</b> (a heteroafetividade também não). E tenho certeza de que <b>o desrespeito, a discriminação e o ódio</b>, esses <b>sim </b>são bem mais prejudiciais à realização da excelência. </div>
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Os hindus falam de três modos da natureza: <b>o modo da ignorância, o modo da paixão e o modo da bondade</b>. Ora, é fato de que as pessoas que discriminam, sentem ódio e preconceito, estão no modo da ignorância, o que é bem pior do que estar no modo da paixão (com os desfrutes diversos do nosso apego aos prazeres, sejam eles de que orientação forem). E, se é difícil vivermos sob o modo da bondade, se já vamos mesmo nos envolver em algo que nos <i>distraia</i> da caminhada espiritual, se vamos ter uma vida sexual ativa, então que seja com alguém com quem temos afeto, com quem amamos de verdade. É melhor e mais evoluído estar no modo da paixão do que no da ignorância que acha que o 'eu' é separado do 'outro'. Essas pessoas preconceituosas estão mais longe da iluminação do que as pessoas movidas pelo desejo ou pelo simples afeto por quem quer que seja.</div>
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A conquista destes últimos dias trata do casamento igualitário, do direito que as pessoas têm de registrarem que se uniram afetivamente a quem elas amam. Se depois disso elas vão pra cama e o que elas fazem em quatro paredes é indiferente para os outros, só diz respeito a elas. Isso é algo que o povo do modo da ignorância precisa entender. <b>Nenhuma religião pode pregar contra o amor e o afeto.</b> E nenhuma também deveria se intrometer na vida íntima, já que o caminho evolutivo é pessoal, mas, ainda assim, se vão pregar contra algo, que seja contra o sexo em geral, não contra o afeto LGBT. ("Ah, mas é que dois iguais não procriam" já não é desculpa, os diferentes que são estéreis ou esterilizados também não procriam e ninguém faz marcha contra eles.) </div>
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<br /></div>
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Alguns podem querer vir aqui dizer que o sexo é a expressão do amor, mas no fundo vocês sabem que não é bem assim. Já estive sexualmente envolvida com pessoas que eu jamais amaria, assim como acredito que a maior intimidade não é ficar nu diante do outro. Provavelmente é mais íntimo um/a amigo/a que dormiu comigo num acampamento - com quem nos deixamos estar inconscientes e entregues ao lado, sem saber se iremos falar algo, se iremos roncar, se vai cortar nosso cabelo ou nos matar, se vai nos deixar sozinho e sair correndo caso aviste uma cobra - do que um/a 'peguete' de uma noite física com duas pessoas despertas que mal sabem o nome um do outro.</div>
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Por isso que às vezes podem achar que jogo um banho de água fria quando alguém vem me pedir que eu realize o casamento deles após poucos meses que se conhecem. Mas me parece que só acham isso no início, depois entendem que eu os fiz refletir sobre as razões de quererem se casar. Qual a idealização que se fez daquela cerimônia, em termos de mudança de vida? É uma celebração do amor ou é uma garantia de posse ('meu' marido) e uma expressão de apego a alguém que lhe desperta desejo? Independente de hetero ou homo, o afeto deve prevalecer. Não sou contra o casamento, mas como orientadora espiritual eu não posso deixar de instingar as pessoas a refletirem sobre suas motivações. No entanto, se mesmo sabendo que é apenas desejo físico, ainda assim quererem se casar, elas têm esse direito. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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Tenho observado que meus contatos das redes sociais que são espiritualizados são os que mais apoiam a causa da diversidade sexual. Porque aqueles que, apesar de religiosos, não são evoluídos espiritualmente, vão estar se apegando à "heresia da separatividade", no modo da ignorância, e combatendo o <b>direito</b> que o outro tem de ser diferente dele.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Portanto, se você se acha religioso e ainda acha "errado" o amor, ou chama de "modinha" a defesa aos direitos igualitários, repense suas atitudes, e aprenda a não julgar o afeto, que em nada se relaciona com os "prazeres da carne" e sim com o movimento de dirigir sua ternura a outra alma que lhe é complementar. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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<b>Se abandonar o apego material é difícil, ao menos abandonemos o ódio</b> e fiquemos no meio-termo entre a ignorância e a bondade, tentando vencer nossas paixões aos poucos, mas sempre com muito <b>respeito</b>.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E possamos celebrar o orgulho de termos conseguido avançar nesse caminho.</div>
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<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://ulbra-to.br/encena/uploads/psicologia-e-diversidade-sexual_1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://ulbra-to.br/encena/uploads/psicologia-e-diversidade-sexual_1.jpg" /></a></div>
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Alexandrahttp://www.blogger.com/profile/11007700081991461118noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-6716201595908211181.post-10133733958812112302015-06-15T19:14:00.002-03:002015-09-13T10:30:30.333-03:00Não Somos Duoteístas! (ou 'Patronato - Parte 3')<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-eVHkR_nssv8/UPh2HwlxkVI/AAAAAAAAQVI/vkEb0B0tNKg/s1600/Athena_nike.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="http://3.bp.blogspot.com/-eVHkR_nssv8/UPh2HwlxkVI/AAAAAAAAQVI/vkEb0B0tNKg/s1600/Athena_nike.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<i>Atena. Just because. rsrs</i></div>
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<br /></div>
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Precisamos mais uma vez esclarecer sobre os patronos. O maior equívoco que tenho percebido com várias pessoas é uma excessiva preocupação com a descoberta dos patronos de uma forma que se assemelha a um duoteísmo. Não sei se isso é influência das religiões afro em que se tem um orixá de cabeça e de corpo, ou das ficções mitológicas que pregam o ser "filho" de um deus e/ou deusa, mas a patronagem no helenismo não é bem assim. Sim, nós costumamos ter um par de deuses como patronos, mas <b>não são os exclusivos</b> em culto. Por exemplo, eu estou numa fase super Ártemis, e já tive essa fase várias vezes, mas não questiono ser de Atena. A maioria das pessoas fica em crise quando está numa relação forte com um deus, achando que ele está se mostrando o patrono. Ora, a gente pode ter um relacionamento profundo com diversos deuses. Não é tipo termos uma familiaridade com "pai e mãe" e todo o resto não ser família, os outros deuses serem só amigos, não é isso. Até quando me perguntam quais meus principais deuses de culto, eu não cito só Atena e Zeus. Nós celebramos todos os deuses possíveis, mas existem alguns que têm mais a ver com o nosso modo de ser e viver no mundo. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O que percebo é que os patronos são deuses que <b>honramos com a nossa vida</b>. Eu não faço todos os festivais a Atena, mas eu a honro com a minha conduta. Sempre que ajo com sabedoria ou astúcia, por exemplo, vou estar agradando Atena; se eu demonstrar 'xenia' (hospitalidade) e tiver liderança de grupo, agrado a Zeus. Posso estar cultuando Ártemis ultimamente, mas continuo honrando Atena na maneira que levo a vida. Os outros deuses eu preciso fazer um esforcinho maior para honrar. Eu tenho que parar para pensar um pouco, não é tão natural. Por mais que eu ame ambientalismo e tente viver com os ideais amazonas, não sou tão fisicamente forte/esportista como Ártemis, tão pouco me ligo no lado cuidadora de bebês dela. Essa questão dos epítetos também é interessante - quando mais nova, eu tinha o lado sedutor de Zeus, hoje estou mais para o lado líder e organizada, saindo de um aspecto para outro. Dioniso veio como uma grande paixão na época das minhas pós-graduações, mas seu lado caótico entrou em conflito com a ordem de Zeus e a sobriedade de Atena. Já Zeus me chegou muito discreto. Eu poderia ter resistido a ele em nome de um suposto feminismo diânico anti-deuses-paternos e preferir Dioniso que é mais "trans", mas eu não precisei me esforçar para aceitar Zeus, porque quando o conhecemos de verdade sabemos que ele é maravilhoso. Mas também é maravilhoso Hermes que nos acompanha no trânsito, na comunicação, no trabalho... E igualmente lindo é Apolo, com o qual sonhei após tocar numa píton albina e isso ter melhorado minhas leituras oraculares. E o que falar de Ares, que me apareceu num sonho com uma tribo amazona? São tantos, e é tão bom existirem tantos, que eu não quero me <b>apegar </b>apenas aos patronos, e nem devo ser<b> ingrata </b>de excluir os outros da minha vida.