dezembro 25, 2009

Os mitos da Heliogenna

Nos dias que envolvem o solstício do final de ano (inverno para a Grécia e verão para o Brasil), há a celebração moderna da Heliogenna, sugerida inicialmente para 9 dias, mas também adaptada para 3, 2 ou 1 dias. A explicação do festival você pode ler lá no site, clicando AQUI. Mas o que eu gostaria de falar nesta postagem é sobre os mitos.

Vendo o que se celebra, percebemos principalmente Hélio, Faetonte, Selene, Éos, Hécate, Hades e Perséfone. Então embora a ligação entre Hélio (sol), seu filho Faetonte (brilhante), Selene (lua) e Éos (aurora) seja mais óbvia, algumas pessoas poderiam perguntar o que os demais têm a ver com eles. Hécate, a do toucado cintilante, talvez seja mais fácil, por ela ser uma das filhas da noite e deusa da lua, carregando uma tocha. Mas esses deuses também têm mitos em comum, que vamos já saber. Também vamos perceber que é curioso não termos Ártemis incluída na Heliogenna, mesmo ela sendo considerada uma deusa lunar e figurando nos mitos correspondentes. Embora, se incluíssemos Ártemis, tivéssemos que trazer o solar Apolo também. Provavelmente não fazemos isso por conta de ser um festival dirigido a deuses de gerações anteriores à geração deles.

Seguem os breves relatos:

Hélio-Hades-Perséfone-Hécate

Em certo sentido, o deus do submundo Hades ("o invisível, o que dá a invisibilidade") parece muito mais um reverso de Hélio ("o visível, o que torna visível") do que do deus celeste Zeus. Quando Hades raptou Core, que assim virou Perséfone, ela gritou por ajuda, mas ninguém ouviu, exceto Hécate, na sua caverna, e Hélio. Depois o eco de sua voz alcançou sua mãe Deméter. Por nove dias ela andou pela terra com duas tochas nas mãos, à procura da filha. Na terceira manhã, Hécate - também com uma tocha - lhe trouxe notícias, dizendo que ouviu o grito, mas não ouviu quem tinha sido. Deméter perguntou então a Hélio e este lhe disse o que aconteceu. Aí vem todo um enorme relato de Deméter deixando o Olimpo e punindo a terra com a ausência de colheitas, e Iambe e Metanira em sua estada em Eleusis etc, que não cabe agora, e sim em outro festival. Quando Perséfone reencontra sua mãe, elas ficam abraçadas e, em seguida, vem Hécate acolher Perséfone também, passando a ser companheira delas.

Hélio-Hécate-Perséfone

A mãe de Hélio, Téia, recebia presentes de ouro, como Perséfone. A esposa de Hélio, Perse ou Perseida (com quem teve quatro filhos), era um outro nome de Hécate, "deusa que brilha amplamente". Perséfone também poderia ser uma forma mais cerimoniosa de Perse. Outra amada do deus-sol era Neera, "a nova", ou seja, a lua nova, em sua fase mais escura. Com ela, Hélio teve duas filhas. Com Climene (também chamada de Merope, "a de face virada", referência ao eclipse), ele teve sete filhas e um filho, Faetonte.

Hélio-Faetonte

Faetonte era um jovem deus do sol que uma manhã subiu no carro do pai, ergueu-se alto demais e caiu, à semelhança da estrela-da-manhã que se levanta muito cedo e logo desaparece. Ele caiu no rio Erídano e, às suas margens, suas irmãs solares o prantearam. De suas lágrimas surgiu o âmbar.

Hélio-Selene-Hécate-(Ártemis)

Hélio era irmão de Selene e de Éos. O nome Selene está ligado à palavra "selas" (luz) e "mene" (feminino de "men", que significa lua, o mês lunar). Com Zeus ela teve Pândia, "a que brilha inteiramente, a inteiramente brilhante", referência à lua cheia. Selene e Hélio eram tão fraternais quanto Ártemis e Apolo, nunca se casando entre si. Aliás, Apolo e Ártemis tinham um epíteto de Hécaton e Hécate, respectivamente, o que nos liga de novo a Hécate, "a distante", embora ela seja uma das deusas mais próximas da humanidade - como a lua é mais próxima da terra do que os planetas. A história de Ártemis como deusa da lua crescente, fechando o trio Selene-Hécate-Ártemis, parece se dever mais ao fato de ela ter um arco, que lembra o crescente, e ser irmã do solar Apolo, já que isso não se aplicava à Ártemis Táuria, Arcadiana ou Efésia.

Hélio-Éos-Selene-(Ártemis)

Éos é a deusa da manhã, da aurora, a deusa do trono de ouro, e outro reverso feminino do sol, sendo uma irmã mais selvagem e turbulenta do que Selene, visto que as histórias de amor de Éos eram mais apaixonadas que as da própria deusa da lua. Dos jovens que ela amou, muitas vezes só se conhece o nome. Em uma das histórias, ela disputou Céfalo com a esposa dele, Prócris, uma heroína que tinha características lunares. Em uma ilha grega, contava-se que Céfalo se uniu a uma ursa, animal associado a Ártemis. Pode ser que Céfalo ("cabeça") seja a cabeça da constelação de Órion, outro amado por Ártemis e Éos.

[Consultas: livro "Os Deuses Gregos", de Karl Kerényi, e Theoi project.]

Espero que, além de fazer conhecer os mitos, isso auxilie as pessoas a não verem os deuses apenas como personificações (ainda mais tão diretas), como se houvesse apenas um deus para cada coisa no mundo ou que cada deus só regesse um único domínio da realidade...

dezembro 16, 2009

Coisas que me dão raiva (parte 1)

Hoje estava conversando com o Thiago sobre uma manifestação dos helênicos da Grécia em agosto passado e resolvi falar aqui sobre isso, já que nem todos leram as notícias relativas ao desrespeito dos cristãos gregos com as outras crenças. (Tudo bem que o assunto surgiu porque vimos um sujeito lindinho no vídeo e resolvemos assistir com mais atenção, rsrsrs!)

Cerca de 200 pessoas, incluindo cineastas, escritores, editores, músicos famosos, se reuniram em frente ao Museu da Acrópole a convite da YSEE (Supremo Conselho dos Gentis Helenos) para denunciar a intervenção da igreja cristã ortodoxa grega na cultura, com suas censuras que causaram desastres nas estátuas.

Já tínhamos comentado no fórum, na época, sobre a depredação do Parthenon, quando Costas Gavras fez um filme sobre a história do Parthenon, onde cenas (que foram sumariamente deletadas) mostravam como os cristãos esmagaram e devastaram decorações esculpidas lá para transformar o templo em igreja por acharem que nas estátuas dos deuses residiam demônios a serem destruídos. A civilização helênica pré-cristã era tachada de "maligna" e "merecedora de ser incendiada e lançada ao chão". Isso são fatos incontestáveis, que ninguém pode negar que aconteceram, embora os ortodoxos fanáticos neguem. Escolas de filosofia foram fechadas, vários livros foram incinerados por monges e bispos, e em muitas igrejas gregas de hoje você vê em suas paredes fragmentos de antigos templos demolidos. O líder da igreja cristã ortodoxa oriental pediu inclusive que o Parthenon fosse convertido a uma igreja cristã para que a celebração do seu jubileu fosse "mais glorioso". No berço da democracia não há sequer liberdade religiosa, e provavelmente a Grécia é o único país da Europa a agir assim, sem um Estado laico, já que o Ministro da Educação é também o Ministro dos Assuntos Religiosos.

Mas, voltando a hoje, o que nos irritou foi o que assistimos no vídeo de uma manifestação feita diante do Museu da Acrópole, pedindo que parassem essa teocracia. O povo fez máscaras superlegais, e fez uma imagem chocante de uma cabeça de estátua chorando sangue. Porque uma das coisas que eles mostram foi como os cristãos entalharam uma cruz na testa e no queixo de uma estátua de Afrodite, destruindo assim uma obra de arte, o item 1762 do museu.

Isso é uma falta de respeito absurda, não só à crença e liberdade de expressão religiosa de outros seres humanos, mas também à arte (à subjetividade, à criatividade, à estética), à criação individual do artista, querendo misturar domínios diferentes da esfera humana e impor o seu.

Quem quiser ver o vídeo, o link é este: www.youtube.com/watch?v=QqsMZJG6xJc e as fotos da manifestação estão aqui: diamartyriaakropoli.

Ainda que o protesto tenha sido há 4 meses, essa é uma questão que já acontece há anos e continua acontecendo e está sendo bem difícil de mudar. Acho que todos se lembram do rolo que foi nas Olimpíadas de 2004 na Grécia, quando fizeram bonequinhos ridículos com nomes de deuses como mascotes e botaram um líder ortodoxo na abertura (onde desfilava-se a história dos jogos que começaram com Zeus) para "reforçar" que aquela parte pré-cristã era tudo mitologia etc e tal.

Sou uma pessoa calma, paciente, mas nunca injusta ou desumanamente passiva. Como diria Milton Nascimento, "não posso, não devo e quero viver como toda essa gente insiste em viver, e não posso aceitar sossegado qualquer sacanagem ser coisa normal".

Fica a minha indignação. Amo a Grécia Antiga, mas a atitude dos líderes de 98% de cristãos da Grécia moderna me dá raiva.

dezembro 07, 2009

Acreditar e ser grata

Um dia desse eu estava conversando sobre esse negócio de explicação racional pras coisas... Desde a época em que fui fazer psicologia que algumas amigas se preocuparam em me ver perdendo a para ficar com a ciência, como se fossem incompatíveis. O fato é que, mesmo que você pense que tudo tem explicacao, chega uma hora em que, destrinchando as explicações ao nível mais elementar, em algum momento a explicação vai se limitar a um "é assim porque é assim". E quem fez ser assim?

E mais: se eu escuto algo de um filme que alguém deixou ligado e pensei que era alma, mesmo assim o fato de eu ter ouvido exatamente aquele trecho em particular não poderia ser uma mensagem pra mim em vez de mera coincidência? Talvez o que Jung chama de 'sincronicidade'.

