março 11, 2012

A dança como ritual (2º texto)



Os helenos acredita(va)m que a dança foi inventada pelos Deuses, como um presente dado aos mortais, e, portanto, associavam-na a cerimônias religiosas. Os textos antigos da época indicam que a dança era levada em alta consideração, principalmente por suas qualidades educativas. A dança era fundamental para os que se iniciavam em um círculo e ela terminava com os dançarinos encarando um ao outro. Quando não dançavam em círculo, eles seguravam suas mãos alto ou ondeavam-nas para um lado e para o outro. Eles também costumavam segurar címbalos ou um lenço nas mãos. Enquanto dançavam, cantavam, às vezes em uníssono, às vezes em refrão, repetindo o verso cantado pelo dançarino líder. Os que assistiam se juntavam a eles, marcando o ritmo ou cantando. Os músicos compunham letras para se adequar à ocasião. 

Em Roma, Marte tinha os "sacerdotes saltarines", que saltavam para que as plantas crescessem, em março. Cada dançarino levava uma espada no cinto, uma lança na mão direita e um escudo trácio na mão esquerda. Faziam movimentos rítmicos ao som de uma flauta e cantavam hinos tradicionais. Os escudos eram cópias do escudo de Marte que caiu do céu e foi conservado no fórum como garantia da continuidade do império.

Na Grécia, a "Dança Pírrica" (Πυρρίχιος) era executada na Panatenaia, festival a Atena, onde os dançarinos armados representavam suas tribos. Diz-se que a própria Atena dançou esse ritmo em celebração pela vitória dos olimpianos sobre os gigantes (a Gigantomaquia). Como competição atlética, existiam três categorias; meninos, imberbes e homens. O prêmio de cada um dos três desafios era um touro e 100 dracmas (quase uns 10 mil reais, creio eu). Havia um patrocinador que pagava pelo treinamento dos dançarinos de sua tribo. Os bailarinos tinham uma coreografia com movimentos de ataque e defesa derivados das artes guerreiras. Os tocadores de aulos (uma espécie de flauta dupla) acompanhavam a dança.

Eis algumas pinturas com o tema da Dança Pírrica [clique nas imagens para aumentá-las]:

Alma Tadema - A Pyrrhic Dance (1869)
Jean León Gérôme - The Pyrrhic Dance (1885)

Nonnus, na Dionisíaca, conta do casamento de Harmonia, filha de Ares, no qual "seu pai [Ares] dançou de alegria por sua garota, despido de sua armadura, um Ares dócil [...]: ele sacudia seu elmo de crina de cavalo, tão familiar na batalha, e usava grinaldas sem sangue em sua cabeça, lançando uma alegre canção para Eros."

Se até os deuses da guerra dançam e Nietzsche afirmava só acreditar em deuses que soubessem dançar, por que não espelharmos o divino e entrarmos na dança com (e para) Eles?