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Há uma pessoa que me disse que achava que era de um patrono, depois achou que era de outro, daí "se despediu" do primeiro, agradecendo e se colocando à disposição e sem tirá-lo do altar. Isso não entrou na minha cabeça. Parecia uma "demissão"! A pessoa me disse que era tipo uma satisfação, mas Otto já falava que os deuses gregos não precisam de satisfação de que você está "namorando"/cultuando outro, porque eles não são ciumentos. Aí a pessoa disse que não era ciúmes, era como um "olha, eu não estou te ignorando nem estou bravo com você, só não estou aqui porque fui ali". Ora, isso não parece paternalismo? Tipo 'neném, papai vai sair com mamãe, você fica aqui com a babá e mais tarde eu volto, viu?' ou 'bem, me apaixonei por outra pessoa, vou ali viver isso'. Uma conversa normal tudo bem, mas "se despedir" ou "se explicar" é como dizer 'tchau, já que você não é meu patrono, não vou mais te dar a mesma atenção'. E esse "vou me <b>dedicar</b> aos meus patronos" (nesse caso) para mim é <b>duoteísmo</b>.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Mas, ainda assim, muita gente fica angustiado querendo saber seus patronos. Vou dar algumas <b>dicas </b>nesse caminho. Primeiro que nós helenos somos de razão, de análise, de percepção, de lógica, de intuição... não de fé. "<b>Conhece-te a ti mesmo</b>" e não "pergunta para fulano de quem você é". A pessoa precisa se perceber, eu no máximo posso dar pitaco. Oráculos costumam ter muito de projeção psicológica pessoal, por um lado é bom para nos conhecermos, mas por outro não podemos ter uma fé cega numa autoridade (oracular ou não), essas projeções muitas vezes só nos dizem o que queremos ouvir, o que nem sempre corresponde ao real. Fique aberto e descubra as convergências. Sei que muitas vezes uma deidade vem muito forte e nos faz questionar o patronato que acreditávamos ter, mas pode ser que não seja por aí, ou talvez esteja mesmo desconstruindo. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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Outra questão é a das <b>relações</b>. Ultimamente tenho recitado o hino de Proclo a Atena multiversátil, e nele fala da relação dela com outros deuses, e isso é muito legal. No entanto, já vi gente querendo justificar um patrono diferente dizendo que se confundiu porque o anterior tinha uma relação com o atual num referido mito ou aspecto. Isso é complicado, porque praticamente todos os deuses têm relação uns com os outros. Se for por essa lógica, poderíamos ser de qualquer um e pegar as histórias dos outros deuses para justificar, então não faz sentido esse argumento de "é porque fulano tem relação com cicrano". Exemplo: lobos têm a ver com Zeus Lykaios, mas também com Apolo Hiperbóreo, que tem relação com Dioniso, que seria avô de Mileto, que foi criado por lobos, cuja mãe era uma deusa agrária e do séquito de Afrodite (Ufa!). É meio como um <b>mapa</b> astral: "meu sol em touro me faz odiar mudanças, mas meu ascendente em gêmeos me faz amar mudanças, e meu vênus em áries me faz guerreira no amor, só que o marte em peixes me deixa calminha..." Tudo dá para achar uma relação. Por isso também não devemos nos apegar a patronos, é como se nos apegássemos ao signo solar na hora de ler o horóscopo. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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Mais um exemplo de interpretação que pode confundir é o caso da <b>liderança</b>. Há um livro chamado 'Os Deuses da Administração' que identifica quatro tipos de liderança. A liderança de Zeus seria a cultura de grupo, mais ligada a uma família, uma teia de aranha em que tudo parte da aranha. Mas há também a liderança de Apolo (cultura de fundação), de Atena (cultura de tarefa) e de Dioniso (cultura existencial). Em Atena há criatividade para solucionar problemas, em Dioniso o essencial é o talento ou a habilidade individual, alinhando isso a um objetivo comum, sem imposição. Quem quiser ler um resumo do livro, encontrei um doc neste link: <a href="ftp://ftp.fapa.com.br/Crismeri_Delfino_Corr%EAa/Cultura_e_Din%E2mica_Organizacional/DEUSES_DA_ADM_1.DOC" target="_blank">Clique Aqui</a>. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Outra percepção questionável: me falaram que alguém poderia ser de Hades porque é monogâmico. Primeiro que tanto Hades quanto Perséfone deram suas escapadas, no caso de Hades teve no mínimo a ninfa Minta que foi transformada na planta menta. Segundo que a fidelidade dessa pessoa não estava no patrono, mas na patrona, que poderia ser Hera ou Deméter (esta também pode ser vista como possessiva, pois - se ela perde a filha - o mundo inteiro passa fome). E o lado ascético e regrado da pessoa poderia vir de Apolo, não de Hades. Por isso é importante <b>analisarmos</b> diversas coisas.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Os deuses são vários, incríveis e muito <b>espertos</b>. Notei nesses muitos anos de helenismo que há deuses que nos preparam para outros, vi isso principalmente nas <b>crianças</b>. A filha de uma conhecida era de Afrodite, mas era muito pequena para ser de uma deusa tão sensual, então um dia a mãe me contou que a filha tinha visto um rapaz moreno alado voando do quarto dela. Logo percebi que Eros cuidava da menina, a preparando para Afrodite. Mais tarde, uma amiga com dois filhos, senti que a menina estava sendo cuidada por Íris, a preparando para Hera, e que o menino tinha uma relação com Quíron e Asclépio, por uma ligação com Apolo. Eu nem os conhecia muito bem na época, mas depois a mãe foi me contando várias histórias que confirmavam isso, como a menina que desenhava sempre arco-íris e agia de forma majestosa em diversas situações, e o menino que desenhava unicórnios (que lembra centauros) e que se interessava muito por coisas belas e iluminadas. Achei curioso como Íris apareceu ligada a Hera, já que na mitologia ela é mesmo a sua mensageira. A mãe dessas crianças sempre se viu envolta pela presença de Atena, mas descobriu um patronato em Afrodite com o qual se sentiu bastante <b>confortável</b>. </div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Por vezes, essa certeza é tão profunda que não sentimos necessidade de questionar, porque estamos nos sentindo bem ali. E sentir-se em casa deve significar alguma coisa. Se há essa insistência de ver os patronos como pai e mãe, então essa relação deveria ser confortável e segura como a de uma família mesmo, e deveríamos deixar os pais orgulhosos com a nossa conduta, uma conduta que corresponda ao que eles nos ensinaram. Por isso falei tanto que os patronos se relacionam com a nossa vida. E a nossa versão do "honrar pai e mãe", nesse caso, é bem por aí, no <b>exemplo cotidiano</b>, não numa aproximação que depende de muitos sacrifícios e horários e disposições. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Espero que isso ajude a esclarecer mais um pouco como vejo essa questão, e diminua as <b>limitações</b> das pessoas em achar que devem se "dedicar" a apenas dois deuses em vez de a vasta e maravilhosa gama de deidades com as quais podemos nos relacionar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Alexandrahttp://www.blogger.com/profile/11007700081991461118noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6716201595908211181.post-36050427726209063402015-06-13T13:39:00.001-03:002015-06-13T13:51:51.475-03:00PoemasGente, saiu o meu livro de poesias pela Editora Pragmatha, o <b>Alvos Anis</b>. São 108 páginas. :D<br />
Em uma das orelhas há uma apresentação do <a href="http://ta-hiera.blogspot.com.br/" target="_blank">Thiago</a> e na outra a minha mini-biografia. Por enquanto, estou vendendo-o online eu mesma (até para poder mandar com dedicatória), depois veremos como fica.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-U87v3bIQK7E/VXi5uhCh4SI/AAAAAAAADBM/UMSE7vpM6zk/s1600/image.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://4.bp.blogspot.com/-U87v3bIQK7E/VXi5uhCh4SI/AAAAAAAADBM/UMSE7vpM6zk/s320/image.jpg" width="213" /></a></div>
<br />
Posso autografar para quem quiser. O livro é R$ 25 + 5 do frete (impresso) para todo o Brasil.<br />
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Segue o botão com o link para comprar pelo PagSeguro (me avisem ao mandar os R$ 30,00): </div>
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Release:<br />
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<blockquote class="tr_bq">
Apresento aqui a vocês um livro de poesias que brotou de um questionamento: sou mesmo uma poetisa? Trabalhando aos poucos durante mais de vinte anos, obtive dezenas de amigos leitores que, constantemente, me forneciam palavras de incentivo e se declaravam encantados com meus versos. Jamais poderia decepcioná-los, deixando meus poemas submetidos egoisticamente à guarda de uma gaveta do armário, relegando à obscuridade um possível dom ou serviço.<br />
Esse despertar literário sugeriu-me, em algum momento, que me libertasse de meu "eu-lírico" e começasse a escrever sobre o mundo, a religião, a opinião pública e a consciência dos homens. Mas tudo, claro, num diapasão de uma certa ternura.<br />
Meu sonho de ver este livro publicado incluía o pensamento na satisfação daqueles que já usufruíam do meu ainda caderno de poesias e que poderiam conhecer muito mais, onde, num crescendo, descobririam como apreciar a entusiasmante literatura de quem procura se entregar em suas obras sem se deixar corromper.
<br />
De início, eu era apenas uma jovem que dava asas ao que possuía dentro de si, sem saber ao certo o que era e onde isso a levaria, que não se preocupava com academicismos e sim em passar ao papel os poemas ditados por um ser dentro de mim que foi gerado prematuramente e que hoje se reflete em momentos inesperados. Meus versos eram brancos, soltos, seja pelo pouco conhecimento que tinha de literatura seja pela influência dos mestres modernistas da época, que lia desde a infância.