Claro que, se vem um freudiano ou outro ser do tipo, diria "foi sua mente que projetou", mas, se eu não mando na minha mente (como aprendemos das feridas narcísicas), quem manda? Se fazemos coisas que não queremos, se dizemos que "não era eu, não sei o que me deu" porque o inconsciente tinha guardado e vieram à tona, por que algumas coisas ficam e outras não? E por que nos sonhos me surgem coisas que aparecem do nada depois, no dia que as sonhei? Mesmo que cheguemos à explicação dos arquétipos, não tem muita diferença uma marca-antiga (arquétipo) de um deus interior compartilhado.

Aqui eu poderia seguir falando da diferença entre 'tudo ter uma explicação' e 'tudo ter um motivo', mas não vou. Não quero teorizar agora, quero compartilhar experiências.

Eu já tentei não acreditar no que alguns chamam de coisas "esquizotéricas", até porque eu não vejo materializações de espíritos e porque tem muita coisa que me aconteceu que eu saberia facilmente explicar dentro das ciências não-ocultas, mas então me lembro de todas as outras que eu não explico/entendo e me volto novamente para o fato de que me sinto melhor acreditando. Sabe por quê? Porque não me sinto ingrata!

Tem coisas que são 'coincidência' demais, então ignorá-las me parece uma espécie de ingratidão. Imagina se você compra um presente para alguém e a pessoa vira para você e diz "ah, apenas coincidiu de você ter dinheiro e eu estar precisando e consequentemente gostar de ganhar" em vez de ela achar legal você ter se lembrado dela e comprado exatamente o que ela queria... Eu não quero dar uma de mal-agradecida com os deuses/ancestrais/daimons/etc que colocam as coisas no meu caminho.

Acredito que, mesmo que eu abandonasse o politeísmo, provavelmente ainda assim eu seria de algo dos moldes da conscienciologia, que não acredita em deuses mas acredita na consciência eterna, que você tem a mesma consciência que fica reencarnando e a qual é capaz de fazer muitas coisas sobrenaturais/inexplicáveis. E o engraçado é que eles não acreditam que um ser superior criou isso, é como se a consciência tivesse aparecido da evolução/ordem natural ou existisse desde sempre e pronto. Para algumas pessoas que conheço, é incompativel a ideia de um ateu que acredite em reencarnação, mas eu acho que compreendi o mote deles nesse aspecto.

Mas, enfim, o fato é que a vida sem um quê de mistério não faria sentido. A gente só comeria, dormiria, procriaria e bateria ponto no trabalho. Sem nada levar nem nada deixar. Que graça teria isso? Eu prefiro ser tomada por supersticiosa do que por uma ingrata descrente e desprovida de intuição e instinto. É uma escolha minha, um valor que carrego e, para mim, uma virtude.

Álex

IMAGEM: 'Pandora', de Jules Joseph Lefebvre (1882).

novembro 22, 2009

Hermes Noumios/Oeopolus/Kriophoros (o bom pastor)

Minha versão do Salmo 23, feita de última hora depois de ver o mesmo postado em um blog :

Hermes é teu pastor, nada te faltará.
Se precisar, roubará para ti o rebanho de Apolo e se deitará em verdes pastos, tocando mansamente a lira de um casco de tartaruga.
Condutor de almas, ele as guia pelos campos de asfódelos e pelas planícies serenas do Hades.
Mas nada hás de temer, pois é também dele a transformação da alquimia e a abertura de estradas, o deus da travessia e das travessuras.
Seu caduceu e o adejar de suas asas nos confortam.
Levará rapidamente tua mensagem aos deuses e trará deles, na mesma velocidade, as bênçãos que cobrirão de movimento os teus dias.
Por todos os aeons, por todas as eras.
Ésto. Ghénoito. (Assim seja.)

~ Álex, 22/11/2009 ~

novembro 14, 2009

Encomenda

Ontem a Lu Polisel me pediu para escrever um texto com o tema Despedida, para ela ler em um sarau nesta próxima semana e dizer "com muito orgulho" que o texto é da sua amiga Álex "que mora em uma ilha lindíssima", hehehe! Eu fiz o texto a seguir e ela disse que poderia postar onde quisesse. ^^ Fica aqui então para vocês:
Enquanto estive aqui, meu coração transmutou. E agora preciso levá-lo a outro lugar, onde possa contagiar alquimicamente corações semelhantes.

Não se aflijam quando eu atravessar as ondas do azul. Ele é tão profundo quanto o amor que lhes tenho, tão misterioso quanto o elo invisível que nos une, tão vasto quanto os caminhos pelos quais o destino nos leva. Espero que o mar, que tudo acolhe, torne igualmente receptivo o meu novo lar.

Eu sigo a direção do sol, como Órion amou a Éos, a aurora. E, quando cai o véu da neblina, seguirei da mesma forma que olhar de Selene acompanhava Endímion.

Onde eu estiver, lembrarei de todos ao ver o fogo de Héstia e as crianças de Ártemis, pois sei que compartilharemos os mesmos pensamentos nos deuses.

Quanto a vós, se me amam, mantenham minhas plantas vivas e cuidem de si. Que nenhuma lâmina os atinja, e que nenhuma praga as invada. Que a doença se aparte de todos. Que, tanto nesses belos corpos quanto naquelas belas folhas, não haja excesso nem falta de sol, nem de água, nem de vento, nem de sombra.

Que, ainda longe, eu seja permeada pela lembrança da sensação que guardo de nossos abraços, do cheiro das flores, e de como costumáveis cerrar lentamente os olhos, como se fossem pálpebras flutuantes emoldurando esse espelho brilhante da alma.

Despeço-me, amados; despeço-me, amigos; despeço-me agora de meus espíritos irmãos. Que a caminhada seja segura, que a viagem seja prazerosa, que a ausência seja breve, que a distância seja um detalhe, que o carinho seja eterno, e que o reencontro se dê a cada noite: quando fecharmos os olhos e passearmos nos sonhos.

E caso a saudade for grande a ponto de transbordar em pranto, considerai as lágrimas como parte do oceano que me leva, constituídas do mesmo elemento, materializando um pouco de mim no lugar onde estais, tornando real minha presença. Farei o mesmo convosco.

O mar não nos afastou, é seu sal que nos une. E cada orvalho do dia que amanhece é uma promessa de travessia e de retorno.

( Alexandra, 13/11/2009 )


novembro 03, 2009

Marca-páginas


Passando só para avisar que as abas ali acima foram atualizadas, caso queiram ler mais coisas minhas além do Sofá. Há contribuições no blog de cartas, há postagens no Wordpress das amazonas e no de traduções, diversas coisas no fórum de helenismo, artigos no site Tribos, além de Twitter (microblog), Multiply (restrito para a rede) e LiveJournal (em inglês).

outubro 29, 2009

Sobre Penthos (Luto)

"As canções são apenas palavras. Aqueles que estão amargurados as cantam.
Eles as cantam para se livrar de sua amargura, mas a amargura não vai embora."
[1][2]


Nas listas de Helenismo, quando falávamos sobre termos épicos em Homero, me deparei com o conceito de "penthos / πένθος" (luto, pesar, sofrimento, tristeza, lamentação). Como perdi uma pessoa querida em junho, pensei que escrever sobre isso poderia me ajudar a lidar com essa morte e superar a dor de sua ausência. E disso resultou este texto.

Primeiro descobri que, como para a maioria das coisas, para esta também há um "daimon" (espírito). Penthos[3] é filho do Éter e Gaia, figurava entre as Algea (Tristezas), que eram 'daimones' de dor e sofrimento - tanto do corpo quanto da alma, de luto, tristeza e aflição. Eles traziam lágrimas e eram opostos ao Hedone (Prazer) e às Cárites (Graças). O escritor Statius (em 'Thebaid' e 'Silvae') menciona Penthos como um espírito que fica entre os que sofrem luto, incitando seus corações, arfando seus peitos e fazendo-os soluçar.

"Penthus é a personificação do pesar. Quando Zeus decidiu quem seria ser o deus do quê, Penthus não compareceu. Não sobrou nada para ele além das honras prestadas aos mortos, o luto e o choro. Penthus favorece aqueles que pranteiam seus mortos, e por eles serem tão bons em seus prantos ele os envia o maior pesar que pode. Então a melhor forma de evitar a dor é manter a quantidade de aflição a um mínimo." (Ryan Tuccinardi)[4]

Nos antigos epitáfios, como o de Epinike e de Philokydis, mencionava-se muito o fato do pesar/dor/tristeza/luto que a pessoa morta deixava aos sobreviventes.[5]

Nós comentamos, então, que respeitar a passagem do ser amado, tanto no sentido da memória da pessoa que vai quanto da tristeza das pessoas que ficam. Os cristãos dizem que as pessoas que morrem estão felizes no céu com Jesus e os anjos, e que contraditoriamente deveríamos ficar felizes por elas, mas ficamos tristes e pensamos que estamos errados e não entendemos isso e sentirmos culpa. Não faz sentido, faz? Você se debater contra o que você sente, achando que deveria estar sentindo outra coisa, é no mínimo uma falta de respeito à nossa natureza. Quando alguém morre, todas as várias coisas que sentimos poderia se resumir a Penthos. Independente de para onde as pessoas amadas foram depois de mortas, nós estamos tristes sim por eles terem partido, por não estarem mais conosco, por sentirmos saudades deles, por não podermos vê-los cumprir todas as esperanças e sonhos que eles tinham para esta vida. E tudo bem sentirmo-nos assim, faz parte. É esperado que fiquemos mal, tristes, irritados, revoltados, o que for. Somos humanos!

É exatamente nesses tempos de crise que você passa a perceber mais forte a utilidade das suas crenças. São os deuses e daimones que nos ajudam a superar. Eles podem não estar me abraçando, me dando colo, mas estão ali, e a presença deles comigo, o fato de se mostrarem disponíveis e atentos, é tudo, é maravilhoso, me deixa melhor. Tem coisas que a gente não precisa concluir que teve uma razão para acontecer, ainda mais morte (que é tão difícil achar um motivo, a gente sempre acha que não era necessário tirarem alguém de nós tão radicalmente). Elas simplesmente acontecem e pronto. Talvez até tenham uma razão que desconhecemos. Não dá para culpar ninguém, nem para se apegar a algum plano misterioso acontecendo, até porque a gente pode nunca descobrir que razões foram essas. A solução é lidar com a perda, lembrando que o destino e o tempo nem sempre nos favorecem, e seguir adiante com a vida.

