«Na Grécia Antiga, o costume religioso podia variar consideravelmente de lugar a lugar: 'pólis' (cidade) diferente, 'nomos' (costume) diferente, dizemos. E, ainda assim, todas as práticas eram reconhecidamente parte da mesma religião, com os mesmos deuses, a mesma mitologia, a mesma história. [...] minha comunidade é baseada na da Atenas clássica. Se você procurar por outros rituais, especialmente online, encontrará algumas variações: um grupo faz duas libações, outro circula o altar, outro celebra tanto a Dionísia Rural quanto o Lenaia, o outro prefere a cosmologia órfica à de Hesíodo e Homero. Essa variedade é, acredito eu, a marca de uma crença viva, uma que mobiliza as pessoas a honrar os deuses de coração e de uma forma vital, e de um jeito que faça sentido para suas famílias, suas comunidades. Pois, como Shelley disse uma vez (num contexto bem diferente), "Somos todos gregos".»
(Drew Campbell - 'Old Stones, New Temples'; traduzido pela Álex)
Ano passado tivemos algumas sugestões de páginas de facebook querendo fazer parceria conosco. Eu sinceramente acho desnecessário que haja separações em vez de nos unirmos no RHB. Se o grupo fosse de outro país, eclético, alexandrino, tudo bem, mas se são todos brasileiros, reconstrucionistas e helênicos, e se sempre acolhemos bem todo mundo (acredito eu), não vejo razão - pois "Somos todos gregos". Além disso, vi dois problemas com essa situação. Um é que um dos grupos é uma tentativa de popularizar internacionalmente "o grupo de Fulano" criando grupos que representem o grupo dele em outro país. Acho estranho, até porque nesse caso sim acho melhor parceria (como temos com o grupo Thyrsos na Grécia e com a Hellenion nos EUA) do que impor seu próprio grupo em uma terra estrangeira que JÁ tem um grupo ali. O outro é o desconhecimento que ainda temos desses outros grupos mais novos.
Não raro já observei pessoas perambulando por lugares dos quais depois se decepcionaram e largaram - normalmente com algum estresse e chateação. Por isso, imagino que seria útil um 'checklist' para pensarmos bem antes de decidirmos nos envolver com um ou outro grupo sobre o qual estamos incertos. Há algumas coisas que podemos identificar e ficar com um pé atrás quando isso acontecer. Assim a gente evita o famoso "ah, se eu soubesse disso na época...". A primeira coisa é pesquisarmos não apenas o site de um grupo, mas também o relacionamento entre os membros e se existem 'ex-membros' (e o motivo de estes terem saído). A partir daí podemos incluir, por exemplo:
1. Tome cuidado com auto-proclamações. Do tipo quando eles dizem que são descendentes diretos de Hércules, de Ulisses, do Batman (rs), de tradição milenar com ensinamentos repassados diretamente de Triptólemo etc; e desconfie se eles exigem que você os chame por títulos magnânimos e vivem se gabando por terem tantos anos de estudos e diplomas e falar dezenas de dialetos, passando o tempo todo lembrando as pessoas disso.
2. Atente para os custos para se filiar ou continuar sendo membro. Gente que cobra os olhos da cara normalmente criou a organização mais para gerar receita do que para dar um ensinamento espiritual genuíno.
3. Estranhe se você ouvir conversas sobre os 'poderes sobre-humanos' dos líderes; do tipo "eles sabem tudo de você", "eles nunca erram", "se eles disseram para fazer assim, é melhor obedecer" etc.
4. Se eles dizem de quem você pode ou não pode ser amigo, fuja. Amizade não precisa ser exclusiva entre os membros de um grupo/crença, ainda mais por alguém ter 'mandado' sem você nem ter conhecido a pessoa ou experimentado um relacionamento com ela por si mesmo.
5. Desconfie se eles dizem que alguns livros são "proibidos" (não "evitados") porque tais livros vão lhe fazer mal, vão atrasar sua evolução espiritual, vão lhe fazer ter pesadelos terríveis, vão macular sua alma (:P) etc.
6. Evite-os se eles fazem uma tempestade em copo d'água quando alguém comete algum engano e/ou crucificam a pessoa por isso, deixando todos desconfortáveis e com aquele receio constante de errar.
7. Fuja dos extremos ao perceber que eles estão SEMPRE tensos e estressados (sem se permitirem um gracejo de vez em quando, isso pode ser insegurança) ou SEMPRE alienados e 'ligados na bateria' (sem levar as coisas a sério e sem procurar um equilíbrio).
8. Repare se eles não parecem ser todos fiéis ardorosos de certos aspectos de Ares, de Éris e dos Titãs (ou seja, se estão sempre combatendo os inimigos, promovendo discórdia e se envolvendo em guerrinhas de poder).
9. Veja se eles zombam de quem pede auxílio para entender alguma experiência espiritual particular dizendo que a pessoa está "viajando" e trata-a como se o relato fosse ridículo ou estúpido e como se comentar sobre isso fosse perda de tempo. Se não existe nem o básico da educação e respeito, não se pode esperar que surja algo melhor.
10. Observe se eles não mantém uma hierarquia muito rígida, baseada na instalação do medo de se confrontar alguém e na proibição de se avançar muito rápido nos níveis da "ordem".
11. Estranhe se, ao mesmo tempo em que eles ficam tentando angariar seguidores fazendo rituais para questões mundiais (por exemplo: a paz, o combate à fome, o meio ambiente), eles mesmos não cuidam sequer das questões internas (por exemplo: a concórdia entre si, a saúde dos membros, a educação para coleta de lixo em casa).
12. E, por fim, siga sua intuição e o bom senso! Sentir-se incomodado nem sempre é por conta da nossa inexperiência, muitas vezes é um sinal de coisa errada apitando nossa percepção interior.
Talvez, se os novos grupos tiverem propostas diferentes que não a reconstrução da religião helênica antiga, e se - com o tempo - a gente perceber que eles são corretos, aí tudo bem sermos grupos distintos e parceiros. Pode até virar uma rede bem útil e funcional!
Assim estaremos seguindo dois princípios de Sólon: "Não se associe com pessoas que fazem coisas ruins" e "Não seja precipitado em fazer amigos, mas não os abandone uma vez feitos".
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