<br />
Nessa clave, com o tempo passei a lançar um tema para que o leitor desenvolvesse sobre os poemas a sua própria verdade transcendente, reverberando cognitivamente a ideia impressa. Com formação em psicologia e letras, deparei-me estes dias com um estudo da Universidade de Liverpool, o qual diz que ler poemas faz mais bem ao cérebro do que livros de autoajuda. Então quem sabe ler poemas de uma ex-psicóloga seja ainda mais útil?
<br />
Gostaria, finalmente, de agradecer às pessoas que souberam reconhecer e respeitar a minha maneira de amar (exposta nesses versos), a aqueles que acreditaram no valor desta obra, e a todos os que se atornaram inspiração para os versos. Que você, ao ler este livro, descubra virtudes escondidas dentro de si mesmo - coragem, liberdade, gentileza, cidadania, beleza e verdade. E que ele seja uma chave para um infinito interior de amor e devoção. Com a ajuda do sagrado que nos cerca.
<br />
Porque nosso alvo é o céu, e o céu é colorido de alvos anis.
<br />
A autora.</blockquote>
</div>
Alexandrahttp://www.blogger.com/profile/11007700081991461118noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-6716201595908211181.post-61822302280830922712015-04-11T11:22:00.000-03:002015-09-13T10:29:14.635-03:00Altares, imagens, ritos?<b>PARA QUE AS ESTATUETAS E IMAGENS? </b><br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
Especular sobre a aparência dos deuses é natural, é como alguém que não conhece seu pai biológico e fica imaginando como ele seria. Mas nem sempre o que imaginamos corresponde à realidade, e as escrituras de várias crenças nos advertem a não "gravar em madeira ou pedra" essas nossas especulações e render homenagem a tais ilusões. Mas uma coisa é bastante provável: os deuses são belos. E, tentando ver a beleza dos deuses, procuramos coisas belas que os representem. No entanto, todas elas são temporárias, já que são materiais, e a beleza divina é transcendente. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Quando se cria algo caprichosamente e se adora esse algo como se fosse um deus, isso é idolatria, pois não se está adorando uma deidade e sim algo inventado pela sua imaginação. Outros, ainda, acham que deus não tem forma, que é impessoal ou vazio, mas isso não é verdade. Se existem "forças" ou "energias" funcionando no universo, algo (alguém) impulsiona/m essas forças (como estudamos em Física). E, se esse alguém existe, ele/a/s deve/m ter uma imagem, um nome e características próprias suas. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Dizem que uma árvore se conhece pelos seus frutos. Os frutos mais elevados que conhecemos da criação material são os seres humanos, então é natural imaginarmos os deuses (fonte de tudo) como antropomorfos. Podemos nos basear nos hinos e outros textos antigos para tentar descobrir a forma dos deuses. Deles é que sabemos que Atena tem brilhantes olhos verde-acizentados ('glaukopis'), por exemplo. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
De qualquer maneira, mesmo entre nós mortais, uma representação raramente corresponde ao real. Quantas vezes você se achou diferente nas fotografias? E, vamos mais longe, você sequer 'é' o seu corpo, você 'tem' um corpo, você pode inclusive não se reconhecer como sendo daquela forma. Muita gente acha estranho quando se olha no espelho. Porém, os deuses não estão presos a um corpo e, por isso mesmo, por essa não-dualidade, eles podem ser um só com as estátuas e representações que atribuímos a eles. Os deuses não estão submissos às leis materiais como nós, eles estão acima disso. Então não estaríamos adorando "ídolos de pedras" e sim fixando o olhar em algo que tenta se aproximar do belo que é divino e próprio dos deuses. Para os deuses não existirá ali uma distinção entre o objeto material e sua essência espiritual. Quando usamos os hinos para chamá-los, eles podem transformar aquela madeira ou pedra em algo transcendente. É como a energia elétrica: a mesma energia pode fazer funcionar uma geladeira ou um fogão, então a energia espiritual também pode entrar no material para fazê-lo funcionar com o motivo para o qual foi criado. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Quanto esculpimos e/ou pintamos uma imagem de um/a deus/a, a oferecemos a ele/a como oferta votiva e ele/a a aceita, então aquela é uma imagem válida. Ela vai servir para purificar nosso olhar, nossa mente, nossos sentidos. E para nos aproximar da beleza, da bondade, da justiça. Se você o tratar como um ídolo de madeira, ele será só isso, mas se mudar o seu olhar e postura, o que receberá de volta também será diferente. E melhor.
</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div style="text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-ehBRHR-P6dQ/VSktHd0KLTI/AAAAAAAAC98/x7G2-3ybRz8/s1600/2649131-ancient-greek-heroes-statue-on-the.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="266" src="http://3.bp.blogspot.com/-ehBRHR-P6dQ/VSktHd0KLTI/AAAAAAAAC98/x7G2-3ybRz8/s1600/2649131-ancient-greek-heroes-statue-on-the.jpg" width="400" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
<b>PARA QUE FAZER RITOS?</b><br />
<br />
Todos nós precisamos nos sentir seguros e amparados. Quando bebês, dependemos de um adulto pois sabemos pouca coisa desse mundo e não alcançamos tudo. Mas, mesmo quando crescemos, continuamos sujeitos a coisas que não conhecemos e/ou não controlamos. E, para muitas coisas, outro ser humano não resolverá, porque ele está na mesma situação que nós. Quem pode nos confortar da ansiedade com relação ao dia seguinte, ou nos aliviar da angústia de sermos finitos? Quem pode afirmar com certeza que não vamos pegar uma doença amanhã? Somente quem não estiver sujeito às mesmas limitações que estamos. E a comunicação com esse ser se dá através dos rituais e preces, que são as formas mais eficientes que encontramos para acessar o sagrado e dele obter ajuda, graças e favores.<br />
<br />
Um ritual tem duas realidades. A primeira é imediata, e não inclui só a visão da chama da vela, o cheiro do incenso, a demonstração de aceitação das comidas e flores ofertadas e demais imagens sensoriais afins, mas também a sensação de tranquilidade mental, o desenvolvimento da concentração e organização das ideias, e outras percepções sutis. A segunda não é notada a princípio, mas se manifestará em algum momento, como uma resposta ao que fizemos. Além disso, o ritual pode corrigir nossas ações errôneas (numa espécie de crédito para cobrir o débito da sua conta espiritual), abranda a 'hybris', purifica o miasma, nos auxilia a obtermos o que desejamos (por comunicar o pedido aos deuses e estabelecer um laço de amizade), entre outras consequências positivas.<br />
<br />
Para um ritual dar certo, ele depende cerca de 70% da gente e só 30% dos deuses, embora a parte deles seja a mais importante. Precisamos ter uma direção sobre a prática correta, precisamos separar um tempo adequado para o rito, e precisamos nos esforçar para realizá-lo devidamente. E eles precisam nos ser favoráveis. Mas a gente também influencia nessa parte, dando-lhes motivos para merecer seu favor, ou seja, desenvolvendo um relacionamento com eles através das preces, da prática da virtude, das ações corretas, do reconhecimento e gratidão.<br />
<br />
Não se trata, portanto, de superstição, mas de confiança, aceitação, amizade. O ritual é necessário e benéfico. Antes de perder a oportunidade de realizá-lo, ou de ficar com medo de fazer algo errado, tente pensar que o máximo que pode acontecer é você fazer os seus 70% (o que já bastaria para você se sentir bem, tranquilo, focado etc) e não ter os 30% de lá (ao menos não desta vez, embora isso já ajude no relacionamento que está se formando), mas mal não vai fazer. Então por que não?<br />
<br /></div>
Alexandrahttp://www.blogger.com/profile/11007700081991461118noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6716201595908211181.post-30884030678009010062014-12-28T11:51:00.001-03:002015-09-13T10:29:32.345-03:00O Uso do Sino em Rituais<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 15px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Após ver uma <a href="http://thehouseofvines.com/2014/11/15/a-bacchic-orphic-devotional-rite/" target="_blank">sugestão de ritual que incluía o uso de um sino</a>, resolvi pesquisar se tal prática possuía ressonância na antiguidade. Encontrei um artigo chamado </span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 15px; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><i>"For whom did the bell toll in ancient Greece? Archaic and Classical Greek bells at Sparta and beyond"</i></span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 15px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> (Por quem os sinos dobravam na Grécia antiga? Sinos gregos arcaicos e clássicos em Esparta e além), de <a href="http://librarum.org/book/61389/1" target="_blank">Alexandra Villing</a>. São 74 páginas, mas faço aqui uma breve resenha. Adquiri também um sino com cabo de madeira para pirografar nele algo que o identificasse como de uso ritual. Depois, no texto, descobri que existiam mesmo inscrições votivas em alguns sinos de culto, especialmente a Atena. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b id="docs-internal-guid-28ebea98-914f-58d7-8f1c-e8598ae09f78" style="font-weight: normal;"><br /></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 15px; font-style: normal; font-variant: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><b>HISTÓRIA</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><br /></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 15px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Os antigos não eram acostumados a sinos enormes como aqueles que soam nas igrejas de hoje, e sim a sinos portáteis de não mais do que uns 10 cm. Esses sinos de tamanho pequeno eram comuns na Grécia Antiga do período arcaico em diante, tanto em bronze quanto em terracota. Eles eram encontrados em santuários, túmulos e casas, e serviam para vários propósitos. Fontes arqueológicas, iconográficas e literárias atestam o seu uso como ofertas votivas no ritual e em situações funerárias, também como instrumento de sinalização dos guardas da cidade, como amuletos para crianças e mulheres, e num contexto dionisíaco no sul da Itália. A origem dos sinos é da área oriental e caucasiana, por onde eles encontraram entrada na antiga Samos e Chipre e depois na Grécia continental. O maior complexo de sinos encontrado, da era clássica, vem de escavações no santuário de Atena na acrópole espartana. Veremos que, além de Esparta, outros lugares também associavam o som do sino a algo protetor, purificador e apotropaico (que afasta os males). Os sinos de terracota eram claramente imitações baratas dos sinos de bronze, e serviam para efeitos de dedicação, podendo ser comparados a miniaturas de vasos, de armas ou estatuetas de animais usados como ofertas votivas. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><br /></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 15px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Os sinos em maior número foram encontrados no santuário de Atena Khalkioikos na acrópole espartana em 1907, embora só em 1925 se tenha anunciado e poucos deles tenham sido apresentados ao público, tendo apenas se publicado alguns desenhos e as inscrições votivas encontradas neles. Depois, uma pesquisa no Museu de Esparta revelou que, nessa escavação, eles haviam encontrado 34 sinos de bronze e 102 sinos de terracota (ou fragmentos deles). É difícil saber o local exato dos sinos no santuário, pois parece que estavam em toda a parte, desde o sul do precinto até os fundos do teatro (incluindo a pequena construção que servia como santuário de Atena Ergane). O que se sabe claramente é que eles eram dedicados a Atena com os epítetos de Khalkioikos ("da casa de bronze") e Poliouchos ("suporte da cidade"), já que os sinos possuíam inscrições votivas a ela. O tamanho deles variava entre 2 e 8 cm de altura. No texto que li, a autora descreve a forma, a alça, os pés, como foram feitos etc, e traz desenhos dos mesmos. Quase todos os sinos tinham ao menos um buraco em cima para prender o badalo, o qual era sempre de ferro. Sete desses sinos tinham inscrições, três deles com dedicatórias completas, que indica se tratarem de ofertas votivas de um homem e duas mulheres. Outros três tinham abreviações (ΑΘΑ para ΑΘΗΝΑ - Atena). No sétimo parecia ter uma inscrição longa, mas agora só um A é claramente visível. As inscrições são claramente em lacônico do século V AEC. </span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 15px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-L7g3S4PIkmU/VKAUxQTd1wI/AAAAAAAAC7I/bVrUMgDoF8I/s1600/SINOS-atha.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-L7g3S4PIkmU/VKAUxQTd1wI/AAAAAAAAC7I/bVrUMgDoF8I/s1600/SINOS-atha.jpg" /></a></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 15px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">No Menelaion de Esparta, no santuário rural de Aegina provavemente dedicado a Ártemis, e no santuário de Apolo Korynthos na Messenia, haviam sinos muito parecidos com os dedicados a Atena em Esparta. Eles tinham a forma de cúpula, com uma beirada mais grossa e com pés. </span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 15px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-M0TPE02xs5U/VKAU6AlW_WI/AAAAAAAAC7Q/mjPnYEEP94E/s1600/SINOSfigura1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-M0TPE02xs5U/VKAU6AlW_WI/AAAAAAAAC7Q/mjPnYEEP94E/s1600/SINOSfigura1.jpg" /></a></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 15px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Além desses lugares, os sinos mais antigos vêm de Atenas, onde três sinos de terracota decorados foram encontrados no túmulo de uma criança, também do século V AEC. Também encontraram-se sinos na Beócia (no túmulo de uma criança e em santuários de Deméter e dos Cabiros), em Selinous na Arcádia (no santuário de Deméter Malophoros), em Perachora (no temenos de Hera Limenia), em Pherai na Tessália (provavelmente vindos dos santuários de Ártemis Enodia e de Zeus Thaulios), em Olímpia, em Idalion no Chipre, e no argivo Heraion de Samos. </span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 15px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-i0SxNqDz-z8/VKAVAsJBceI/AAAAAAAAC7Y/4EpybXy9exc/s1600/SINOSfigura2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="220" src="http://4.bp.blogspot.com/-i0SxNqDz-z8/VKAVAsJBceI/AAAAAAAAC7Y/4EpybXy9exc/s1600/SINOSfigura2.jpg" width="320" /></a></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 15px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 15px; line-height: 1.15; white-space: pre-wrap;">Em Samos, a influência oriental (da Mesopotâmia, Babilônia, Assíria e Fenícia) aparece não só nos sinos, mas também em estatuetas de chumbo e em máscaras dedicadas a Ártemis Orthia.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><br /></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 15px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Dessa parte introdutória, podemos resumir que, em termos de história dos sinos, há cinco pontos chaves a se mencionar. Primeiro, os sinos se encontravam por praticamente toda a Grécia e mundo grego, particularmente em </span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 15px; font-style: normal; font-variant: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><b>santuários e túmulos</b></span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 15px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">. Segundo, a maioria dos sinos gregos eram feitos de </span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 15px; font-style: normal; font-variant: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><b>bronze ou terracota</b></span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 15px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">, alguns de metais preciosos. Terceiro, os sinos de Samos, do Chipre, da Tessália e de Aegina eram baseados em modelos orientais. Quarto, os sinos gregos são normalmente </span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 15px; font-style: normal; font-variant: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><b>pequenos</b></span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 15px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> e mais ou menos em forma de abóbada/cúpula, embora também apareçam sinos cônicos e hemisféricos; a parte de segurar era em arco ou alça, e inscrições neles eram raras. Quinto, não havia um padrão particulas: os sinos tebanos de bronze dos Cabiros e os lacônicos de Ártemis eram ofertas votivas, assim como os sinos espartanos de terracota para Helena e Menelau no Menelaion e os beócios para Deméter em Eutresis. Também se encontraram sinos em santuários a Hera (em Samos, Argos e Perachora), a Atena (em Esparta, em Idalion e talvez em Delfos), a Afrodite (em Mileto), e a Apolo (na Messenia e em Chios). </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><br /></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 15px; font-style: normal; font-variant: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><b>FUNÇÃO</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><br /></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 15px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Os sinos encontrados em Esparta eram claramente funcionais. Afinal, quase todos tinham badalo, o que também nos faz concluir que era improvável que eles tivessem sido usados como instrumentos musicais, já que, no caso, se bateriam com baquetas por fora do sino. Pode ser que eles fossem suspensos ou usados na mão. Uma vez que muitos tinham pés, eles provavemente não só ficavam pendurados mas podiam ser colocados em uma superfície para ficar de fácil acesso ao usuário. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><br /></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 15px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Em Roma, os sinos eram usados para anunciar abertura de mercados e banhos, para acordar e chamar escravos etc, mas na Grécia Antiga esses usos não se confirmam, embora o sino seja conhecido nos tempos de Demóstenes como um meio de atrair a atenção. Na Grécia, os sinos eram carregados pelos guardas - tanto os comediantes Nicofon e Aristófanes quanto o historiador Tucídides mencionam o sino nesse contexto. Os guardas podiam usá-lo como adorno ameaçador da armadura, e o inspetor podia usar o sino para ver se os guardas estavam acordados. Sinos em animais, como cavalos, aparecem em Chipre com influência assíria, mas não se atesta o mesmo na Grécia em si. Em suma, o sino funcionava principalmente para duas coisas: como um sinal e com o aspecto ameaçador-protetor. Este último guarda uma conexão especial dos sinos com Atena como deusa da guerra e das habilidades manuais.