Os gregos, que eram tão amantes da razão, provavelmente diriam que o certo é seguir adiante de uma forma sincera, e não fantasiando justificativas e pintando nuvens de algodão-doce sobre os fatos. Você está despedaçado por dentro, então sinta isso, os deuses esperam que você sinta mesmo, até o negócio esgotar e você ser transformado. A dor é transmutada. Como qualquer massa fermentada, ela não vai crescer e virar bolo se não for lançada no fogo. É necessário. Sei que é extremamente difícil de aceitar, mas não temos superpoderes, então a nossa limitação humana só nos permite isso, e é isso que temos que fazer. Devemos deixar Penthos nos incitar o coração e nos arfar o peito se preciso.

Uma outra coisa que percebemos ao procurar por Penthos em textos épicos é que ele seria muito mais um pesar público, coletivo, oposto ao Kleos (que seria o privado, particular).[6]

No quarto livro da Odisséia de Homero, aparece a palavra "Nepenthe" como aquele que afugenta a tristeza ('ne' como partícula de negação para 'penthos'). A "Nepenthes pharmakon" (filtro que afugenta a tristeza) era uma poção mágica dada para Helena por uma rainha egípcia. Essa poção acalmava todas as dores com o esquecimento.[7] Os estudiosos acreditam que se trata de um preparado de ópio, similar ao láudano. Outros dizem que seria um elixir egípcio feito de losna (tipo o absinto). Mas os efeitos "positivos" descritos do Nepenthe são bem similares aos efeitos dos opiáceos/narcóticos: um estado lânguido e prazeroso da mente, com intensa sensibilidade à beleza.

Píndaro tem um trecho que diz "Aqueles os quais da parte de Perséfone irão receber compensação por um 'penthos'/pesar de longa duração, a alma desses ela envia de volta para cima, no nono ano, para a luz do sol, e dessas almas crescerão reis ilustres, vigorosos em força e muito grandes em sabedoria. E para o resto dos tempos eles deverão ser chamados de heróis sagrados."[8]

Se o oposto de Penthos faz aumentar nossa sensibilidade à beleza, ler versos como esses de Píndaro me faz ver como é lindo e reconfortante fazer parte do mundo helênico...

Alexandra, 29/10/2009.


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Notas:
1. (Todas as traduções citadas no texto são minhas, do inglês.)
2. 'The death rituals of rural Greece', Por Loring M. Danforth, Alexander Tsiaras.
3. Penthos, no theoi.com.
4. Penthus, no pantheon.org.
5. Hansen, P.A. (ed.). Carmina Epigraphica Graeca. Berlin & New York 1983-1989, visto em "Reading" Greek death: to the end of the classical period, por Christiane Sourvinou-Inwood.
6. The Best of the Achaeans, Concepts of the Hero in Archaic Greek Poetry - Gregory Nagy (cap.6).
7. Sobre Nephente como oposto de Penthos.
8. The Best of the Achaeans, Concepts of the Hero in Archaic Greek Poetry - Gregory Nagy (cap.9).

outubro 28, 2009

Sonhar funciona



[ 'The Sleeping Gypsy', Henri Rousseau, 1897, óleo sobre tela ]

"...Os ciganos normalmente não se preocupam se a ajuda de seus ancestrais vem de seres espirituais reais ou na verdade de forças criativas do nosso próprio subconsciente. De acordo com os ciganos da Ucrânia, do Cáucaso e da Romênia, não é possível explicar essas coisas. A única coisa importante é que funciona. No mundo de hoje, o poder dos sonhos e da arte de interpretação dos sonhos estão provando ser cada vez mais úteis para a psicologia moderna. Para muitos que praticam essa habilidade, tem sido amplamente provado que no nosso relacionamento intensivo com nosso próprio mundo dos sonhos há poderosas forças espirituais curativas."
(traduzi do livro 'The Gypsy Dreambook', de Sergius Golowin)

outubro 24, 2009

Que Rainha Mítica É Você? (quiz - em inglês)


Você é a Rainha Clitemnestra. Independente? Pode apostar que sim! Ela não iria ficar esperando pelo marido assassino-de-filha voltar de Tróia. Havia uma maldição na casa de Agamenon. Mas, mais do que isso, ela era uma rainha muito tradicional que existiu como resultado de um trelelê da mãe dela com Zeus.
Ver todos os resultados possíveis! | Fazer o teste! | Ler mais sobre Clitemnestra
por:
Paleothea.com - the Ancient Goddess

outubro 19, 2009

"Dia de Amar Seu Corpo" (sempre)

Se a campanha de blogagem coletiva pede para falar de beleza, vamos ao conceito dela naquilo que conheço de melhor: a cultura helênica. ;D Baseei-me na tradução que postei AQUI, mas fiz diferente e a trouxe para a nossa realidade. Des-frutem*!

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A beleza para os gregos tinha a ver com ordem, organização, estabilidade, daí a palavra para universo ("cosmos") ser a mesma que dá origem à ornamentação ("cosmético"). Tudo no universo era belo, por provir do divino; seja a beleza da natureza seja a do corpo humano. Era um mundo que Tales de Mileto descrevia como "cheio de deuses".

Quando o ser humano se afasta do divino, sofre, vive em um deserto vazio e solitário, um lugar... feio. As mulheres desse mundo materialista são vistas como objetos, classificadas como *frutas (vide mulher-melancia e suas sucessoras), e não mais como parte da beleza da criação. As pessoas começam a ser cotadas de acordo com sua fama e seu dinheiro, em vez de serem admiradas pelo que podem refletir do sagrado que lhes habita o coração. Não se valoriza mais a mente sagaz, a preocupação ambiental, a vontade de ser útil e prestativo, o relacionamento solidário com os outros seres humanos.

A beleza no helenismo corresponde à VERDADE, à refletir as coisas como elas realmente são, a uma autenticidade no que se mostra (e não com retoques de Photoshop, que nem existia), no relacionamento transparente que se apresenta com o que nos cerca. A beleza que não é superficial, que é acompanhada do trabalho sagrado (sacro-ofício, sacrifício) do mundano em prol do divino, essa sim é capaz de transformar a pessoa inteira (e não sua imagem ou fotografia), a qual passa a olhar para dentro, e refletir a beleza que ali encontra. Uma beleza representada a partir do olhar que se modifica - e "os olhos são espelho da alma e janela para o mundo". Quando conseguimos refletir esse belo, atraímo-los também, e passamos a encher de beleza tudo à nossa volta, todas as coisas tristes e sem sentido de antes passam a retribuir o 'olhar amoroso' que lhes damos.

É bem verdade que havia um cultivo do corpo, jogos olímpicos, atletas, espartanos e tudo o que já conhecemos da Grécia Antiga. Mas era também bem claro para eles que nada disso bastava se o interior fosse deixado de lado, se não se treinasse a mente e o espírito através da poesia, da música, da filosofia, da retórica etc. "Isso seria como oferecer a alguém um cálice dourado esculpido de ornamentos, mas cheio de água salobre e lama", disse uma vez Sannion, helenista dos EUA. Para os gregos, a harmonia, a justa medida (métron), tal como o 'caminho do meio' que ensinam os budistas, era fundamental. "Nada em excesso", dizia o oráculo de Delfos. Nem para mais nem para menos.

É essa harmonia que reflete o cosmo, a ordem natural. Sair dessa ordem, descontrolar seus desejos, pensar só em si, ser avarento e irritado, tudo isso eram coisas que pertubavam o espírito e desfiguravam o corpo. A arte mostrava isso, pois vemos que as figuras atormentadas eram retratadas como horrendas, ao lado de tantas estátuas gregas lindíssimas e de expressão serena, de bem com seu interior. Era uma espécie de elegância que tornava tudo bonito. O 'feio' era estar em agonia e em desesperança.

A beleza na religião helênica é um dos princípios mais essenciais, é uma CRENÇA ("acredite na beleza", como bem colocou a empresa moderna), é um RESPEITO ("ame o seu corpo", como diz esta campanha), é algo que torna a vida digna. Lembrando outra campanha, "imagem não é nada" quando há "sede" de deuses e de um sentido maior para a nossa existência.

Portanto, divulgue todos os dias, a começar por hoje mesmo, esse novo olhar que encontra o belo no exterior de si porque está cheio dele por dentro. Lembre-se que em várias mitologias a mesma deidade que representa o amor carrega a representação da beleza, e passe a amar-se e a amar o mundo e todas as suas criaturas. Com certeza o COSMO ficará mais belo assim.
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Veja mais em:

Dia de Amar Seu Corpo

e em:

Love Your Body Day

outubro 15, 2009

O "mensageiro portador do bem"

O Agathos Daimon ("Bom Espírito") para os helênicos é um pouco semelhante ao anjo-da-guarda judaico-cristão ou o Iwa dos vodunistas ou o Genius romano ou o Dola eslávico ou o Fylgja nórdico ou o Serapis (Cnum-Agathodaemon-Aion) egípcio ou mesmo o familiar-guardião xamânico. Ele é ligado a nós no nascimento (ele é nosso e nós somos dele) e continua conosco pela vida, protegendo, guiando, dando saúde, sabedoria, abundância, e influenciando na nossa sorte. Por conta disso, às vezes era representado como o par masculino da deusa Tyche (Fortuna), segurando uma cornucópia e uma tigela em uma mão, enquanto na outra segurava uma papoula e uma espiga. Mas, antes disso, o Agathos Daimon era considerado andrógino, e provavelmente por isso era também representado como uma serpente (que antigamente acreditava-se não ter gênero/sexo), razão pela qual se fazia libações na terra (e com vinho não-misturado) para ele. Tanto a forma de serpente quanto a com cornucópia lembram os Penantes (guardiões caseiros da prosperidade) dos romanos. Era necessário agradá-lo para que ele respondesse bem e nos desse boa sorte e proteção.

