junho 09, 2010

Kallynteria e Plynteria

- imagem: detalhe de estátua em Corinto: coruja na mão de Atena -
Esta semana tivemos os festivais da Kallynteria e da Plynteria, ambos em honra a Atena.

No primeiro, que é o festival da varredura, fiz apenas uma limpeza nas ofertas votivas a ela e no altar onde elas ficam, acendendo um incenso em seguida.

No segundo, acordei pensando em como eu iria fazer para arrumar tempo para ofertar-lhe figo na praia, porque antigamente se ofertava doce de figo no litoral onde a estátua da deusa era banhada e recebia um novo vestido. Esse era também um dia 'desafortunado' pelo fato de a estátua estar fora da cidade, produzindo uma ruptura na ordem das coisas. (Quem quiser saber mais sobre ambos festivais, clique AQUI.)

Enfim, eu teria um dia cheio, mas teria que dar um jeito. E Atena providenciou esse jeito para mim.

Pois bem, fui para a minha obrigação matinal e qual não foi a minha surpresa ao perceber que terminamos tudo às 9 horas da manhã e não às 11:50 como de costume! Consegui tempo para ir ao supermercado atrás dos figos, os quais só achei enlatado e em calda, o que me fez ter que comprar um abridor de latas para não ter que voltar em casa e pegar um. Chegando na avenida, estacionei, abri a lata e a levei para uma escadaria onde costumava haver uma espécie de 'templo', umas colunas gregas que hoje estão cobertas de vegetação. No meio dessas plantas, um caminho de areia até a praia e ao mar. Foi ali na escadinha mesmo que pronunciei o "lambane anathema mou" (aceite minha oferta) enquanto entregava-lhe o doce, o qual melou um pouco minha mão e eu provei, estava bem gostoso, embora eu nunca tenha sido fã confessa de figos.

Já à noite, sozinha em casa, fui concluir meu ritual, fazendo uma mini-procissão pelos cômodos com o incenso aceso no incensário (a começar da frente da imagem de Atena que está na porta do meu armário), e tentando me lembrar de algo que fosse semelhante ao que se espera que digamos, que seria mais ou menos assim:

Hoje relembramos o festival no qual a estátua da deusa Atena era levada de seu santuário para ser banhada e receber um novo vestido. É um dia em que o véu entre os mundos fica mais tênue, não sendo um tempo propício para se honrar os mortos e sim para agradar os espíritos malignos que possam estar por perto agora que Atena se ausentou da cidade para ser lavada. É pelo exercício da Xenia (hospitalidade) que começamos a nos proteger de tais espíritos.

Usamos a água lustral esperando que a sabedoria flua como água dentro de nós. Acendemos o fogo sagrado, esperando que seu poder queime dentro de nós. Que a oliveira sagrada cresça também dentro de nós. Que, ao nos purificarmos, afastemos - de nós e deste lugar - todo o mal.

Titãs, deuses primordiais, respeitamos suas forças e prestamos-lhes nossas honras. Éris, deusa da discórdia, respeitamos seu poder de destruir o que não se mantém firme e prestamos-lhe nossas honras. E todos os outros que possuem uma poderosa lei ou que presidem questões de justiça, respeitamos vosso poder e prestamos-lhe nossas honras para que não nos causem problemas. Aceitem estas ofertas e não cruzem nossas fronteiras.

Ninfas, sátiros, mênades, dríades, naiades, oceânides e outros daimones da natureza, pedimos a vossa proteção e cuidado enquanto Atena está fora. Deuses e deusas, observem-nos enquanto executamos os ritos sagrados para Atena e não deixem o mal chegar até nós.

Agradecemos aos Destinos por nos trazerem até este dia e esperamos que teçam um belo futuro para nós. Agradecemos a Zeus por suas bênçãos e esperamos por seus favores futuros. Agradecemos a Gaia, mãe de tudo, a mais antiga, que nutre a terra e tudo o que há nela.

Atena, que, com a fumaça deste incenso, nossas preces subam a ti nas asas das corujas e nas vozes do vento. Aceite-as e abra os nossos corações às tuas bênçãos!

Prometemos trabalhar com nossos amigos para honrar os deuses, buscando a verdade (aletheia), a virtude (areté), a justiça (dikê) e a sabedoria (sofia), com alegria em nossas almas, desejando que os deuses nos abençõem a fim de que nos tornemos mais fortes e alertas às necessidades uns dos outros.

Athena, kharin echomen soi. / Atena, nós te agradecemos
Daimoni, kharin echomen hymin. / Espíritos, vos agradecemos.
Panes theon, kharin echomen hymin. / Todos os deuses, vos agradecemos.

Fizemos como nossos ancestrais nos ensinaram e como esperamos que nossos filhos um dia façam, para que os deuses nos sejam favoráveis!

Ésto! (Assim seja!)

E o seu dia, como foi?

5 comentários:

  1. Eu queimei uma velinha, um incenso, varri o lugar. Ontem floriu do nada uma rosa na minha roseira, acabou enfeitando o espaço de Athena... coisa simples.

    Acho o melhor o fato de que de algum modo o tempo surge de algum jeito (como todo mundo saindo e me deixando sozinha em casa na Thargelia). E a gente faz o que tem de ser feito, nesse ofício louco e lindo de sermos servos dos deuses.

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  2. Pois é, mesmo a minha avó estando aqui em visita, nessa noite todos saíram e eu consegui ficar sozinha para a Plynteria.

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  3. Que linda descrição de sua celebração! Gostei muito!

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  4. "Usamos a água lustral esperando que a sabedoria flua como água dentro de nós. Acendemos o fogo sagrado, esperando que seu poder queime dentro de nós. Que a oliveira sagrada cresça também dentro de nós." Água, Fogo e Árvore, a representação dos Três Reinos, e consequentemente a principal presença nos altares de muitas ordens druídicas.

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