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><br /></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 15px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">A palavra usada nas fontes literárias para se referir a sino é κώδων ("kódon"). Entre as fontes mais antigas a mencioná-la, está Empédocles, no século V AEC, quando ele descreve como o som é percebido dentro do ouvido. Ele diz que o órgão da audição é uma espécie de sino que reproduz ecos que se parecem com os sons de fora. Aécio, quando comenta isso, fala de uma parte cartilaginosa que balança quando é golpeada, um instrumento que produz som reverberante. Esse som dos sinos, especialmente o som do bronze, tem uma ligação muito grande com o som da batalha: os metais se colidindo poderiam induzir medo e ter o propósito de afugentar o inimigo. Vernant (em "Mito e Pensamento entre os Gregos") dizia que o som do bronze contra o bronze repele a bruxaria do inimigo. A própria voz de Atena é descrita por Píndaro como o som do bronze, seu grito um clamor penetrante. Outros autores a comparam com o som agudo do trompete, que era usado como instrumento de sinalização na guerra e que parece ser associado a Atena em Argos. Mas, quando Sófocles liga a voz de Atena ao som do trompete, a palavra que ele usa é κώδων, sino, um sino de bronze, uma vez que a parte frontal do trompete também era chamada de κώδων. Além disso, o epíteto de Atena em Esparta era Khalkioikos ("da casa de bronze"). Pausânias diz que o revestimento do templo dela na acrópole espartana era parcialmente decorado com folhas de bronze. Mas há mais: o culto de Atena Ergane como patrona dos trabalhadores de bronze em Atenas (principalmente no festival da Khalkeia) sugere que ela era patrona da forja de armas e que ofertas de bronze tinham lugar em seu culto. A própria palavra "khalkeion" (cesto de bronze) poderia se referir na verdade a um sino.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><br /></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 15px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Porém, explicar o papel dos sinos como ofertas votivas meramente pela sua habilidade de reproduzir o som da batalha seria inconcluso, até porque há outros instrumentos mais efetivos que poderiam ser imaginados nesse contexto, e isso também não explicaria o envolvimento de mulheres como dedicantes. O uso no pescoço de animais de sacrifício também não cabe, porque só se encontrou uma representação assim pintada no altar de uma casa em Delos, para um festival romano, é improvável que os animais de sacrifício na Grécia usassem sinos. Há a possibilidade do uso do sino como objeto apotropaico e o seu inverso (ou seja, para afastar o mal e para atrair bons espíritos). </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><br /></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 15px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">A evidência literária e pictográfica aponta que os sinos tinham de fato uma relação com o culto de Dioniso. Strabo chama o uso de sinos e o bater de tímpanos ma atividade dionisíaca, e Nonno chama uma das mênades de Kodone. Vasos do século IV AEC ao sul da Itália representam Dioniso e membros de seu 'thiasos' (séquito) ou segurando um sino ou com um sino amarrado no pulso ou amarrado ao tirso. Em pelo menos um, Dioniso segura o sino alto como se para dar um sinal ao seu thiasos. </span><span style="font-family: Arial; font-size: 15px; line-height: 17.25px; white-space: pre-wrap;">[Figura 3] </span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 15px; line-height: 1.15; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-ULFveiIBkAA/VKAVgTAUhMI/AAAAAAAAC7g/LdBj8ZoGb1c/s1600/SINOSfigura3.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="280" src="http://4.bp.blogspot.com/-ULFveiIBkAA/VKAVgTAUhMI/AAAAAAAAC7g/LdBj8ZoGb1c/s1600/SINOSfigura3.jpg" width="640" /></a></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 15px; line-height: 1.15; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 15px; line-height: 1.15; white-space: pre-wrap;">Poderia-se imaginar os sinos sendo usados para chamar os mortos a um feliz pós-vida dionisíaco, mas isso não tem evidências suficientes nos registros arqueológicos, já que poucos sinos foram encontrados em túmulos ao sul da Itália. Também poderia-se imaginar que o som do sino provinha uma proteção mágica em particular para os períodos vulneráveis de abandono extático no ritual dionisíaco. Na Índia, por exemplo, mulheres e meninas de famílias ricas usavam tradicionalmente sinos para suas danças rituais. Dedicar um sino de bronze deveria mesmo ser algo caro. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><br /></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 15px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">A autora aqui pergunta "Isso tudo poderia implicar que a Atena espartana tinha uma face oculta no estilo da folia dionisíaca? Será que os homens e mulheres espartanas executavam danças em sua honra, enfeitados com sinos?". A dança sem dúvida era um aspecto importante na vida ritual de Esparta. Se confiarmos em Aristófanes, existiam danças associadas com o culto da Atena espartana: em Lisístrata, o coro chama Helena a conduzir a dança no santuário de Atena Khalkioikos. Uma estatueta arcaica de uma mulher tocando címbalos foi encontrada no santuário de Ártemis Orthia e o braço de uma estatueta similar foi encontrado no santuário de Atena na acrópole espartana. Mas não há evidência de sinos sendo parte de danças rituais nem para Ártemis nem para Atena. Em geral, os sinos eram menos adequados como instrumentos para acompanhar a dança rítmica, se usavam mais címbalos mesmo. No contexto dionisíaco, o sino era mais o caso de um instrumento para sinalizar e com um significado mais apotropaico relacionado ao som dele.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><br /></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 15px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Há uma passagem de Teócrito que fala que "a ctônica Ártemis está se aproximando, façam do local um solo sagrado pelo bater do bronze". Ele cita a obra 'Sobre os Deuses', de Apolodoro, uma fonte que fala que o som do bronze desempenhava um papel em todas as espécies de rituais purificatórios: por ser puro e por afastar o miasma, ele era empregado durante os eclipses lunares e os funerais. Essa interpretação é apoiada por várias fontes romanas posteriores, atenstando que o som do sino era usado para afastar poderes malignos. No culto extático de Dioniso, o barulho do bronze poderia servir para manter os maus espíritos (que conhecemos como as 'keres') longe. No culto a Deméter, o barulho do bronze também aparece. Píndaro a chama de "Khalkokrótou Damáteros", pelo barulho dos címbalos e tambores de bronze que ressoavam na busca por Perséfone. Assim como a dança dos Curetes e Coribantes também usavam o bater de escudos para afastar o mal do bebê Zeus, sabemos que Deméter é patrona da maternidade, e o parto pode ter usado o som do bronze para afastar o mal da criança e da mãe. Isso explicaria por que encontramos sinos em túmulos infantis. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><br /></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 15px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Em resumo, os sinos eram usados como </span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 15px; font-style: normal; font-variant: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><b>ofertas votivas</b></span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 15px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">, como instrumento de sinalização, </span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 15px; font-style: normal; font-variant: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><b>e</b></span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 15px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> como </span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 15px; font-style: normal; font-variant: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><b>amuleto protetor apotropaico</b></span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 15px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">. O som do bronze do sino tinha qualidades potencialmente amedrontadoras, afastando o mal. E, em Esparta, os sinos eram oferecidos principalmente a Atena. </span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 15px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<i style="font-family: Arial; font-size: 15px; line-height: 1.15; white-space: pre-wrap;">Segue a imagem do sino que comprei:</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><br /></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-Mgm09_2SXKo/VKAWld69kiI/AAAAAAAAC7o/gwRpS4scvTg/s1600/meusino.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="http://3.bp.blogspot.com/-Mgm09_2SXKo/VKAWld69kiI/AAAAAAAAC7o/gwRpS4scvTg/s1600/meusino.jpg" width="238" /></a></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Alexandrahttp://www.blogger.com/profile/11007700081991461118noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6716201595908211181.post-7487713486922871132014-12-13T00:06:00.000-03:002014-12-13T00:09:38.810-03:00Xenia e Empatia<div style="text-align: justify;">
Em tempos em que Dioniso derruba máscaras e descobrimos, entre nossos amigos, pessoas que defendem os opressores, os violentadores e afins, encontrei o texto que traduzo abaixo (com grifos meus) e que espero que faça as pessoas refletirem sobre suas falas, pensamentos e ações diante das situações que andamos presenciando na mídia, nas redes sociais e no nosso dia-a-dia. Não acolher o outro, banalizar sua dor, relativizar um crime, também é Hybris, uma transgressão contra o princípio básico da nossa crença, a Xenia (hospitalidade). </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://imageshack.com/a/img911/4723/I3yhad.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://imageshack.com/a/img911/4723/I3yhad.jpg" height="267" width="320" alt="Baucis e Filemon"/></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Segue:</div>
<blockquote class="tr_bq">
<div dir="ltr" id="docs-internal-guid-bff5b218-4199-2eef-c5f7-4aac61837b47" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial; font-weight: bold; vertical-align: baseline;">Declaração de Valores</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial; font-style: italic; vertical-align: baseline;">por Thenea, traduzido pela Alexandra</span></div>