Sócrates comentou que o dele dizia quando ele deveria parar de falar ou ficar quieto. Aristófanes o cita na peça 'A Paz': "Eis o momento de verter uma taça em honra do Agathos Daimon". Píndaro, Próclus e Plotino também o mencionavam. Platão o chamava de "intérprete" e de "balseiro", pois o Agathos Daimon intermedia nossa relação com os deuses. Aliás, se você precisa de orientação, é mais conveniente voltar-se primeiro para ele antes de dirigir-se a algum deus. Ele costuma ser um ótimo professor. E, se receber um belo golpe de sorte, agradeça primeiro a ele também. Como hoje não temos mais casas com chão de terra, em um lugar fechado nós podemos verter libação em um pratinho e, de vez em quando, verter esse conteúdo em algum outro lugar depois.

Algumas pessoas imaginam que talvez ele possa até desenvolver uma relação romântica com seu protegido, a exemplo da que as ninfas desenvolviam com seus ninfoleptos. Mas na maioria das vezes ele é mais como aquele amigo invisível que responde seus pensamentos e te dá a mão para atravessar em segurança e lança um sopro de sorte quando você precisa. Para honrá-lo, vertemos libação nas refeições e nos lembramos dele no segundo dia de cada mês helênico. Ele pode ser não só um mensageiro aos deuses, mas também o espírito que enviamos para ajudar aqueles nossos amigos que estão fisicamente longe de nós. O daimon é capaz inclusive de influenciar sonhos e adivinhações. Ele protege nosso bem-estar, nossos pertences, qualquer lugar onde nosso coração esteja. Qualquer lugar ao qual chamamos de lar. (Até quando o nosso lar é uma pessoa.)


Na minha experiência com essa presença invisível constante, eu o percebo como alguém que rapidamente me responde e ao mesmo tempo faz isso com toda a paciência (e nenhuma arrogância) de um verdadeiro mestre orientador. Sabe aquela pessoa que tem as respostas às suas perguntas, muitas vezes antes mesmo de você formulá-las? Alguém que sabe do que você precisa sem que você chegue a pedir? Que olha por você e lhe protege das coisas e pessoas que lhe tentem fazer mal? E que, ao mesmo tempo, é seu companheiro na bebida e nos festivais, com quem você se diverte junto? Com ele do seu lado, o "tempo" nunca fecha e há um calorzinho gostoso da presença dele ali. E, de vez em quando, esse amigo lhe dá um presente (de sorte) só porque "se lembrou" de você (não que ele alguma vez tivesse esquecido, mas agradar sempre também não surte o efeito da surpresa, não é?). Seja ou não um "melhor amigo com benefícios" românticos, nenhum momento com ele fica abaixo de expectativas, porque - mesmo quando sai diferente do que você pensava que seria - ainda assim é tudo de bom, quando não melhor.

A maioria de nós se foca nos deuses e se esquece de cultuar seu 'agathodaemon', perdendo toda a parte gostosa de um relacionamento desses. Mas nunca é tarde para começar a reparar isso, ou pelo menos para passar a chamar do nome certo aquela voz que nós já tão bem conhecemos...


setembro 15, 2009

A dança como ritual (1º texto)

Traduzido por mim daqui: Greek Dancing Through the Centuries - History and Evolution.

Antiguidade / Origem da Dança

Os gregos antigos acreditavam que dançar foi inventado pelos deuses e, portanto, associaram isso com suas cerimônias religiosas e de culto. Eles acreditavam que os deuses ofereciam esse presente a alguns seletos mortais, que em troca ensinavam a dança a seus companheiros.

A mitologia grega atribui a origem da dança a Reia, que ensinou sua arte aos Curetes em Creta. Cronos destronou seu pai Urano. Uma vez que ele tinha medo de que pudesse ser destronado por seus próprios filhos, ele os comia assim que nasciam. Sua esposa Reia, porém, enganou Cronos quando sua última criança, Zeus, nasceu. Ela escondeu Zeus em uma caverna escura em Creta e, em vez de entregá-lo, deu uma pedra enrolada em faixas de pano para Cronos comer. Ela também pediu aos Curetes, que eram semideuses armados, para dançar uma dança de guerra em torno da caverna, gritando e batendo nos escudos com as espadas, para que Cronos não escutasse o bebê Zeus chorar. Quando mais tarde Zeus destronou seu pai, os Curetes se tornaram os sacerdotes no novo mundo. Seus descendentes continuaram suas danças de guerra como parte de suas cerimônias religiosas.

As fontes gregas mais antigas vêm de Creta, onde a civilização minóica floresceu em torno de 3000 a 1400 AEC. Os habitantes de Creta cultivaram a música, o canto e a dança como parte de sua vida religiosa e para seu próprio entretenimento também. Em algum momento durante o século V AEC, Creta foi tomada por invasores da Grécia continental e, por fim, foi controlada por Micenas.

Muitas descobertas arqueológicas mostram que a rica tradição cretense de dança indubitavelmente influenciou os micenos, que passaram adiante aquelas danças, junto com outros elementos de sua vida cultura e tradicional, para a Grécia continental.

As danças cretenses eram executadas em círculos abertos ou fechados. Os cretenses normalmente dançavam em torno de uma árvore, um altar, ou objetos místicos a fim de libertá-los do mal. Mais tarde, eles usaram a dança em torno de um cantor ou musicista. Esculturas cretenses ilustravam danças em um círculo em torno do tocador de lira, danças em casal conectadas com os cultos, e a dança um tanto de balanço, executada por grandes coros de mulheres em frente de todas as pessoas. Esculturas similares foram encontradas na Grécia continental e em Chipre, e eram datadas de em torno de 1400 a 1050 AEC.

O Papel da Dança na Grécia Antiga

Frases aqui e ali em textos antigos mostram que a dança era tomada em alta consideração, em particular por suas qualidades educacionais. A dança, junto com a escrita, a música e o exercício físico, era a base para o sistema educacional e muitos autores exaltam suas virtudes como meio de cultivar tanto o corpo quanto a alma.

De acordo com Ateneu, na Arcádia, os gastos com o ensino de dança aos rapazes estavam incluídos no orçamento cívico. Os pupilos representavam uma performance anual de suas habilidades alcançadas, a qual todos os cidadãos compareciam. Luciano nos conta que os tessálios tinham tanta consideração pela arte da dança que concediam a seus eminentes cidadãos o título de “protorchesteres” (dançarinos-líderes). Em Esparta, o exercício físico era equivalente a uma doutrina política. Os espartanos dançavam principalmente danças marciais e treinavam/exercitavam-se ao ritmo das marchas. Às garotas ensinavam-se experiências de dança similares que eram executadas em público. Os espartanos não apenas dançavam antes das batalhas, mas também lutavam com movimentos rítmicos à melodia das flautas. A todos os cidadãos atenienses ensinava-se a arte da dança, e os jovens das famílias mais ricas tinham tutoria particular em dança, música e poesia, de renomados instrutores.

O famoso general Epaminondas recebeu lições assim em Tebas e era um talentoso flautista, tocador de lira e, como o poeta trágico Sófocles, um cantor e dançarino realizado. No “Simpósio”, Sócrates não apenas declara seu amor à dança como seu desejo de aperfeiçoar sua habilidade também. Os primeiros poetas também eram conhecidos como “orchestres”, uma vez que eles não apenas treinavam o coro nas peças como também davam lições particulares de dança. Tanto em “Leis” quando em “Estado”, Platão eloquentemente expressa sua crença nas virtudes da dança. Para ele, um homem que não pode dançar é um homem sem educação e sem refinamento, enquanto um dançarino realizado é o epítome (exemplo ideal) de um homem de cultura. Na sua exposição detalhada da educação dos jovens, a música, o exercício físico e a dança têm lugar de destaque. Ele advoga que as garotas deveriam aprender os mesmos movimentos de dança que os garotos, salientando que elas deveriam ter uma professora (mulher) e que sua instrução não fosse temperada com a severidade espartana.

Características Gerais das Antigas Danças Gregas

A característica diferencial dos gregos tem sido mais completamente expressa na dança coral. O renomado pesquisador Curt Sachs nota que nas antigas esculturas gregas o observador admira o ritmo jovial que une - em uma harmonia mais do que pessoal - movimentos que se erguem de uma compulsão interior e em acordo com a lei do próprio corpo do dançarino. As danças gregas negligenciam a pélvis e elevam a beleza e a plasticidade do corpo humano. Por outro lado, danças de pessoas com baixo nível cultural são caracterizadas por elementos sexuais e movimentos da pélvis.

A formação dominante de todas as danças gregas antigas pareciam ser a do círculo, aberto ou fechado ou espiralando. Apenas Ateneu se refere a danças em linha reta, assim como as “quadrilhas” das quais ele não fala muito. Via de regra, homens e mulheres dançavam separadamente, raramente juntos. No teatro, os membros do coro e os atores principais eram todos homens. As mulheres dançavam danças femininas juntas, e danças dionisíacas durante os festivais orgiásticos de Baco. Os dançarinos eram em sua maioria amadores, exceto por aqueles envolvidos com o entretenimento nos jantares de simpósios, que eram considerados como de baixo status social.

Desde o período minóico, o acompanhamento musical da dança desempenha um papel muito importante no ato de dançar. Na verdade, havia uma palavra única para representar canção, dança e música instrumental; a evidência sugere que eles nunca entoavam um canto sem movimentar seus corpos.

Instrumentos conhecidos dos tempos antigos eram pedaços de Madeira, címbalos (pratos) de metal, sinos e instrumentos em forma de concha, que eram usados para manter o ritmo da dança. Eles também usavam sistros (uma espécie de chocalho) e tímpanos.

Minóicos usavam instrumentos de corda, tais como cítara e lira, e instrumentos de sopro como o aulos e a flauta de Pã.

Tipos de Danças

As danças dos tempos antigos são caracterizadas como danças de guerra ou danças de paz. As últimas são divididas em danças de teatro, religiosas e de culto, danças marciais, danças de simpósio, danças matutinas etc. Cada tipo de apresentação – tragédia, comédia e peça satírica – tinha suas danças características, algumas sérias e solenes, algumas apresentando mímicas lascivas com adereços fálicos. As danças citadas nos antigos textos são as seguintes:

• Pírrica : a mais conhecida entre as danças marciais, parte da educação militar básica tanto de Atenas quanto de Esparta.

