No solstício de inverno do hemisfério norte, quando os dias são mais curtos e há menos luz, dizem que Apolo está na Hiperbórea e Dionísio fica em Delfos. É uma época em que precisamos refletir para aprender como manter a luz divina nos tempos mais escuros -- no mundo, na vida e na alma.
Mesmo que você não siga o calendário da Hélade e queira sintonizar-se com o hemisfério sul onde mora, ainda assim temos um solstício, uma transição para uma estação onde luz e escuridão estão distribuídas de forma um tanto desigual no período de um dia. Nela, você não precisa regular seu ser interior a passar meio período ao sol das revelações e meio período ao escuro do mistério. Estar acordado é uma forma de consciência e sonhar é outra. Talvez você negue a existência de um outro estado de consciência, talvez você acredite mas coloque um como hierarquicamente superior ao outro, porém, ainda assim te digo que essa separação só está nas nossas cabeças. Nós não existimos separadamente nem do mundo físico nem do espiritual, participamos dos dois, e nossa liberdade/libertação acontece nos dois níveis. Assim como acaba não havendo muita diferença se neste fim de ano você celebra Dionísio ou Apolo.
"As bênçãos de ambos nos ajuda a entender como sermos plenamente nós mesmos, abrindo os olhos à nossa verdadeira natureza e com nossos corações livres de limitações. Desta forma, podemos atingir a 'areté'; podemos encontrar iluminação/esclarecimento." (Jess, da Hellenion, tradução minha)
Ambos os deuses te levam a um estado de consciência que poderíamos entender como o êxtase (o "ekstasis" dos gregos era quando a alma voava para fora do corpo). Só que o êxtase de Apolo é diferente do de Dionísio. Já mencionei aqui no blog sobre o êxtase do tipo dionisíaco (clique AQUI para ler), então agora vou falar do apolíneo.
Não há nada de selvagem ou perturbador no êxtase apolíneo. Este era intensamente particular, relacionado apenas ao individual (quase um "íns-tase" em vez de êxtase, rs). E acontece em tal silêncio, tranquilidade, imobilidade, que a pessoa do lado pode nem percebê-lo ou poderia até confundi-lo com alguma outra coisa. Mas é nessa calmaria que reside uma liberdade completa em um nível totalmente distinto. Nesse outro nível, a inexistência do espaço-e-tempo é simplesmente um fato, e acreditar ou duvidar disso não faz diferença. Esse é um estado em que se consegue entrar seja dormindo ou acordado, seja de olhos fechados ou abertos. É como estar acordado sem o estar e é como estar dormindo sem o estar também, é alguma coisa intermediária, para a qual não se incomodaram de encontrar um nome, porque todos sempre estiveram mais interessados na experiência do que na sua definição. É mais fácil falar o que ele não é do que o que ele é. Dizer que é um transe, um estado cataléptico, uma incubação, uma suspensão da mente, seria apenas atirar no escuro, pois esses são termos que falam mais do corpo físico do que do estado em si. A teoria não acompanhou a prática neste caso.
Não há nada de selvagem ou perturbador no êxtase apolíneo. Este era intensamente particular, relacionado apenas ao individual (quase um "íns-tase" em vez de êxtase, rs). E acontece em tal silêncio, tranquilidade, imobilidade, que a pessoa do lado pode nem percebê-lo ou poderia até confundi-lo com alguma outra coisa. Mas é nessa calmaria que reside uma liberdade completa em um nível totalmente distinto. Nesse outro nível, a inexistência do espaço-e-tempo é simplesmente um fato, e acreditar ou duvidar disso não faz diferença. Esse é um estado em que se consegue entrar seja dormindo ou acordado, seja de olhos fechados ou abertos. É como estar acordado sem o estar e é como estar dormindo sem o estar também, é alguma coisa intermediária, para a qual não se incomodaram de encontrar um nome, porque todos sempre estiveram mais interessados na experiência do que na sua definição. É mais fácil falar o que ele não é do que o que ele é. Dizer que é um transe, um estado cataléptico, uma incubação, uma suspensão da mente, seria apenas atirar no escuro, pois esses são termos que falam mais do corpo físico do que do estado em si. A teoria não acompanhou a prática neste caso.
"Quem olhar para fora, sonha. Quem olha para dentro, acorda." (Carl Jung, psiquiatra)
"Sonhar é acordar-se para dentro." (Mário Quintana, poeta)
Os sacerdotes "iatromantis" (oráculos-curandeiros) de Apolo eram mestres nesse estado de consciência e, por experimentarem esse tipo de liberdade, eram chamados pelo que conhecemos em inglês de "skywalker", um caminhante do céu, termo que aparece igualzinho no oriente, em lugares como o Tibet e a Mongólia. Os antigos relatos gregos dizem que os iatromantis viajavam a longas distâncias para o norte e leste da Grécia, passando por áreas habitadas por tribos iranianas de cultura xamânica, assim como pela Sibéria e Ásia Central. Nessas horas pensamos como no fundo não existe diferença entre ocidente e oriente. Talvez por isso - e não apenas por morar perto do Equador - eu também não veja tanta diferença entre norte e sul. Acho até que na antiguidade se viajava a longas distâncias muito mais do que hoje, quando temos avião mas que já trouxemos todas as facilidades para perto a fim de não precisarmos viajar no mesmo.
Provavelmente você já deve estar visualizando o que você conhece de parecido com esse êxtase apolíneo, essa unidade indivisível que lemos em relatos e vemos em práticas paralelas - como as dos xamãs, as dos iogues, e outras. Isso é mais do que uma simples coincidência. O que era desenvolvido no oriente, era formalizado no ocidente. E o que era formal no oriente, era um mistério no ocidente. O estado intermediário entre se estar sonhando e acordado tinha seus próprios nomes em cada cultura.
Então, neste momento do ano, quer celebrando Dionísio ou Apolo, espero que, no seu êxtase, sua alma encontre o que precisa -- que pode não ser o que ela procurava, mas que vai ser mais curativo e pleno ainda se você deixar que os deuses te conduzam nesse voo (agora estranhamente sem acento), o qual é muito menos solo do que você imagina.
Provavelmente você já deve estar visualizando o que você conhece de parecido com esse êxtase apolíneo, essa unidade indivisível que lemos em relatos e vemos em práticas paralelas - como as dos xamãs, as dos iogues, e outras. Isso é mais do que uma simples coincidência. O que era desenvolvido no oriente, era formalizado no ocidente. E o que era formal no oriente, era um mistério no ocidente. O estado intermediário entre se estar sonhando e acordado tinha seus próprios nomes em cada cultura.
Então, neste momento do ano, quer celebrando Dionísio ou Apolo, espero que, no seu êxtase, sua alma encontre o que precisa -- que pode não ser o que ela procurava, mas que vai ser mais curativo e pleno ainda se você deixar que os deuses te conduzam nesse voo (agora estranhamente sem acento), o qual é muito menos solo do que você imagina.
demais esse post, não conhecia detalhes sobre o tema, adorei mesmo! bjs
ResponderExcluiré verdade, pouco se fala do êxtase apolíneo :)
ResponderExcluirSuspiro! Esses dois sempre ao meu redor, movimentando e puxando-empurrando!!! =*
ResponderExcluirHum, nunca tinha ouvido falar do êxtase apolíneo (e olha que sou devoto de Apolo). Vou procurar conhecer mais.
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