<br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial; vertical-align: baseline;"># Hospitalidade: Nossas portas estão abertas</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial; vertical-align: baseline;"><br class="kix-line-break" /></span><span style="font-family: Arial; vertical-align: baseline;">A hospitalidade é um dos principais valores em todas as culturas antigas, incluindo os nórdicos, os celtas e os gregos. Alguns podem argumentar que esta é a pedra fundamental de todas as religiões indo-europeias.</span><span style="font-family: Arial; vertical-align: baseline;"><br class="kix-line-break" /></span><span style="font-family: Arial; vertical-align: baseline;"><br class="kix-line-break" /></span><span style="font-family: Arial; vertical-align: baseline;">Nos antigos relatos gregos, Zeus se disfarçaria de pessoas as quais a sociedade tinha marginalizado para testar a virtude de possíveis anfitriões. Se falharmos em receber bem alguém, ou falharmos em </span><span style="font-family: Arial; font-weight: bold; vertical-align: baseline;">criar um espaço seguro para alguém</span><span style="font-family: Arial; vertical-align: baseline;">, por qualquer razão além de um abuso direto de nossa hospitalidade, falhamos em fazer o mesmo para o Rei dos Deuses.</span><span style="font-family: Arial; vertical-align: baseline;"><br class="kix-line-break" /></span><span style="font-family: Arial; vertical-align: baseline;"><br class="kix-line-break" /></span><span style="font-family: Arial; vertical-align: baseline;">Oferecer hospitalidade, na Grécia antiga, significava mais do que comida e bebida. Se uma pessoa precisasse de roupas porque a jornada foi dura, ou de uma cama para dormir, estas coisas também eram providenciadas. Hospitalidade significa </span><span style="font-family: Arial; font-weight: bold; vertical-align: baseline;">prover as necessidades </span><span style="font-family: Arial; vertical-align: baseline;">e o conforto de alguém. </span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial; vertical-align: baseline;"><br class="kix-line-break" /></span><span style="font-family: Arial; vertical-align: baseline;">Criar um espaço sagrado não significa simplesmente ignorar fatores como ancestralidade, onde alguém está no espectro de gênero, orientação, forma do corpo, deficiência, idade, ou renda. Significa tentar entender de onde a pessoa vem, e entender o que elas precisam para </span><span style="font-family: Arial; font-weight: bold; vertical-align: baseline;">se sentirem confortáveis nos espaços que criamos</span><span style="font-family: Arial; vertical-align: baseline;">.</span><span style="font-family: Arial; vertical-align: baseline;"><br class="kix-line-break" /></span><span style="font-family: Arial; vertical-align: baseline;"><br class="kix-line-break" /></span><span style="font-family: Arial; vertical-align: baseline;"># Discurso: O Diálogo está Aberto</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial; vertical-align: baseline;"><br class="kix-line-break" /></span><span style="font-family: Arial; vertical-align: baseline;">Não se trata apenas de honrar os deuses gregos. Trata-se de uma coisa cultural geral da Grécia Antiga. Discutir política e o estado do mundo são ambas coisas altamente tradicionais a fazer num Simpósio (uma reunião para o propósito de libações). Podemos e devemos criar espaço para o diálogo sobre esses tópicos importantes e prementes.</span><span style="font-family: Arial; vertical-align: baseline;"><br class="kix-line-break" /></span><span style="font-family: Arial; vertical-align: baseline;"><br class="kix-line-break" /></span><span style="font-family: Arial; font-weight: bold; vertical-align: baseline;">Precisamos falar sobre discriminação.</span><span style="font-family: Arial; font-weight: bold; vertical-align: baseline;"><br class="kix-line-break" /></span><span style="font-family: Arial; vertical-align: baseline;"><br class="kix-line-break" /></span><span style="font-family: Arial; vertical-align: baseline;">Ter diálogos sobre discriminação pode nos ajudar a entender como melhor respeitar as jornadas daqueles que devem enfrentá-la. Também pode nos ajudar a começar a entender como responder aos cidadãos e aos eleitores.</span><span style="font-family: Arial; vertical-align: baseline;"><br class="kix-line-break" /></span><span style="font-family: Arial; vertical-align: baseline;"><br class="kix-line-break" /></span><span style="font-family: Arial; vertical-align: baseline;">A base desse diálogo, porém, deve ser o </span><span style="font-family: Arial; font-weight: bold; vertical-align: baseline;">respeito</span><span style="font-family: Arial; vertical-align: baseline;">.</span><span style="font-family: Arial; vertical-align: baseline;"><br class="kix-line-break" /></span><span style="font-family: Arial; vertical-align: baseline;"><br class="kix-line-break" /></span><span style="font-family: Arial; vertical-align: baseline;"># Humildade: Nossos Corações estão Abertos</span><span style="font-family: Arial; vertical-align: baseline;"><br class="kix-line-break" /></span><span style="font-family: Arial; vertical-align: baseline;"><br class="kix-line-break" /></span><span style="font-family: Arial; vertical-align: baseline;">A transgressão da </span><span style="font-family: Arial; font-weight: bold; vertical-align: baseline;">Hybris</span><span style="font-family: Arial; vertical-align: baseline;"> é normalmente enquadrada como "questionar os deuses", mas essa não é exatamente a questão, em termos de visão helênica. Nos antigos mitos gregos, os humanos geralmente não envolviam as deidades em debates filosófico pois comportar-se assim seria como pensar que eles eram iguais ou melhores que as deidades. Isso é um problema, porque se você pensa que é melhor que os deuses, como você irá tratar seus companheiros humanos? Em contra-partida, </span><span style="font-family: Arial; font-weight: bold; vertical-align: baseline;">se você não pensa que é melhor que seus companheiros humanos, você não corre o risco de fazer isso com relação aos deuses</span><span style="font-family: Arial; vertical-align: baseline;">.</span><span style="font-family: Arial; vertical-align: baseline;"><br class="kix-line-break" /></span><span style="font-family: Arial; vertical-align: baseline;"><br class="kix-line-break" /></span><span style="font-family: Arial; vertical-align: baseline;">Racismo, preconceito de gênero, de deficiência, de idade, de classe social, e outras formas de </span><span style="font-family: Arial; font-weight: bold; vertical-align: baseline;">preconceito</span><span style="font-family: Arial; vertical-align: baseline;">, são uma espécie de Hybris.</span><span style="font-family: Arial; vertical-align: baseline;"><br class="kix-line-break" /></span><span style="font-family: Arial; vertical-align: baseline;"><br class="kix-line-break" /></span><span style="font-family: Arial; font-weight: bold; vertical-align: baseline;">Humildade</span><span style="font-family: Arial; vertical-align: baseline;"> também significa, a meu ver, não assumir que eu sei melhor do que a outra pessoa o que ela tem sofrido, e não presumir que posso falar pelas experiências de qualquer um, nem invalidar seus discursos de qualquer forma.</span><span style="font-family: Arial; vertical-align: baseline;"><br class="kix-line-break" /></span><span style="font-family: Arial; vertical-align: baseline;"><br class="kix-line-break" /></span><span style="font-family: Arial; vertical-align: baseline;">É com essas virtudes que espero que possamos nos comportar nessa época de desenvolvimento de consciência do racismo e preconceito que estão infestando nossa sociedade, e é minha esperança sincera que - através da criação de um espaço seguro e do diálogo aberto com um olhar no remediar de injustiças - o progresso possa acontecer, mesmo se apenas em nossa pequena esfera de influência.</span></div>
<br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial; font-style: italic; vertical-align: baseline;">(Fonte: <a href=http://pandemosbay.wordpress.com/2014/12/12/a-statement-of-values/>Pandemos Bay at Wordpress</a>)</span></div>
</blockquote>
<div>
<br /></div>
Alexandrahttp://www.blogger.com/profile/11007700081991461118noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-6716201595908211181.post-45566917719742735502014-12-01T17:00:00.000-03:002014-12-01T17:00:08.594-03:00Sacerdotisas - Breve Introdução Histórica <span style="text-align: justify;">Os gregos antigos não tinham sequer uma palavra separada para "religião", uma vez que não existia nenhuma área da vida que não houvesse um aspecto religioso (Bremmer, "Greek Religion", 1994). Ora, se os gregos não distinguiam entre "igreja" e "estado", se as coisas sagradas não estavam separadas das seculares (Bremmer, "Religion, Ritual, and the Opposition of Sacred vs Profane", 1998, e Connor, "Sacred and Secular", 1988), então a posição de liderança das sacerdotisas não era periférica, mas primária aos centros de poder e influência. </span><br />
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A questão da "invisibilidade" das mulheres atenienses como cidadãs de segunda categoria silenciosas e submissas, restritas aos limites de suas casas, envoltas em tarefas domésticas e no cuidado dos filhos, vinha sendo aceita nas últimas décadas baseado em textos bem difundidos, especialmente de Xenofonte, Platão e Tucídides, e em algumas peças de teatro. Mas há sérias contradições entre os ideais culturais da literatura e as práticas sociais da vida real. Evidências arqueológicas (Nevett, "Gender Relations in the Classical Greek Household: The Archaeological Evidence", 1995) demonstram que as mulheres tinham um papel ativo na esfera econômica, decidindo sobre o dinheiro (Harris, "Women and Lending in Athenian Society", 1992), controlando propriedades (Foxhall, "Household, Gender and Property in Classical Athens", 1989), efetuando discursos (Blok, "Virtual Voices: Toward a Choreography of Women's Speech in Classical Athens, 2001). Blok estima que as mulheres atenienses estavam envolvidas em cerca de 85% de todos os eventos religiosos. Nos textos, temos Heródoto com 62 referências a sacerdotisas em "Histórias" e Pausânias que informa sobre atividades de sacerdotisas e santuários por toda a Grécia, além do tratado de Licurgo "Sobre as Sacerdotisas". Demóstenes e Plutarco também fazem referências a sacerdotisas. Enquanto isso, Tucídides não menciona sacerdotisas e Platão só as discute numa função de um "estado ideal". </div>
