DIPOLIEIA ("ao deus da cidade"): Festival em honra a Zeus Polieus (di - a zeus, polis - cidade). BOUPHONIA ("matança do boi"): Neste dia (parte do Dipolieia), algumas garotas buscam água para usar em ferramentas afiadas. Os afiadores afiam um machado com cabo e uma faca de açougueiro. Vários arados de boi são arrebanhados pelo pasto até um altar, onde cevada e trigo foram colocados. O primeiro boi que for ao altar está "consentindo" em ser sacrificado. Um homem mata o boi com o machado e outro corta sua garganta com a faca. Ambos soltam suas ferramentas e fogem. Depois o boi é retalhado e preparado para o banquete. Seu couro é estufado com palha e costurado, de forma que pareça vivo. Um julgamento então começa para determinar quem é o culpado pela morte do boi. As primeiras apontadas são as carregadoras de água. Elas culpam os afiadores, que, por sua vez, culpam os sacrificadores. Finalmente, os sacrificadores culpam o machado e a faca, que são declarados culpados e jogados ao mar. (O tema para refletir nesse festival parece ser o ato da reparação - alguém tem que pagar pelo que acontece - e de como nos livrarmos da culpa).RELAÇÃO: Como a Dipolieia caiu em junho (ela costuma cair entre o final de junho e começo de julho) e aqui tem várias apresentações de Boi nessa época, sinto que é inevitável pensar na semelhança por termos a questão de um boi sendo morto e vários personagens procurando um culpado (fuga e julgamento) que é, por fim, redimido da sua culpa; fora a parte em que tentavam fazer parecer que o boi está vivo e, no mito mais atual, ele realmente ressuscitar. Além disso, o Pai Chico usa um facão nas danças, que me lembra a faca afiada do Bouphonia, e tanto a língua (no Bumba-boi) quanto a garganta (no Bouphonia) são partes da boca.
BUMBA-MEU-BOI: A origem dessa festa seria uma mistura, nas fazendas, de tradições africanas (como a do boi geroa) com européias (como as touradas) e alguns elementos indígenas. O enredo básico é o seguinte: um rico fazendeiro possui um boi muito bonito, que inclusive sabe dançar. Pai Chico, um trabalhador da fazenda, rouba o boi para satisfazer sua mulher Catirina (ou Catarina), que está grávida e sente uma forte vontade de comer a língua daquele boi. Os caboclos, junto com os índios e índias, procuram entre os vaqueiros quem fez isso, descobrem e prendem Chico. Quando o fazendeiro encontra o boi, ele está doente (ou morto). Os pajés curam a doença do boi (ou o ressuscitam) e descobrem a real intenção de Pai Chico. O fazendeiro o perdoa e celebra a saúde do boi com uma grande festividade.
[ Nota: Curiosamente, sem saber qual grupo iria se apresentar naquele horário, assisti ao Boi de Teodoro, sendo que Teodoro vem do grego, "presente de deus", embora não tenha sido esse o motivo do nome do grupo que ali estava (que o batizou pelo seu fundador). Além disso, eles eram de Brasília, onde fui criada. Para mim, tudo foi um sinal, ou melhor, um aval.
Nota 2: Aliás, se formos mais longe, veremos que essas cerimônias com a ressurreição de um boi começaram no Egito, no culto a Ápis, no Nilo. ]
A lenda "demonstra sempre o contraste entre a fragilidade do homem e a força de um boi" (wikipedia). É uma festa que acontece no país inteiro, só muda o nome:
"...no Maranhão, Rio Grande do Norte, Alagoas e Piauí é chamado bumba-meu-boi, no Pará e Amazonas é boi-bumbá ou pavulagem; em Pernambuco é boi-calemba ou bumbá; no Ceará é boi-de-reis, boi-surubim e boi-zumbi; na Bahia é boi-janeiro, boi-estrela-do-mar, dromedário e mulinha-de-ouro; no Paraná, em Santa Catarina, é boi-de-mourão ou boi-de-mamão; em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Cabo Frio e Macaé é bumba ou folguedo-do-boi; no Espírito Santo é boi-de-reis; no Rio Grande do Sul é bumba, boizinho, ou boi-mamão; em São Paulo é boi-de-jacá e dança-do-boi."
Então, onde quer que você more, fica a sugestão de alternativa para a sua celebração da Bouphonia na Dipolieia dos próximos anos.
Achei fantásticas as relações que você encontrou entre os antigos ritos da Bouphonia e os atuais do Boi-Bumbá.
ResponderExcluirAs mitologias em todo o mundo são fluidas e se transformam com o tempo, e às vezes podemos encontrar corresponências impressionantes.