• Gimnopédia : a dança principal do povo da Lacônia, executada anualmente na ágora de Esparta. Deve ter sido como a ginástica de hoje em dia.

• Geranos (Dança das Gruas) : dançada em Delos. De acordo com Plutarco, Teseu depois de ter matado o Minotauro no Labirinto de Cnosso, na volta para Atenas, parou em Delos. Ali, ele ofereceu um sacrifício à deusa Afrodite e dançou em torno do altar. Essa dança incluía movimentos serpentinos, imitando os movimentos de Teseu dentro do labirinto.

• “Ierakio” : dança feminina, dançada nos festivais em honra da deusa Hera.

• “Epilinios” : dança dionisíaca, dançada no topo dos tonéis enquanto se pisavam as uvas.

• Emélia : a dança da tragédia, realçando os eventos representados no palco. “Kordax”, a dança da comédia, era mal vista, e em geral considerada como indigna de homens sérios. “Sikkinis”, a dança do drama satírico, imitava os movimentos de gatos e era dançada pelos sátiros.

• Himeneu : a dança do casamento. Era dançada pela noiva com sua mãe e amigos. Era rápida e com várias torções e viradas.

• “Hormos” : de acordo com Luciano, uma dança comum dos rapazes e moças que dançavam um com o outro formando uma corrente. O líder era um rapaz que mostrava suas habilidades de dança e marciais através de seus movimentos. Uma moça o seguia, dando um exemplo de solenidade e decência para todas as outras mulheres dançarinas.

• “Iporchima” : uma combinação de dança e pantomínia (gestos), canto e música. Ela vem de Creta, e era dançada por meninos e meninas juntos, cantando poemas de coro.

Fontes para o Estudo da Dança

Nossas informações sobre a dança na Grécia Antiga são suficientes para nos capacitor a apreciar seu papel na sociedade, mas inadequadas para nos prover com uma idéia de como as danças eram realmente dançadas. Em vez de descrições precisas, temos as escritas analíticas de filósofos como Platão (427-347 AEC) e Aristóteles (384-322 AEC), que deixaram uma literatura elaborada de teoria e crítica de dança. Na verdade, os antigos gregos eram pioneiros na abordagem lógica da dança, classificando seus elementos e, com seu racionalismo único, organizando seus componentes dentro de um sistema unificado.

Vários textos existiam descrevendo danças, classificando-as de acordo com o tipo e explicando suas procedências/origens, mas muito poucos sobreviveram e mesmo estes já eram apenas do final da antiguidade. Eles incluem “O Banquete dos Sete Sábios” de Plutarco (90 EC), “Sobre a Dança” de Luciano (160 EC), “Deipnosophistae” de Ateneu (215 EC) e a “Dionisíaca” de Nonnos (500 EC). Frases e nomes relacionados com a dança, assim como referências a ocasiões de dança ocorreram também esporadicamente nos trabalhos de Homero, Xenofonte, Aristófanes e poetas trágicos. Eis um excerto da Ilíada, onde Homero descreve a representação figurada no escudo de Aquiles. Era uma referência à dança mítica do labirinto, a qual Teseu fez em seu caminho voltando de Creta:

Aqui os rapazes e as mais desejadas garotas
estavam dançando, ligados, tocando o pulso um do outro,
as meninas em trajes suaves de linho…
Treinados e competentes, eles circulavam ali com facilidade
o caminho que um ceramista sentado em seu torno
dará a isso um giro prático entre suas palmas
para vê-lo corer; ou mais, ainda, em linhas
como se fossem fileiras, eles se moviam em outro:
mágico.

Os vários fatos recolhidos dos textos são suplementados por pouca informação sobre a música e a métrica dos antigos gregos, através de representações de dançarinos em vasos e relevos, por estudos comparativos da dança em outras sociedades. Pinturas e desenhos em cerâmica, murais etc têm sido preservados e revelam informação sobre o estilo e as formações de dança. Eles também provêm informação nos costumes da dança, joalheria, e objetos que eram segurados durante a dança.

Por exemplo, há representações de homens e mulheres dançando com objetos em forma semelhante a colheres. Esses objetos e a forma dos dançarinos segurarem-nos lembram muito a dança de colheres que as pessoas da área da Capadócia (Ásia Menor) ainda fazem até hoje.