<div style="text-align: justify;">
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A primeira menção a sacerdotisas foi encontrada ainda na escrita Linear-B de antes de 400 AEC, em uma tabuleta micena do palácio de Pylos que cita Erita, uma sacerdotisa do santuário local. Ela era dona de terras e outras propriedades, tinha uma posição legítima dentro da sua comunidade e era auxiliada por servos sagrados (Ventris e Chadwick, "Documents in Mycenaean Greek", 1973). Também em Linear-B se lê a palavra "hiereia" e "hiereus", sacerdotisa e sacerdote. Normalmente, os cultos a deidades masculinas era oficiado por sacerdotes, e os de deidades femininas por sacerdotisas, mas há famosas exceções, como: sacerdotisas de Dionysos Anthios, Helios, Apollo Deiradiotes, Apollo Lykeios, Apollo Delphinios, Zeus em Dodona, e alguns cultos a Poseidon; assim como sacerdotes de Deméter, Afrodite e Atena.</div>
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As sacerdotisas em geral acumulavam um prestígio, liderando procissões públicas, supervisionando festivais da cidade, tendo assentos reservados nos teatros, tendo imagens erguidas em santuários, e tudo isso lhes garantia uma importância que não pode ser subestimada em um mundo no qual o status carregava consigo um poder duradouro. Escolher se tornar uma sacerdotisa era escolher se tornar extraordinária (Turner, "Hiereia: The Acquisition of Feminine Priesthoods", 1983). O status social e os recursos financeiros da sua família eram fatores determinantes em qualificá-la para o ofício sagrado. Dedicações inscritas atestam a generosidade de sacerdotisas em obras beneficentes, seu orgulho em inaugurar imagens, e sua autoridade em estabelecer leis para o santuário. Elas também eram publicamente honradas com coroas douradas, estátuas delas mesmas e assentos privilegiados nos teatros. Há sacerdotisas retratadas em placas de madeira, relevos votivos, monumentos funerais, vasos, escudos pintados, e implementos de bronze e marfim. Antes dessas descobertas, nos diziam que as sacerdotisas não tinham importância na história da religião (Feaver, "Historical Development in the Priesthoods of Athena", 1957). </div>
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Chrysis, sacerdotisa de Athena Polias, recebeu em Delfos a coroa de Apolo, e o povo votou para lhe conceder também uma série de direitos e privilégios: ela era representante de Atenas em Delfos, tinha direito a consultar o oráculo, prioridade em julgamentos, inviolabilidade, isenção de impostos, um assento frontal nas competições, o direito a possuir terras e casas, e todas as outras honras costumeiras para os cônsuls e benfeitores da cidade ("Inscriptiones Graecae", 1913). Mais tarde ela ganhou inclusive uma estátua na acrópole ateniense.</div>
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Poderíamos pensar "mas nem todas eram sacerdotisas". Acontece que, ao contrário das preposições cristãs, eram raros os sacerdócios que duravam uma vida inteira. A maioria dos cultos exigia que se servisse apenas por um período, um ano ou mesmo um único ciclo de festivais. A ideia moderna de que sacerdotes sejam pessoas entre os deuses e os humanos é alheia aos antigos helenos. Todos tinham acesso aos deuses, todos podiam oferecer preces, pedidos, agradecimentos, presentes, e executar sacrifícios diretamente (Dickerson, "Priests and Power in Classical Athens", 1991). Heródoto, quando observou as práticas persas, estranhou que eles exigissem a presença de um sacerdote (o 'magus') em cada sacrifício. Porém, é claro que os sacrifícios oferecidos pelos sacerdotes e sacerdotisas tinham seu próprio status especial. </div>
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Além disso, a hierarquia do culto incluía uma horda de oficiais religiosos, seja com deveres específicos seja com responsabilidades mais gerais. Por exemplo, atendentes do templo (neokoroi), fazedores das coisas sagradas (hieropoioi), guardiães do templo (naophylakes), tesoureiros dos fundos sagrados (tamiai), carregadores de lã (pektriai), fiandeiros (alakateiai), tecedores (histeiai), fazedores de farinha (meletriai), varredores sagrados (karutieiao), portadores das chaves (kleidouchoi), tecelãs (esgastinai), moedores de grãos (aletrides), líderes do sacrifício (hieragogoi), condutores do sacrifício (hierophoroi), presidentes do ritos sagrados (hierarchai), buscador das coisas sagradas (hieronostoi), encarregados do templo (hierakomoi), administradores do templo (hieronomoi), sacerdotes participantes (hieroparektes), leitores de auspícios nos sacrifícios (hieroskopoi), escribas sagrados (hierogrammateis), guardas sagrados (hierophylakes), coletores de dinheiro sagrado (hierotamiai), cantores e harpistas sagrados (hieropsaltai), carregadores das cestas (kanephoroi), carregadores dos sacras (arrephoroi), carregadores da água (hydrophoroi), carregadores das flores (anthesphoroi), carregadores da mesa (trapezophoroi), lavadores da estátua (loutrides), decoradores da estátua (kosmeteriai), além das ursas de Ártemis (arktoi), as abelhas de Deméter (melissai), as donzelas de Apolo em Delos (deliades), as corredoras espartanas de Dioniso (dionysiades) etc. </div>
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Estima-se que existiam dois mil cultos operando na Ática durante o período clássico. Com cerca de 170 festivais por ano no seu calendário, Atenas tinha um público de oficiantes que lotava a arena. Aliás, 'onde' as coisas aconteciam era fundamental para entender 'como' as coisas aconteciam na antiga Hélade, pois os cultos variavam entre as pólis. Os próprios gregos divergiam e tinham maneiras contraditórias de olhar para a própria religião. Mas uma coisa é certa: o sistema deles era um em que o mito, o culto, o ritual e as imagens visuais eram totalmente interdependentes e que se apoiavam mutualmente.</div>
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<a href="http://graphics8.nytimes.com/images/2007/07/01/books/coat450.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://graphics8.nytimes.com/images/2007/07/01/books/coat450.jpg" height="320" width="320" /></a></div>
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Um aspecto importante que não podemos deixar de falar sobre as sacerdotisas é a diferença entre o que se conhece do celibato cristão e o helênico antigo. O requisito da virgindade na Hélade era mantido só por um breve período, até o casamento. O celibato perpétuo, além de raro, era mais comum entre mulheres mais velhas, que já tinham tido filhos, eram viúvas e pretendiam terminar sua atividade sexual. As sacerdotisas em geral eram mulheres normais, casadas, com filhos. O próprio termo "parthenos" não significa virgindade num sentido de 'inviolabilidade' como temos hoje, e sim no sentido de uma moça que tinha passado pela puberdade e não tinha ainda se casado. O exemplo das virgens vestais romanas era um caso totalmente fora das normas, elas ficavam intactas por trinta anos, depois se casavam ou não, e eram punidas se violassem o voto, enfim, nada parecido com o que acontecia na Grécia. A ideia cristã de uma virgem como alguém 'dedicado ao senhor', 'uma oferta humana votiva', 'um templo sagrado inviolável' não tinha paralelo na antiguidade grega, porque para os helenos a virgindade não era nem um estado de perfeição e nem uma garantia de salvação. Ou seja, ser virgem não garante pureza ou nobreza alguma, uma virgem não é separada do resto como algo abençoado a ser venerado. O ideal, na verdade, era passar por todos os estágios da vida social, então sacerdotisas casadas e viúvas eram mais comuns no culto grego. Mesmo as famosas "prostitutas sagradas" é um conceito muito controverso, porque não há evidências antigas muito seguras dele. Alega-se que essa prática acontecia em Corinto, Éfeso e Pafos, lugares portuários onde o apóstolo Paulo pregou desde cedo (Winter, "After Paul Left Corinth", 2001), e o fenômeno urbano de marinheiros e prostitutas nesses locais litorâneos com prática de culto deve ser o que mais provavelmente levou à atitude negativa cristã de produzir tal ideia sobre as tradições religiosas dali.</div>
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Quando, em vez de usarmos o termo "servas sagradas", usamos "agentes de culto", trazemos para o sacerdócio feminino uma dimensão mais ativa, administrativa, de resultados, do que uma imagem de auxiliar submissa. As sacerdotisas tinham mais coisas em comum com os homens do seu nível social do que com as mulheres de níveis inferiores. Precisamos lembrar disso ao considerarmos as forças que definem suas identidades e que propiciam suas ações. O avô materno de Chrysis, que mencionei acima, era sacerdote de Asclépio, seu tataravô materno era supervisor (epimeletes) dos Mistérios Eleusinos, tudo indica que ela herdou seu sacerdócio matrilinearmente. Seu status de sacerdotisa não veio de uma veia patriarcal. Uma história que consiste de um controle monolítico patriarcal sobre as mulheres como vítimas passivas, interrompido esporadicamente por intervenções feministas, já foi desacreditado (Broude and Garrard, "Reclaming Female Agency: Feminist Art History after Postmodernism", 2005). Ainda assim, muitos autores desatualizados insistem em relacionar toda ação social da pólis a atividades masculinas. Isso não significa abandonar a luta por equidade de gêneros e minimizar a opressão sofrida, muito pelo contrário, queremos é empoderar as mulheres ao mostrar a elas que sua força e importância é legítima e atávica. </div>
