dezembro 18, 2016

Balanço de fim de ano



Na minha vida pessoal, realizei algumas coisas este ano: namoro, carro, celular, ajudar meus pais, perder alguns medos. Mas, de um modo geral, 2016 foi um ano difícil em muitos aspectos: no mundo cultural perdemos grandes artistas, na política passamos por golpes e vimos resultados bizarros de eleições e tivemos perdas de direitos, no mundo metafísico vi muita gente sendo chacoalhado em suas crenças. Entre outras coisas que não vem ao caso escrever. E, voltando ao lado pessoal, estou meio indefinida com relação a trabalho… e meu peixe morreu. 

Quando você está de luto - seja pelo seu artista ou pelo seu país ou por uma ilusão ou sonho que perdeu - fica difícil estabelecer uma rotina religiosa de gratidão. Fica difícil focar no mundo invisível quando sua dor é real e o estresse te ocupa os dias.  

Então a gente cai naquela armadilha de fazer pouco quando mais deveria estar se apegando ao sagrado para se manter com esperanças. E se desanima. Você se sente abandonado, e Eles teriam o direito de se sentirem impacientes com você. 

Por um lado fico me perguntando se não deveríamos focar nas coisas boas e parar de reclamar, por outro fico percebendo que quem é otimista demais acaba não se mobilizando a mudar o que está errado. Com relação à política, vejo muita fala e pouca ação, muita gente se acomodando, achando ruim mas com medo de fazer algo que se prejudique ou que o tire do conforto da rotina garantida. Já com relação a crenças e relacionamentos, vejo muita reclamação de desejos não satisfeitos e pouca gratidão pela “sorte” (presente, dádiva) que temos de ter alguém - seja olhando por nós seja nos querendo. 

A verdade é que nossa memória é muito seletiva e atraída ao que nos convém. Muitas vezes este ano recebi graças dos deuses quando nem estava pedindo (estava só agradecendo o favor anterior), mas quando algo não acontece como a gente quer… aí já começamos a dizer que estamos com as crenças abaladas. Não está certo. E fim de ano é tempo de rever suas atitudes. 

Se você é de algum modo formador de opinião, se tem muitos seguidores, seria um desperdício não aproveitar essa força para mobilizar e inspirar atitudes de mudança. Acredito que a palavra para o próximo ano é coragem. Temos vivido muito anestesiados e acomodados e com medo de reagir, ficamos só assistindo os nossos direitos serem tomados e os outros nos imporem como devemos nos comportar e pensar e viver. Confiamos demais no “jeitinho brasileiro” que vai driblando as dificuldades como pode em vez de corrermos atrás de uma vida plena de verdade. 

Eu mesma estou considerando sair da minha zona de conforto de um emprego com ótimos benefícios e ir atrás de algo que faça mais diferença no mundo. Eu dizia que o que me incomodava era as pessoas perguntando por que alguém com a formação que tenho estaria num lugar tão burocrático e limitado, sendo que eu me sentia feliz ali, mas na verdade o que me incomoda talvez seja meu próprio comodismo e medo. Comodismo do apego aos benefícios materiais. E medo de não dar conta de algo maior, medo de não ser capaz de ser excelente em uma área com responsabilidades mais grandiosas. 

E, se eu convivesse com alguém com essas características, provavelmente ficaria impaciente algum dia. Não quero que os deuses me vejam assim. Quero voltar a ser alguém que os deixe orgulhosos. Quero vencer novas batalhas internas e conseguir atuar essas vitórias no mundo externo. Por isso espero que a palavra para 2017 seja coragem. Para romper barreiras, para se permitir tentar fazer dar certo, para agir de verdade e reagir diferente. 

Dizem que 2017 terá a regência de Saturno e Vênus. Na Kronia falamos de nos libertar das nossas amarras, na Aphrodisia celebramos Pandemos, que une a população em um único corpo social e político com a noção de comunidade, de “morar juntos” (synoikismos). Nós todos habitamos o mesmo espaço e precisamos fazer dele um lugar melhor para vivermos. Já está na hora. Senão o Tempo (Cronos) acabará por nos engolir. 


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