Uma fonte básica de informação dos ritmos de dança vem da métrica da poesia grega antiga. Nas linguagens antigas, tais como grego, latim e sânscrito, a métrica musical é baseada na métrica poética, determinada por sílabas longas e curtas. Portanto, ao reconhecer esses ritmos, podemos ter uma idéia sobre os ritmos de suas danças.
~~~

Sobre a música e os instrumentos utilizados pelos antigos gregos, veja o pdf (em inglês) "Music of Ancient Greece", clicando AQUI.

setembro 13, 2009

Blog Ecológico de uma Mulher Bem-resolvida, rsrs

Mais dois selos vindo da Lu, desta vez do Germinando:

"Germinando é um blog que como base é movido pelo apreço a atitudes,
ações ecologicamente corretas. Este selo trasmite esse conceito."

e

Selo do blog Chá das 5 à meia noite, da Lívia.


Gracias a mi hermana Lu!

setembro 08, 2009

Deméter, Dionísio, Perséfone

"Mas aquele que não for iniciado nos ritos, aquele que não tomar parte neles,
nunca terá uma fração desse tipo de coisas" [que o iniciado tem].
(Hino Homérico II, a Demeter, l.481)


Estamos em dias de Mistérios Maiores de Elêusis. Mistério e místico provavelmente vem da palavra myein (iniciar). Uma iniciação é um mistério no qual você entra de olhos fechados (por não saber o que ali vai acontecer) e sai de boca fechada (por não poder contar o que presenciou).

Apesar de nesse festival da Grécia Antiga a participação não ser exclusiva - você poderia ser homem, mulher, livre, escravo, grego, 'bárbaro' - e de haver liberdade de culto - você podia ser devoto de deuses estrangeiros que isso não era considerado heresia -, o fato de só quem passasse pelos Mistérios Menores pudessem virar mystai (iniciado) nos Maiores fazia com que seus membros se sentissem como uma espécie de elite espiritual. Diferentes classes sociais e culturas se igualavam nesse sentido, o que é muito semelhante a outras escolas de mistério e sociedades secretas das quais ouvimos falar.

Mas mistério é diferente de segredo, segredo é apenas algo que não se conta (ou deixa-se de ser segredo), enquanto que o mistério é preciso de experiência direta para conhecê-lo. Mesmo que você conviva com ele, não seria capaz de compreender se não o experimentasse.

Uma das poucas coisas que sabemos dos mistérios eleusinos é que eles tinham algo a ver com morte e ressurreição. Provavelmente o morrer para a vida material e renascer para a espiritual. Havia um momento em que se celebrava a continuidade da vida após a morte com os gritos de Ye (chuva) e Kye (nascimento), ou seja, "flua e conceba", "chove e traz frutos", a chuva fertilizando a terra, algo que morre para outro algo nascer (a nuvem se desfazendo e a semente brotando, ou a semente morrendo para a planta nascer).

Além de ser um festival para as Duas Deusas (Deméter e Perséfone), temos a participação de Dionísio - como não deixaria de ser, já que ele é bem a imagem de um deus do renascimento. E aí me vêm à cabeça algumas coisas que andei lendo sobre Ele. Nonnus menciona da relação de Dionísio com a lua, Selene, de como ela é capaz de deixar as pessoas enlouquecidas ("lunáticas") como fez com Pentheus (inimigo do deus), de uma forma que lembra o arrebatamento, o entusiasmo das mênades. Diz-se também que Selene tinha uma carruagem puxada por touros brancos, animal comumente relacionado a Dionísio. As manchas da lua, inclusive, poderiam ser cicatrizes em sua diadema, resultantes da sua batalha contra o gigante Tifeus.

Em tempo, entusiasmo vem do grego (pra variar, rsrsrs) enthusiasmós: en (em, dentro) thu (de theos = Deus) e mos (que indica substantivo), ou seja, o ato de ter um deus dentro de si, de ser tomada por um deus. Esse é outro mistério que só experimentando para entender. E, por isso, por não ter como exemplificar a sensação que é, não me resta mais nada a dizer aqui. Talvez só esperar que você já tenha se 'entusiasmado' para saber o que é, e celebrar "Dio" e as Duas "Deas" comigo...

"Então tu, dançante Baco, estenda teu tirso e olha para a tua descendência; e não precisarás temer uma raça de homens insignificantes, cuja mente é leve, cujas ameças os chicotes das Erínias repreendem forçosamente. Contigo atacarei teus inimigos. Igualmente com Baco eu governo a perturbada loucura. Eu sou a Mene de Baco, não apenas porque no céu eu viro os meses, mas porque eu comando a loucura e formo os lunáticos. Nunca deixarei impune a violência terrena contra ti." (Nonnus, "Dionysiaca" 44, traduzido do inglês por mim)

setembro 05, 2009

Blog Mágico

A Lu do Crianças Pagãs presenteou o Sofá com este selo fofo:


E eis aqui minhas respostas ao meme que vem junto dele:

Música mágica: todas do Daemonia Nymphe
Filme mágico: Da Magia à Sedução
Viagem mágica: Grécia
Arte mágica: dreamsofgaia.com

Minhas indicações do selo+meme vão para:
Agradeço a Lu e espero que os indicados propaguem o selo em prol da união dos mágicos blogueiros. ;))

agosto 23, 2009

O samba de Atalanta

Diz a mitologia que o pai de Atalanta, rei da Arcádia, sempre desejou um filho homem. Porém, veio a linda caçadora Atalanta, que queria ser livre e aventureira e jovem para sempre; mas seu pai insistia que ela se casasse. Ela então disse que só aceitaria se casar com quem a derrotasse em uma corrida, sabendo que não existia nenhum homem mortal que fosse tão rápido quanto ela. Afrodite então ajuda Hipomenes a fazer isso, lhe dando três pomos de ouro. Ele joga a primeira maçã, Atalanta pára de correr para pegar e percebe-se envelhecida no reflexo. Quando ele joga a segunda maçã, ela vê a imagem de um ex-namorado. E, na terceira maçã, ela vê uma criança.

Uma Atalanta moderna é aquela mulher que não faz questão de desenvolver a vida pessoal, mas que cede à pressão social, com a condição de que o homem seja mais forte do que ela. E entra numa relação de competição com ele. Ela se preocupa muito em fazer algo útil, quando não faz se sente culpada. O que ela precisa perceber é que a vida passa rápido, que ela deve aproveitá-la, ser mais criança, relaxar, em vez de estar sempre competindo. Em vez de fazer o que 'deve', precisa descobrir o que 'quer' fazer, e realizar isso.

No tarô mitológico, Atalanta é a Rainha de Espadas. Ela é a diplomática, a união bem temperada da perspicácia feminina com o poder decisório masculino. Uma rainha que é afastada do seu reino (o reino feminino) por algum tipo de trauma com relação ao masculino (como o pai que a rejeitava por não corresponder ao desejo que ele tinha de um filho). Trata-se de uma rainha solitária, cheia de exigências para deixar que se aproximem dela, mas não percebe que já está envelhecendo.

Há uma música do Candeia, cantada pela Teresa Cristina e Grupo Semente, chamada "Paz no Coração", cuja letra me lembra muito essa figura mitológica/arquetípica:

"Eu não troco, não vendo, não empresto nem dou
A paz no coração pelas juras de amor

Quem quiser meu carinho
Terá que provar, amor, provar
Em aventura, benzinho
Eu não vou me arriscar

Só atraco meu barco em porto seguro
Em canoa furada não vou no escuro

Aos meus dezoito anos
Vivi trinta e seis
Chorei, chorei
No oceano da vida quase naufraguei

Eu não troco, não vendo, não empresto nem dou
A paz no coração pelas juras de amor."


julho 07, 2009

Deuses estrangeiros

A prática de incluir deuses estrangeiros na estrutura do politeísmo helênico era autêntica. Há vários casos na Grécia Antiga nos quais a deidade de outra cultura foi trazida para dentro da religião grega e fazia parte dela. Cibele, que era originalmente da Ásia Menor, adquiriu significativos seguidores na Grécia. No período helenístico, muitos deuses do Egito encontraram seguidores gregos, especialmente Ísis, que foi cultuada por várias pessoas por todo o império romano. Isso não significa um endosso ao tipo de ecletismo às vezes visto na comunidade neo-pagã, tipo misturando e comparando panteões e tradições para se encaixar nos caprichos de alguém. Mas há formas apropriadas de incluir um ou dois deuses de outros panteões na prática politeísta helênica sem comprometer sua integridade. A chave é realmente aprender sobre o sistema do qual a nova deidade vem, e como esse/a deus/a pode se encaixar no sistema helênico.
(Fonte: Sarah Winter, no livro "Kharis", traduzido por mim.)

junho 27, 2009

Kronos was a headbanger

Uma vez escrevi aqui sobre o festival da Galaxia, citando como os Curetes inventaram a dança em armadura, com ritmo frígio e flautas; um barulho que distraía Cronos enquanto eles mantinham Zeus escondido. Nesse dia, a Iony me perguntou como seria o ritmo frígio e eu lhe expliquei. Mas desde lá fiquei pensando que outros podem ter a mesma dúvida e que poderia aproveitar para citar os modos gregos, dando exemplos de músicas atuais. Então, como só agora parei para organizar isso, vamos lá:

~ Exemplos de músicas com os modos gregos e quando utilizá-los ~

Modo Frígio: 'Wherever I May Roam' e a transição de 'Creeping Death' (Metallica), 'Trust' e 'Symphony of Destruction' (Megadeth), 'Hunter' (Björk), 'Remember Tomorrow' (Iron Maiden), 'Sullen Girl' (Fiona Apple), 'Phrygian Gates' (John Adams), 'Would?' (Alice in Chains), 'Calling to You' (Robert Plant), 'For the Love of God' (Steve Vai), 'Deeper Underground' (Jamiroquai), 'Not to Touch the Earth' (The Doors), 'Once' (Pearl Jam), 'In the Name of God' (Dream Theater), 'If U Seek Amy' (Britney Spears). --> Principalmente nos festivais e cultos ligados a Cibele/Réia. Tenho a impressão de que os cultos a Hermes poderiam ser colocados aqui também.

Modo Dórico: início de 'Wave' (Tom Jobim), 'Eleanor Rigby' (Beatles), 'Milestones' e 'So What' (Miles Davis), 'The End' (The Doors), 'Smoke on the water' (Deep Purple). --> Nos festivais pan-helênicos, como os jogos ístmicos em Corinto, os jogos de Neméia na Argólia, os jogos pítios em Delfos e nos Jogos Olímpicos. Também no culto a Deméter.

Modo Lídio: 'Answers' e 'The Riddle' (Steve Vai), início de 'Overture 1928' (Dream Theater), 'Freewill' (Rush), estrofes de 'Man on the Moon' (R.E.M.), 'Blue Jay Way' (The Beatles, mais especificamente como George Harrison tocou na Magical Mistery Tour), introdução de guitarra no 'Dancing Days' (Led Zeppelin), 'Flying in a Blue Dream' (Joe Satriani), 'Beyond the Boundaries' (Jimmy Cliff), 'Unravel' (Björk), 'Follow my way' (Chris Cornell), 'Arcane Lifeforce Mysteria' (Dimmu Borgir), 'Little Red Corvette' (Prince), 'Every Little Thing She Does is Magic' (The Police), 'All I Need' (Radiohead), maioria dos solos de guitarra das músicas mais recentes de Frank Zappa, tema dos Jetsons, início do tema dos Simpsons. --> Cultos a Baco/Dionísio, a Héracles, a Afrodite, a Ártemis, e os festivais de Tebas.

Modo Mixolídio: blues de tom maior, como 'Scuttle Buttin' e 'Pride and Joy' (Steve Ray Vaughan), 'Norwegian Wood' (Beatles), 'The Visitors' (ABBA), 'Satisfaction' (The Rolling Stones), 'Drinking in L.A.' (Bran Van 3000). --> Dizem que este modo foi inventado por Safo, então convém associá-lo a Afrodite e Eros.

Modo Eólio: 'Fear of the dark', 'Hallowed be thy name', 'Running Free' e 'Still Life' (Iron Maiden), 'Achilles Last Stand' (Led Zeppelin). --> Cultos a Apolo, Ártemis, Atena, Hefesto, festivais da Beócia, de Lesbos e de outras colônias gregas na Ásia menor. Odisseu esteve na ilha de Eólo, que lhe proveu com Zéfiro (vento oeste).