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Eis por que o helenismo é algo tão rico: ao mesmo tempo em que inclui a dificuldade do estudo para se inteirar das novas descobertas, permite que constantemente estejamos trazendo um novo e atual olhar sobre o que o passado nos apresenta, visto que os autores e tradutores são apenas testemunhas, que interpretam os fatos de acordo com a visão que possuem. O olhar deve ser revisitado e reexaminado dialeticamente, sempre. Já dizia Sócrates, "uma vida não examinada não é digna de ser vivida".</div>
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<i>(Postagem elaborada após a leitura de "Portrait of a Priestess", de Joan Breton Connelly, 2007, capítulo 1.)</i></div>
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Quando recontam o mito da abdução de Perséfone, normalmente o fazem de uma forma limitada e um tanto equivocada.</div>
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Primeiro, Hades não é o belzebu grego. Ele não governa um inferno. Os helenos não associam a morte com o mal. A morte é algo que acontece com todo mundo, não importa o quão bom ou mau alguém é ou quantas coisas boas ou ruins lhe aconteceram.</div>
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Segundo, se ele rege o submundo para onde vão os mortos, não é porque ele gosta de gente morta ou porque ele é cruel e sinistro. Ele ganhou essa função quando Zeus, Poseidon e ele tiraram na sorte quem iria ficar com qual reino (Céu, Mar, Submundo). Ou seja, foi pelo acaso de um sorteio, não propriamente por afinidade.</div>
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OK, é verdade que os antigos se aproximavam dele com cuidado, evitando jurar em seu nome e chamando-o por apelidos para não atrair sua atenção, porque ninguém estava com pressa em morrer. Mas Hades não é a morte (a morte é Thanatos), Hades não mata e nem ordena a morte (isso fariam as Moiras). E, apesar de presidir as punições dos que fizeram algo errado, não é ele quem julga também (os juízes são Minos, Radamantis e Éaco, e algumas pessoas que cometem crimes graves vão direto para o Tártaro sem passar por eles). </div>
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Coitado, é como se Hades fosse um gerente que tivesse que lidar com os clientes que lhe culpam pela burocracia que já existia antes de ele assumir o posto. </div>
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<a href="http://4.bp.blogspot.com/-hTHe8nu3iSw/VG0xFNdmQbI/AAAAAAAAC3k/S-qbO6zqCos/s1600/hades.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-hTHe8nu3iSw/VG0xFNdmQbI/AAAAAAAAC3k/S-qbO6zqCos/s1600/hades.png" height="256" width="320" /></a></div>
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De acordo com muitos relatos, Hades é bastante ‘relax’, ‘de boa’. Um dos seus apelidos é “o hospitaleiro”, afinal é sua função prover hospitalidade aos mortos, e ele faz isso muito bem. Ele não parece ter um temperamento tão forte quanto o de seus irmãos Poseidon e Zeus, e só se registrou ele ficando bem irritado umas poucas vezes, tipo quando Pirithous tentou sequestrar Perséfone (e está amarrado numa cadeira até hoje) ou quando pessoas interferiam com as práticas funerárias. De fato, na maioria das vezes ele parece bastante tranquilo, inclusive aceitando acordos de trocar uma alma pela outra ou mesmo soltando almas ocasionalmente (tipo Eurídice), embora isso nunca tenha funcionado muito bem. </div>
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Então, temos um cara num emprego difícil, vivendo no escuro e cercado de lamentadores, seria legal ter uma companheira por perto. Ele sai procurando e escolhe Perséfone. E aí, senhoras e senhores, aí ele pergunta a Zeus se pode. Ele faz o que sempre se fez: pediu a permissão do pai da garota. Pode ser que Zeus não seja pai de Perséfone, mas ele é o rei dela e serve. Zeus diz tipo ‘vai fundo’ e ele diz a Hades que este vai ter que agarrá-la às escondidas, porque Deméter é uma daquelas mães helicopterizadas; daí eles pedem ajuda à vovó Gaia e ela ajuda de bom grado a conseguir que a garota ficasse sozinha para que ele pudesse apanhá-la e levá-la para casa.</div>
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Vejam isso aconteceu num mundo no qual os homens tomavam esposas como espólio de guerra e isso era normal e OK. No mundo celta também era normal, os homens roubavam o gado do pai e pediam de resgate a filha. Não se consultava a moça.</div>
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Uma das coisas que dá nos nervos na língua inglesa é chamarem o rapto (“rapt”) de Perséfone de estupro (“rape”). Não sabemos se isso aconteceu, se ela consentiu ou não, o mito não fala o que ele fez com ela quando chegaram na casa dele. O mito só fala da abdução, do arrebatamento ("rapture"). Hoje em dia ‘arrebatamento’ está associado com júbilo e movimento para cima, não para baixo, mas com certeza isso é influência cristã. O arrebatamento tem a ver com ser transportada para outro plano, não necessariamente o céu e a felicidade.</div>
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Até então, todas as ações de Hades com relação a Perséfone foram compreensíveis e não foi a pior coisa que poderia ter acontecido a ela. A coisa incomum mesmo foi a reação de Deméter. OK, não saber onde Perséfone estava e se preocupar foi perfeitamente normal, o que foi incomum foi sua recusa a aceitar o par, mesmo depois de vários outros deuses lhe encorajarem a aceitar, dizendo que Perséfone poderia estar em situação pior do que estar com o Governante de Muitos. Pode ser que fosse legal Hades ter falado com ela, mas ele é atado ao seu reino, a responsabilidade de lidar com Deméter no Olimpo é de Zeus.</div>
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Será que Deméter teria recusado a oferta de casamento se lhe dessem escolha? Provavelmente. Não porque Hades fosse um mau partido, mas porque Deméter é um olimpiana e Hades é do submundo, o que significaria que ela não iria mais ver Perséfone com ela morando lá com ele. Ela não a poderia visitar, ao menos que um psicopompo como Hécate ou Hermes a escoltasse e com a permissão de ambos os reis. Apenas alguns deuses tiveram passagem livre para transitar entre os reinos. Mãe e filha não se veriam mais.</div>
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Essa situação difícil de Deméter não era incomum no mundo antigo. Os pais davam as filhas em casamento, os maridos as levavam para longe e às vezes as mães não as viam mais. Era comum naquela cultura. E as mães lamentavam sim. Mas quando as mortais lamentavam, isso não resultava na fome mundial.</div>
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Perséfone também estava infeliz como milhões de garotas ficavam ao serem levadas da família e arredores para viver com um estranho num lugar estranho. No mundo em que vivemos, estamos tão mal-acostumados que nosso ultraje é um luxo. Como muitas, ela teria que se ajustar e talvez aprender a amar seu novo par e sua vida e (agora como poucas) aprender a abraçar sua impressionante posição como Anfitriã de Muitos, Rainha do Submundo. Esse é um título bem legal.</div>
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E, de acordo com todos os relatos, foi o que ela fez. Hades a traiu algumas vezes (ao que sabemos, duas) e ela as transformou em plantas e teve um cacho de filhos com pessoas que não eram ele, mas isso me parece um relacionamento divino normal. Talvez até mais saudável do que o de Zeus com Hera e de Afrodite com Hefesto (espero não ser atingido por um raio ao dizer isso).</div>
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E quanto a romã? Hades lhe deu antes de ela voltar para Deméter, com medo de que sua mãe não deixasse sua esposa legítima voltar para ele. Mas ela sabia que isso significaria que ela teria que voltar? E, se sabia, ele a forçou? Como se força alguém a comer? Pode ser que ela soubesse e quisesse voltar ou pode ser que ela fosse tão jovem e inocente que não soubesse o que significaria comer no submundo. A romã é a chave da questão se Perséfone se apaixonou ou não por Hades naquele ponto. E esse momento foi um bom tempo depois da abdução. Talvez nunca saberemos.</div>
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Claro que estou conjeturando e sei que os deuses não precisam da minha defesa, mas os mitos talvez precisem. É um desserviço quando feminimizamos os mitos, dando mais poder a Perséfone, transformando Hades num vilão maligno ou num cara charmoso e misterioso sedutor, ou ignorando as regras sobre quem pode ou não pode cruzar fronteiras. É preciso considerar a cultura, porque se ignorarmos ou removermos o contexto desses relatos, podemos perder o x da questão. Há verdade nesses mitos, afinal nos interessamos por eles, mas encontraremos muito menos se nossa visão for turvada pelo preconceito moderno ocidental. </div>
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<i>( Fonte: <a href="http://blog.sacredhearth.com/2014/10/in-defense-of-hades-a-closer-look-at-the-abduction-of-persephone/">http://blog.sacredhearth.com/2014/10/in-defense-of-hades-a-closer-look-at-the-abduction-of-persephone/</a> )</i><br />
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<span style="font-size: x-small;"><u>Nota da Tradução:</u> Na hora de trazer para a nossa vida atual, claro que temos que ajustar às conquistas que tivemos, mas o que não podemos é julgar (e condenar) com olhos atuais sem considerar o contexto histórico - nesse sentido é que a adaptação dos mitos não serve, que é um 'desserviço'. Mas teve algumas coisas no texto original que eu retirei ou modifiquei exatamente por achar sexista (por isso está escrito 'traduzido e adaptado'); tipo dizer que o deus precisava de uma mulher "para iluminar" o lugar ou que o autor estava falando dos deuses "como uma dona de casa fofoqueira".</span></div>
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Alexandrahttp://www.blogger.com/profile/11007700081991461118noreply@blogger.com1