“Imagine, por exemplo, uma cerimônia noturna, à luz de tochas. Um garoto para ser iniciado. Ele se senta bravamente no trono. Os Curetes ou Coribantes dançam em torno dele, dando voltas e voltas, ruidosamente batendo suas espadas em seus escudos. Uma sacerdotisa toca interminavelmente flautas de tons graves. Depois de um tempo, o círculo é penetrado pelas figuras espectrais de rosto branco dos Titãs, os ancestrais do homem. Eles espreitam o garoto, refletindo um espelho diante de seu rosto. Ele segue o espelho como se estivesse hipnotizado. A música continua, fica mais selvagem, com tambores, e o zurro esquisito dos berrantes de touro. Facas cintilam pela escuridão, há gritos não-humanos, golpes/cortes e torções/puxões de membros. Eles dão voltas carregando um esquife sagrado, e todos vêem o coração quente e sangrento que ele contém. Há cheiros de carne assada. Haverá ali carne para comer; enquanto todos deploram o assassinato selvagem daquela criança inocente. Com a finalidade de consolar, uma efígie é produzida, sendo feita ou coberta de gesso natural. O coração é inserido naquele peito. Rígida, branca e sem vida, a coisa fica ali parada na luz tremeluzente. Então o milagre. Em um momento de blecaute - ou de luz ofuscante - o lugar da efígie é tomado pelo novo iniciado, ele mesmo agora está coberto com o gesso como seus antigos assassinos, e ele salta de pé, vivo e bem, pronto para entrar em sua nova vida.”
(M.L.West, 'The Orphic Poems', Clarendon Press, Oxford, 1983, pag. 163, traduzido por mim.)
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