Modo Lócrio: primeira parte de 'Painkiller' (Judas Priest), 'Symptom of the Universe' (Black Sabbath), começo de 'YYZ' (Rush), parte principal de 'Painkiller' (Judas Priest), refrão de 'Our Truth' (Lacuna Coil). --> Culto a Perséfone e aos heróis da guerra de Tróia, festivais da Magna Grécia e de Amphissa.

Modo Jônio: 'Let It Be' (Beatles), primeira parte do 'Always With Me, Always With You' (Satriani). --> Culto a Zeus, Hera, Atena, e os demais festivais mais populares.

Agora você pode criar sua "playlist" para cada cerimônia.
;D

Renascimentos e renovações... de novo.

“Imagine, por exemplo, uma cerimônia noturna, à luz de tochas. Um garoto para ser iniciado. Ele se senta bravamente no trono. Os Curetes ou Coribantes dançam em torno dele, dando voltas e voltas, ruidosamente batendo suas espadas em seus escudos. Uma sacerdotisa toca interminavelmente flautas de tons graves. Depois de um tempo, o círculo é penetrado pelas figuras espectrais de rosto branco dos Titãs, os ancestrais do homem. Eles espreitam o garoto, refletindo um espelho diante de seu rosto. Ele segue o espelho como se estivesse hipnotizado. A música continua, fica mais selvagem, com tambores, e o zurro esquisito dos berrantes de touro. Facas cintilam pela escuridão, há gritos não-humanos, golpes/cortes e torções/puxões de membros. Eles dão voltas carregando um esquife sagrado, e todos vêem o coração quente e sangrento que ele contém. Há cheiros de carne assada. Haverá ali carne para comer; enquanto todos deploram o assassinato selvagem daquela criança inocente. Com a finalidade de consolar, uma efígie é produzida, sendo feita ou coberta de gesso natural. O coração é inserido naquele peito. Rígida, branca e sem vida, a coisa fica ali parada na luz tremeluzente. Então o milagre. Em um momento de blecaute - ou de luz ofuscante - o lugar da efígie é tomado pelo novo iniciado, ele mesmo agora está coberto com o gesso como seus antigos assassinos, e ele salta de pé, vivo e bem, pronto para entrar em sua nova vida.”
(M.L.West, 'The Orphic Poems', Clarendon Press, Oxford, 1983, pag. 163, traduzido por mim.)

Sileno com Dionísio (Museu do Louvre)

junho 22, 2009

Aos gêmeos divinos

Senhora das feras, amiga das ursas; arma meu arco como o teu crescente para que eu atire longe todo o pesar e temor. E, caso minha mira falhe, escorre tua saliva em direção às minhas feridas e cura-me em tuas peles de cor açafrão. Depois dilui-me no verde de tuas matas e torna-me mais um elemento no séquito dos seres que te dirigem todo o amor e devoção.

Luz dourada da lira, belo pastor de profecias; ilumina meus olhos para a verdade de teus oráculos. Que com o sol eu possa renascer a cada dia e refazer meu caminho seguindo a harmonia das esferas. Tu que és o 'mais grego dos deuses', enche minha vida de música, equilíbrio, pureza e perfeição.

'Ésto' (Assim seja)!

Álex

junho 17, 2009

Hare ~Evoé~ Krishna!

Trecho retirado de: "A ÍNDIA MUITO ALÉM DO INCENSO: um olhar sobre as origens, preceitos e práticas do vaishnavismo" – por Arilson Silva de Oliveira, Doutorando em História, em: Revista 'História em Reflexão'; Vol. 3 n. 5, Dourados, jan/jun 2009.

maio 30, 2009

Do amor universal


"A expressão comum é 'Eu amo você'. Mas, em vez de 'Eu amo você', seria melhor dizer 'Eu sou amor - eu sou a corporificação do puro amor'. Retirem o eu e o você, e vocês descobrirão que há apenas um amor. É como se o amor estivesse aprisionado entre o eu e o você. Retirem o eu e o você, pois eles são irreais; eles são muros auto-impostos que não existem. O abismo entre o eu e o você é o ego. Quando o ego é retirado, a distância desaparece, e o eu e o você também desaparecem. Eles mergem para se tornar um - e isso é o amor. Você confere ao eu e ao você a realidade deles. Removam esse suporte e eles desaparecerão. Então se perceberá não o 'Eu amo você', mas o 'Eu sou esse amor que envolve tudo'." (Amma)

~ Tradução minha de trecho visto AQUI. ~

maio 27, 2009

Origem dos nomes dos meses

O ano romano no calendário de Rômulo começava em março. Março é uma homenagem a Marte, deus da guerra. Em seguida vinha Abril, relacionado a Apros/Afros, de Afrodite, nome grego de Vênus. Maio seria em homenagem a Maia (amada por Júpiter e mãe de Mercúrio) e Junho homenageia Juno (Hera, para os gregos). Depois vinham os meses Quintilis, Sextilis, Setembro, Outubro, Novembro e Dezembro.

Numa Pompílio quis igualar o calendário romano com o dos gregos e fenícios e reformulou-o, instituindo Janeiro (em homenagem ao deus Janus) e Fevereiro (Februarius), que vem do latim februus, adjetivo que significa "o que purifica, purificador". No mês de fevereiro, realizavam-se cerimônias de purificação, como sacrifícios expiatórios e os ritos de purificação chamados "lupercálias". Os meses Quintilis e Sextilis foram rebatizados homenageando os dois primeiros dos doze césares: Julho (Júlio César) e Agosto (Augusto). Por isso as festas de junho são juninas e as de julho são julianas (e não 'julinas' ou 'julhinas'). Para não dar mais importância a um dos dois césares, julho e agosto têm o mesmo número de dias. É por conta desse ajuste que se teve que tirar dois dias de fevereiro e, a cada quatro anos, lhe devolver um.

Abril

A relação de aprilis com aperire (abrir) surgiu posteriormente, na vigência do calendário de Numa Pompílio, por ser abril o mês da primavera, em que "todas as coisas se abrem". Originalmente, Abril vem de Aprilis, nome de um dos espíritos que seguiam o carro de Marte, deus da guerra, que deu nome ao mês de março. Portanto, Abril não se relaciona com o latino aperire, mas com o grego Apros ou Afros, designativo de Afrodite, nome grego da deusa Vênus, ou com o sânscrito áparah, que significa "posterior", aparentado com o gótico afar ou aftra, que significa "depois" (será que vem daí o inglês after?), pois abril era o segundo mês do ano no calendário de Rômulo (daí os nomes setembro, outubro, novembro e dezembro para os meses sete, oito, nove e dez).

Lupercálias

As lupercálias eram festas em homenagem a Pã, realizadas no dia 15 de fevereiro, em que jovens saíam nus da gruta Lupercália flagelando os transeuntes com um cinto de pele de cabra chamado também lupercal , considerado capaz de eliminar a esterilidade e provocar partos felizes. O nome "Luperca" designa a loba que amamentou os gêmeos Rômulo e Remo na gruta chamada Lupercal. Na realidade, "lupus", lobo, em latim, primitivamente, não tinha feminino. A loba-animal era "lupus femina". "Lupa" designava a cortesã, daí o nome "lupanar" para designar o prostíbulo. A "lupa" que amamentou os gêmeos era, na verdade, uma cortesã chamada Aca Laurentia ou Laurentina. Os sacerdotes romanos é que "purificaram" (¬¬) a origem de Roma, atribuindo à loba-animal a amamentação dos gêmeos que fundaram a cidade.

Lupercal

Lupercus se teria originado da justaposição de lupus (lobo) com hircus (bode), mas, como era outro nome de Pã, deus dos pastores e dos rebanhos, presume-se que lupercus signifique também "o que afasta o lobo".

~ Adaptado da Revista 'Língua Portuguesa'. ~

maio 25, 2009

'Tribalista Pagão', rsrsrs!

-{Allan}-{Elfo}- diz:
eu sou de todo mundo e todo mundo é meu também!
-{Allan}-{Elfo}- diz:
falo com todos os panteões
Aleξandra diz:
rsrsrs entao vc é um 'tribalista pagão'
Aleξandra diz:

vou fazer uma paródia disso
Aleξandra diz:
kakaka
-{Allan}-{Elfo}- diz:
huhauahuahu


Paródia by Álex - 'Já sei cultuar'
(Tribalistas - 'Já sei namorar')

Já sei cultuar
Já sei fazer oferta
Agora só me resta libar
Já jogo tarô
Já sei de astrologia
Agora só me falta o tambor

Não tenho paciência para um panteão
Eu não sou exclusivo de um povo não
Eu sou de ninguém
Eu sou de todo mundo
E todo mundo me quer bem
Eu sou de ninguém
Eu sou de todo mundo
E todo mundo é meu também

Já sei entoar
Já sei abrir o círculo
Agora só me falta dançar
No meu ritual
Se você é linha reta
Eu sou mais um espiral

Não tenho paciência para um panteão
Eu não sou exclusivo de um povo não
Eu sou de ninguém
Eu sou de todo mundo
E todo mundo me quer bem
Eu sou de ninguém
Eu sou de todo mundo
E todo mundo é meu também

Tô te querendo como ninguém
Tô te querendo com o deus que vier
Tô te querendo como eu te quero
Tô te querendo como se quer...



( original aqui: http://www.youtube.com/watch?v=smwj7ISnwXM )
Se alguém tiver o karaokê, manda que a gente grava a letra da paródia em cima, rsrsrs!

maio 22, 2009

complementando o post anterior

As únicas duas coisas que o Reconstrucionismo Helênico não pretende...
Como estamos interessados na precisão história, os ritos públicos dos helênicos não incluem:
# Nenhuma das interpretações de filosofias herméticas e mágicas que emergiram durante a Renascença Européia (não as tradições por elas mesmas, mas suas interpretações da Renascença) e/ou seus modernos movimentos religiosos que desde então foram assim inspirados, tais como a Wicca, o neo-xamanismo etc.
# Ecletismo (como oposto ao histórico sincretismo; combinando o helenismo antigo com outras tradições culturais que não foram combinadas historicamente).

[daqui]
Trocando seis por meia dúzia:
* As tradições são boas, mas algumas interpretações baseadas em conveniência nem sempre são.
* Sincretismo (histórico) é uma coisa, ecletismo (combinando coisas sem um fundamento) é outra.

maio 04, 2009

Fazendo um balanço

O que mais gosto no reconstrucionismo:
- tratar os deuses como indivíduos reais (com preferências e coisas que os ofendem e com os quais você desenvolve um relacionamento de consideração mútua), não como meros arquétipos ou entidades encantadas;
- que se assemelha mais a uma maneira de abordar a religião (com um método tradicional, ou mesmo a uma comunidade de pessoas reunidas nessa abordagem) do que a uma religião;
- os rituais são simples, com velas, ofertas, preces, hinos, conhecimento da história das deidades, sem exigência de pompa e circunstância;
- os chamados "UPG" (Unverified Personal Gnosis - conhecimento pessoal não verificado) são possíveis, com os deuses nos revelando coisas antes desconhecidas;
- que os deuses esperam que pensemos sozinhos e busquemos a máxima de "conhecer a si mesmo" e não o seguir o que alguém nos diz;
- o fato de ele ter me dado o estudo que eu precisava para formar uma base sólida de princípios.

O que não gosto que pensem do reconstrucionismo:
- que é uma reencenação de uma sociedade que terminou e não uma fé viva;
- que se trata apenas de estudo e análise e filosofia e retórica, com pouca prática;
- que se interessa mais pela cultura do que pelos deuses;
- que imediatamente classifica os não-reconstrucionistas como ecléticos que desrespeitam as tradições e só compram livros do tipo 'new age' feliz e fofinho (o que não é verdade, cada pessoa é um caso);
- que somos obrigados a cultuar os Doze igualmente, o que seria praticamente impossível (como um nômade se conectaria profundamente com Héstia? e como às vezes parece que uma deidade está nos mandando não se meter com certos assuntos? e pra que serviriam então os patronos? e as identificações naturais que temos com um ou outro deus individualmente?), há uma diferença entre respeito e adoração - se você e uma deidade não se dão muito bem, tentar criar um relacionamento com ela através de adoração é até falta de respeito (ao Seu desejo já expresso);
- que não permite que você cultue outro panteão, uma vez que isso pode sim ser feito desde que separadamente, com "cada um no seu quadrado", o caso contrário (de misturá-los no mesmo rito ou abordá-los como sendo os mesmos deuses) é que é problemático;
- que romantizamos o passado como se fôssemos saudosos daquela época e rejeitássemos a atual (ora, nenhuma época ou povo foi ou será perfeito, já que sempre há seres humanos -imperfeitos- dentro dela).

O que me afasta um pouco do reconstrucionismo (mas nem por isso me leva pro ecletismo):
- quando minha sede de saber e de estudo me leva a alargar meu foco e conhecer outras coisas que não entram na prática helênica tradicional.

Contabilizando os mortos e feridos, concluo que:
- há mais coisas que NÃO me adapto dentro do ecletismo do que dentro do reconstrucionismo, e meus interesses não são do tipo de ficar entre essas duas coisas, mas sim de olhar fora e longe desse pedaço grego e ocidental de mundo, então fica mais fácil me manter reconstrucionista no helenismo e ter outras práticas fora dele (que não se imiscuam nem possam confundir alguém que me visse realizando um rito);
- meus interesses vêm e vão, como as tantas vertentes pelas quais já passei e pratiquei e ainda me seduzem, mas o que tem ficado e o que me guia são os preceitos gregos mesmo;
- sou uma pessoinha que (entre perdas e buscas) vive se (re)encontrando, rsrsrs.

maio 02, 2009

Triplamente Feliz

Estou lá eu em um museu de arte e cultura, onde fomos olhar coisas barrocas para a aula de literatura, e do nada encontro três estátuas grandonas (do tamanho de um adulto mais alto do que eu) de Ceres, Mercúrio e Minerva no jardim. O guia/monitor disse que elas originalmente estavam em uma fábrica antiga e as levaram para lá, mas nem ele soube explicar porque elas existiam. E ele só sabia que eram deuses, eu que tive que dizer para ele quais eram. Semana passada eu tinha feito papel de Vênus de "Os Lusíadas" na faculdade (aliás, teve uma menina de outro semestre que veio falar comigo muito admirada porque disse que viu uma própria deusa grega no palco), então hoje, quando meu amigo virou e disse "Olha você ali!" apontando para a estátua, eu disse "não, aquela é Minerva (Atena), não Vênus" e ele "não, mas não é por isso, é pelo rosto, é igualzinha você; se tirar o capacete, fica a sua cara", ao que eu respondi "ah, mas ela é minha patrona mesmo", ainda que ele não entendesse do que eu estava falando. Fiquei feliz com o comentário que confirma o que outras pessoas já tinham me dito, ainda mais vindo de alguém que não sabe da minha paixão pelos deuses. Ele desconhece, mas Eles não... ;D

O que disse a menina me deixou feliz, o que disse o colega me deixou feliz, e a notícia de que uma grande amiga está melhorando de saúde foi a terceira coisa feliz deste fim de semana. =))

abril 27, 2009

Seguindo os sinais

Este mês tive uns sonhos com alguém que não via há muito tempo e acabei procurando saber da pessoa, descobrindo que estava com uma doença grave e precisava da única ajuda que posso dar à distância, a espiritual. Fiquei feliz por ter seguido meus sonhos e intuições em vez de ser orgulhosa e não ir atrás. Quando atendemos a esses avisos que na hora não entendemos, acabamos tendo a compreensão posterior dos mesmos.

E, por falar em sonhos, também este mês me dei conta de que o nome dado ao ursinho de pelúcia que dorme comigo - Órion - é anagrama de Oniro ("sonho", em grego). Nada mais propício, rsrsrs.

Às vezes não sabemos de onde vêm os sonhos, os presságios, as intuições, as visões, as imagens em estado meditativo, os encontros estranhos, as impressões de termos sido chamados, a sensação de uma presença etc. Então esbarrei num artigo que nos auxiliar a clarificar um pouco quem resolveu falar conosco afinal. Traduzo-o e resumo-o aqui, do meu jeito. O original completo em inglês é de Anya Kless e está no blog "The Gods' Mouths". Eis:

1. Verifique se trata-se mesmo de um(a) deus(a).
Muitas coisas podem bagunçar com o reino humano além de uma deidade, incluindo ancestrais, anjos, demônios, espíritos errantes e tal, especialmente se você for medium. Espíritos podem se mascarar de deuses ou de outros espíritos de forma bem convincente. Como saber? Leia os sinais e presságios, consulte métodos divinatórios, principalmente com outras pessoas (mesmo que você leia tarot e oráculos, às vezes só vemos o que queremos ver, é bom ter uma opinião de fora).

2. Descubra quem é e o que quer.
Às vezes os sinais são bem claros, pra onde você olha você vê o nome ou imagem dele(a), como se os livros saltassem da estante. Nessa hora, em termos de iconografia, o panteão que trabalhamos pode nos confundir um pouco, fazendo-nos achar que se trata de Hermes quando era Mercúrio ou Loki, por exemplo. Uma boa alternativa para não se confundir é você checar como uma deidade tem costumeiramente aparecido para as outras pessoas e ver se combina com a sua experiência com ela. Consultar uma leitura oracular ou pesquisar sobre as deidades também é útil. Procure respostas em lugares improváveis, e pense bem antes de chegar a uma conclusão.

3. Saiba que há muitos tipos diferentes de relações dos deuses com os humanos.
Vocês podem ter um acordo de professor/aluno, mestre/servo, pai/filho, padrinho/afilhado, arquiteto/instrumento, amantes, esposos, amigos etc. E essas relações podem mudar ou se desenvolver com o tempo. Assim como a identidade da deidade, também é fácil se confundir aqui, até porque Ele(a) pode ter uma variedade de papéis conosco, o que nos exige uma variedade de ações e treinamentos. E nada disso é simples.

4. Saiba que você pode ter múltiplos relacionamentos com deuses em permutações bem diferentes.
Você pode - por exemplo - ser servo de Odin, aluno de Loki, filho de seus ancestrais, e eles podem esperar coisas diferentes de você, mas a obrigação que você tem com um não te exime daquelas que você tem com os outros.

5. Nem tudo é diversão e festa.
Se você teve sorte de ter um período de "lua de mel" no relacionamento com Eles, aproveite. Eles vão te apanhar com o que puderem, seja atenção, romance, poder, conhecimento, habilidade, experiência próxima à morte, instabilidade mental, tudo o que te desviar a atenção das coisas que não tenham a ver com Eles. E isso não é exatamente por você, mas porque Eles querem que você faça algo significativo. É aí que você vai ter que enfrentar seus medos e inseguranças, e não vai adiantar se você resistir, tentar ignorar ou se comportar mal. Se fizer isso, Eles te tirarão coisas, te chamarão a atenção e te darão lições para você parar de pensar que está melhor sem Eles. Há algumas deidades que, em vez de nos mostrar o caminho, preferem destruir tudo o que não seja parte desse caminho, e é melhor aceitar e aprender a utilidade disso do que tentar ir contra uma energia destrutiva.

6. As interações dEles com você podem não corresponder às suas expectativas e desejos.
Se você aceitou o serviço, eles não ligam se você gosta ou não do emprego. Você pode chorar, espernear, falar que está insatisfeito, proferir ameaças, mas vai acabar fazendo o que tem que fazer. E nem vai ser besta de tentar negligenciar as coisas ou trair a confiança dEles. Está certo que esse é um emprego que "paga bem", porque as recompensas são incontáveis, mas se trata de um cargo de muita responsabilidade, então não assuma a vaga como algo já seu e seguro, sem precisar fazer nada para mantê-la.

abril 26, 2009

Divagando (sobre sacrifícios)

Estive pensando nas várias formas de se fazer sacrifícios. A palavra costuma carregar um sentimento de fardo, de fazer uma coisa chata ou ruim em prol de algo maior. Mas eu prefiro pensar nela no sentido de "sacro ofício", trabalho sagrado, de sacralizar alguma coisa, usar algo como maneira de agradar o divino e de nos iluminar.

Não há meios mais fáceis ou difíceis de se fazer sacrifícios, isso depende de cada pessoa, para alguns é mais fácil abrir mão de algo físico, para outros é mais fácil queimar ofertas num altar no quintal, mas tudo é digno. O sacrifício muitas vezes demanda certa "dor" e causa mudanças em quem somos e no tipo de relacionamento que temos com as deidades. Quanto mais difícil de fazer (afinal, se sacrifício fosse fácil, todos estariam fazendo, e não veriam a palavra com essa conotação tão custosa) e quanto mais feito com o coração, mais válido ele se torna.

Nós podemos sacrificar (tornar sagrado) nosso tempo, nos disciplinando em utilizá-lo para uma prece ou rito, por exemplo, com toda a atenção na execução dos mesmos. Podemos cuidar do nosso corpo, já que estarmos saudáveis influencia na nossa disposição para as coisas que precisamos realizar em favor dos deuses. Podemos aceitar certas coisas que não conseguimos mudar (e oferecer isso a Eles) simplesmente porque elas não deveriam mudar e um dia entenderemos porque tinha que ser assim. Enfim, há vários tipos de sacro-ofício.

É bom lembrar que não se trata de fazer algo desconfortável ou inconveniente, porque fazer algo pelos seres que tanto nos deram coisas boas nunca será desconfortável ou inconveniente. Nós o realizamos felizes, pois sabemos as recompensas que recebemos dEles, as quais - na maioria das vezes - vêm de onde menos esperamos. E essas coisas acontecem porque fazemos nossa parte.

De certa forma, sacrifício tem a ver com deixar de lado sentimentalismos, egos, desejos, caprichos, e colocar as deidades no centro da sua vida, permitindo que todo o resto flua a partir desse centro, que é sagrado.

E o legal disso é que os deuses não vão ficar pensando que você está dando presentes demais, que você está sufocando Eles, que está com segundas intenções egoístas ou algo assim. [Até porque sabemos que Eles não precisam de nossos presentes e que os presentes não Lhes serviriam como pagamento de nada, o importante é a intenção dentro do nosso relacionamento com Eles.] Mas é como falei, precisamos fazer a nossa parte, não apenas esperar que tudo venha deles e responsabilizá-los totalmente pelo que nos acontece.

Aliás, é preciso lembrar que, por serem reais (e não apenas arquétipos ou seres imaginários), Eles têm gostos e vontades. Eles não são sempre os mais legais e nem sempre fazem muito sentido para nós. Às vezes nos debatemos tentando entender incongruências nas coisas que Eles nos trazem e/ou dizem. Principalmente entre si, quando um espera de nós uma coisa e o outro espera que façamos o oposto (vide o caso de Orestes). Tem horas que a gente simplesmente não pode recuar e tem que tomar uma atitude ou decisão. Só que o resultado pode ser uma surpresa... e bem satisfatória, por sinal.

Chega a ser perigoso você achar que os deuses são sempre bonzinhos e nunca irão te forçar a nada, porque assim você não se prepara e provavelmente vai ver muita coisa como "falta de sorte". As coisas sagradas não são sempre compreensíveis e seguras. Assim como torná-las sagradas (pelo sacrifício) não é algo que nos dê certezas.

Acho que eu mesma devo ter parecido meio incongruente durante esse texto - deve ser a convivência com Eles, hehehe! Mas enfim, acabei postando assim mesmo, talvez sirva-nos de reflexão para alguma coisa.